O governo do Amazonas estima que a crise no sistema de saúde do estado poderá ser agravar ainda mais nas próximas semanas e que, em fevereiro, a demanda por oxigênio hospitalar deverá ser pelo menos 70% maior do que em 14 de janeiro, dia em que faltou oxigênio em unidades hospitalares da capital. A informação foi dada pelo governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), ao GLOBO.
A tendência, ele diz, é que a intensificação da temporada de chuvas na região faça surgir casos de outras doenças além da Covid-19, o que pressionaria ainda mais o sistema de saúde local. Lima afirma que o governo projeta uma demanda de até 120 m³ de oxigênio hospitalar por dia. No dia do pico, o consumo foi de 70 mil m³.
O Amazonas vive uma das piores crises sanitárias de sua história. Nas últimas semanas, houve aumento acelerado no número de casos de Covid-19, o que elevou o número de internações nos hospitais da capital e do interior. Em Manaus, onde estão concentrados todos os leitos de UTI do estado, o oxigênio hospitalar acabou. Há relatos de que dezenas de pacientes internados teriam morrido por falta de oxigênio. O problema também teria afetado pessoas que faziam tratamento em casa e que não conseguiram comprar oxigênio hospitalar.
Segundo o governador Wilson Lima, a expectativa é de que a procura por internações deva aumentar por conta da intensificação da temporada de chuvas em Manaus, época em que, segundo ele, outras doenças respiratórias também pressionam a demanda pelos hospitais.
— A gente espera uma situação difícil para fevereiro. Com as chuvas, a gente normalmente tem um aumento de doenças respiratórias, não apenas de Covid-19. Isso pode pressionar o nosso sistema de saúde — afirmou o governador.
Falha na logística de oxigênio pode ter consequências
Lima afirma que esse aumento na demanda por internações deverá fazer disparar o consumo de oxigênio hospitalar no estado.
— A gente fez uma projeção, e devemos ter dias bem difíceis pela frente. No ritmo em que a gente está, temos, só na rede pública, uma demanda de 65 mil m³ por dia. No mês de fevereiro, a gente estima que vamos precisar de 120 mil m³ — explica.
A expectativa em torno do aumento de consumo de oxigênio hospitalar também consta de um ofício enviado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM) ao Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas no dia 19. Nele, a pasta faz uma estimativa de que, nos próximos dias, a demanda pelo produto seria de aproximadamente 104 mil m³ por dia.
O governador disse que o abastecimento de oxigênio dos hospitais do estado está normalizado, mas que, diante da projeção de aumento na demanda, o estado vai continuar precisando do envio de cargas extras do produto por avião, caminhão ou balsas.
— Nossa capacidade de produção é de pouco mais de 28 mil metros cúbicos. Para garantir esse consumo projetado, só com cargas extras. Qualquer falha na logística pode ter consequências — afirma o governador.
Lima disse que a situação no Amazonas só deverá ser normalizada em 30 dias, com a operação de mini-usinas de oxigênio distribuídas para municípios do interior e que também vão equipar um hospital de campanha em Manaus. Ele diz, no entanto, que já haveria alguns sinais de melhora nas taxas de enterros e de internações. Segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), o número de internações por dia em hospitais de Manaus caiu 40% na quinta-feira em relação ao pico da pandemia, no dia 14 de janeiro, saindo de 254 para 152.
Mesmo assim, a taxa de ocupação de leitos de UTI destinados a pacientes com Covid-19 em Manaus continua alta: 94%. A taxa de ocupação de leitos clínicos na cidade é de 98%.