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Oscar 2021: o ano recorde em representatividade e filmes independentes

Mandatory Credit: Photo by Andrew H Walker/Shutterstock (8434891ne) Barry Jenkins after 'Moonlight' is named as 'Best Picture' winner 89th Annual Academy Awards, Backstage, Los Angeles, USA - 26 Feb 2017

E finalmente, depois do mais longo período de campanha de sua história, a 93ª edição do Oscar acontece neste domingo (25). Muitas eram as dúvidas sobre se haveria filmes elegíveis o suficiente ou sobre como seria realizada a tradicional cerimônia. Contudo, após diversas adaptações tomadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a edição promete ficar na história não só pelo contexto pandêmico, como também pelo recorde de representatividade e o reconhecimento de produções mais independentes.

Pela primeira vez, a Academia permitiu que disputassem filmes que foram exibidos exclusivamente na internet, privilegiando o destaque das plataformas de streaming como Netflix, que concorre por 35 estatuetas. Ao contrário do que se esperava em tempos de paralisação de filmagens, o número de filmes elegíveis este ano (366) foi na verdade o maior desde 1971, muito devido ao abrandamento das regras de inscrição, segundo a Folha de Pernambuco.

Para fugir da baixa audiência das premiações que optaram pela entrega remota, o Oscar decidiu pelo presencial, mas dividiu sua festa entre o clássico Dolby Theater e a Union Station, estação ferroviária no centro de Los Angeles. O teatro será usado para as apresentações musicais ao vivo, que acontecem antes da premiação no Oscar: Into the Spotlight. Já a estação será transformada em um palco com capacidade para 170 pessoas simultâneas (que alternarão com outras durante a cerimônia), espalhadas em pequenas mesas.

A organização em modelo intimista remete naturalmente às origens da cerimônia em 1929, quando 270 convidados se reuniram para um jantar no hotel Hollywood Roosevelt, e às premiações mais despojadas como o Globo de Ouro, que também usa a divisão de mesas.

A estação de trem Union Station, em Los Angeles, passa por adaptações para receber o evento (Foto: Valerie Macon/AFP)
A estação de trem Union Station, em Los Angeles, passa por adaptações para receber o evento (Foto: Valerie Macon/AFP)

O Oscar Intimista

O intimismo da cerimônia parece também ser uma marca das obras em disputa este ano, tanto em aspectos de produção quanto narrativos. Esse é o ano das histórias contidas, como uma filha cuidando do pai idoso, uma família de imigrantes coreanos buscando viver nos EUA, a adaptação em uma comunidade de surdos ou a vida nômade de desempregados no oeste americano.

A média de orçamento dos oito longas indicados a Melhor Filme é de 14 milhões de dólares, contra 64 milhões do ano passado. Cinco dos oito candidatos ao prêmio vieram também da disputa no Spirit Awards, premiação do cinema independente americano. Os únicos que fogem desse padrão são Judas e o Messias NegroOs 7 de Chicago e Mank, nova obra de David Fincher e recordista com 10 indicações, mas que pode ser o azarão do ano de acordo com sua performance até aqui.

Nomadland, que custou apenas 5 milhões, é o franco favorito para levar o grande prêmio da noite, já tendo sido eleito como Melhor Filme no Bafta, Globo de Ouro, Festival de Veneza, Critic’s Choice, Spirit e PGA. O longa independente acompanha a jornada de uma mulher que, após perder seu emprego na recessão de 2008, leva a vida dentro da sua van, migrando entre trabalhos temporários pelo oeste americano. A obra é inspirada em um livro-reportagem que estuda a vida de idosos que tiveram que se adaptar à vida nômade e trabalhos precários pela falta de seguridade social. Para a adaptação, a equipe trouxe diversos personagens da reportagem interpretando a si mesmos, o que contribuiu para o tom documental e reflexivo.

Adiamentos do Oscar

Tradicionalmente marcada para a segunda quinzena de fevereiro, a data do Oscar 2021 foi alterada para 25 de abril devido a pandemia da Covid-19. Contudo, esse adiamento não é algo inédito. A cerimônia já foi alterada em três outras situações:

– Em 1938, devido a inundações em Los Angeles;

– Em 1968, em respeito à morte de Martin Luther King Jr.;

– E em 1981, devido à tentativa de assassinato do presidente americano Ronald Reagan.

Todas essas mudanças, porém, geraram atrasos entre um dia e uma semana, fazendo com que este ano seja o recordista em adiamento de sua história, com 56 dias.

A edição com maior representatividade

Com a paralisação dos grandes estúdios, abriu-se um espaço na indústria para os filmes independentes, que costumam retratar diferentes temas e grupos sociais sem a pressão mercadológica do retorno financeiro, o que consequentemente ampliou a diversidade em tela. Segundo o Hollywood Diversity Report de 2020, mulheres e minorias étnicas foram representadas de forma proporcional à população dos Estados Unidos pela primeira vez na história. O relatório contabilizou 48% de papéis principais femininos, levemente abaixo da fatia populacional, e 40% de protagonistas não brancos nos principais filmes do ano, uma grande evolução comparado com os 10,5% de uma década atrás.

Esse aumento teve reflexo direto no Oscar desse ano, mas não foi o único responsável. Uma conjuntura de fatores já em andamento levou esta a ser a edição mais inclusiva da cerimônia em seus mais de 90 anos. Em 2015, a ausência de atores não brancos entre os vinte indicados nas categorias de atuação deflagrou críticas através do mote #OscarsSoWhite, que exigia o reconhecimento das produções vindas das comunidades negras e latinas, principalmente.

Já no ano de 2017, Hollywood teve que lidar com mais uma crise após as denúncias de abuso do produtor Harvey Weinstein, que uniu diversas mulheres no movimento #MeToo em prol da defesa e da valorização delas em todos os setores da indústria cinematográfica.

No meio termo entre os dois grandes movimentos, a Academia revelou que dos seus 6.000 membros 93% eram brancos e 76% eram homens, com idade média de 63 anos. Sob forte pressão, foi prometido na época dobrar a representatividade dos integrantes, algo alcançado apenas no ano passado, com 33% de mulheres e 19% de “minorias sub-representadas” entre os membros.

Chloé Zhao pode se tornar a segunda diretora a vencer na categoria por seu trabalho em 'Nomadland' (Foto: AFP)

Chloé Zhao pode se tornar a segunda diretora a vencer na categoria por seu trabalho em ‘Nomadland’ (Foto: AFP)

Hoje, o Oscar colhe os frutos desse início de reformas promovido por esses movimentos. São ao todo 76 indicações para mulheres, número recorde da premiação. Também é a primeira vez em que mais de uma mulher concorre na categoria de Melhor Direção, com a chinesa Chloé Zhao (Nomadland) e a britânica Emerald Fennell (Bela Vingança) na disputa para se tornarem a segunda diretora a vencer a categoria, tendo sido Kathryn Bigelow a primeira apenas em 2010 por Guerra ao Terror.

Chloé novamente é favorita, mas mesmo se não ganhar, já fez história como a primeira mulher a concorrer em quatro categorias no mesmo ano: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição.

A categoria de Melhor ator conta com os ineditismos de Steven Yeun (Minari), como primeiro descendente de asiático, e Riz Ahmed (O Som do Silêncio), como primeiro muçulmano indicado na categoria. Apesar disso, o mais provável é que Chadwick Boseman, falecido em agosto de 2020, se consagre por seu papel em A Voz Suprema do Blues. Caso vença, ele vai se tornar o terceiro ator a receber um Oscar póstumo, junto com Peter Finch por Rede de Intrigas e Heath Ledger por Batman: o cavaleiro das trevas.

Nos coadjuvantes, a previsão é que Daniel Kaluuya (Judas e o messias negro) e a coreana Yuh-jung Youn (Minari) seja a dupla vencedora. Uma surpresa pode acontecer se a Academia decidir premiar Glenn Close (Era uma vez um sonho), como reparação pelas suas oito indicações sem vitória, mas chegaria com um gosto amargo, visto que seu papel também foi apontado no Framboesa de Ouro como pior atuação do ano.

Debate sobre pessoas com deficiência

Uma causa que acaba sofrendo com a falta de atenção em meio aos debates identitários é a dos direitos das pessoas com deficiência. O Som do Silêncio é o representante na categoria principal a falar sobre o tema, ao contar a história de um baterista (Riz Ahmed) de metal com perda auditiva que se refugia em uma comunidade de surdos enquanto lida com sua nova realidade. Uma das 6 indicações do longa ficou para o trabalho de coadjuvante de Paul Raci, criado por pais surdos e grande ativista da inclusão PcD dentro de Hollywood.

Em 'O Som do Silêncio', Riz Ahmed dá vida aos conflitos de aceitação de um baterista com perda auditiva (Foto: Divulgação)
Em ‘O Som do Silêncio’, Riz Ahmed dá vida aos conflitos de aceitação de um baterista com perda auditiva (Foto: Divulgação)

A maior chance do filme, porém, está nos elogios recebidos pelo seu trabalho sonoro, o que pode garantir a estatueta na categoria de Melhor Som, que até o ano passado era separada entre edição e mixagem. A unificação vem apoiada pelos técnicos de ambas as categorias que sempre trabalharam conjuntamente, e como forma de abrir espaço para uma nova categoria a se estrear no próximo ano.

A 93ª edição parece ser um marco divisor para essa luta também. Outros representantes são o documentário Crip Camp, que retrata um acampamento de verão para pessoas com deficiência na Nova Iorque de 1971, e o curta-metragem Feeling Through, que, segundo os realizadores, conta com a primeira pessoa surda e cega a protagonizar um filme. O curta, que é protagonizado pelo ator estreante Robert Tarango, também conta com a produção executiva de Marlee Matlin, primeira atriz surda a ganhar um Oscar, em 1987, pelo filme Filhos do Silêncio.

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