“Age apenas segundo uma máxima tal que possas querer ao mesmo tempo que se torne uma lei universal.” (Immanuel Kant)
Na dúvida, não ultrapasse (Denatran)
Caro leitor, hoje escolhi refletir sobre um tema que muito me incomoda, e certamente a você também, a conduta dos motoristas nas vias de nossa querida Manaus. Faço uma analogia entre o trânsito das ruas e como na vida em geral os comportamentos se relacionam. Sempre vi a conduta de boa parte de nossos condutores como um reflexo ou mesmo um termômetro do que se vê nas estradas e vias de nossa cidade.
O vai e vem da frenética vida de uma grande cidade como Manaus parece apagar valores indispensáveis que uma convivência sadia exige, cooperação, respeito aos concidadãos, diálogo mútuo, responsabilidade e zelo com a coisa pública, compreensão. Nas normas de trânsito brasileiras existe a exigência da direção defensiva, que em outras palavras poderíamos chamar de direção respeitosa. No entanto, não é sempre o que acontece.
Não raras vezes os ânimos e temperamentos estão exaltados, dando margem para a falta de paciência e empatia que acabam gerando vários problemas e conflitos, alguns banais, outros com consequências mais sérias. Trazendo esta realidade para uma reflexão mais profunda, podemos afirmar que de certa forma a vida é como uma grande estrada, onde cada pessoa segue seu caminho, encontrando diferentes trajetos, cruzamentos e desafios. Estes índices podem se multiplicar se forem associados ao uso do álcool e entorpecentes.
Para agravar ainda mais a situação que já não é das melhores, muitos condutores aderem ao uso do celular enquanto estão dirigindo. Agir desta forma compromete consideravelmente a atenção e o tempo de reação e capacidade de tomar decisões. O que nos coloca a todos em grave e potencial risco, denotando assim pouco cuidado com os demais, uma atitude tosca e inconsequente.
Conduzir um veículo não significa apenas o fazer se movimentar para satisfazer os meus interesses e necessidades. Trata-se de uma tarefa extremamente delicada que exige de nós toda a atenção e cautela. Pois, envolve outras pessoas, outras vidas, envolve um direito, o de ir e vir, que não é uma exclusividade só minha, mas de todos os outros cidadãos. Portanto, que seja conduzido fundamentalmente com profundo zelo ético e muita responsabilidade.
O trânsito da convivência humana tem seu reflexo no trânsito de nossas vias e estradas, assim como no trânsito real, onde a atitude e postura preferencial deve sempre a ser do respeito mútuo. O que significa equilibrar atitudes, valores e comportamentos para garantir um percurso mais seguro, harmônico e justo para todos. Infelizmente, nem sempre é o que vemos, pois para muitos, o outro é um obstáculo, e nesta ideia o que paira no subconsciente é de que obstáculos precisam ser eliminados. Daí muitas vezes certas atitudes serem tão egoístas, com pouco espírito de ordem e de cidadania, o que torna nossas ruas em uma verdadeira arena de gladiadores.
Entendemos que respeitar o outro vai além de simples regras de convivência. Trata-se de um compromisso com a dignidade humana, com a empatia e com a construção de relações saudáveis. Assim como no trânsito, onde direção defensiva e atenção evitam acidentes, no dia a dia, atitudes responsáveis e éticas previnem conflitos, injustiças e desentendimentos. Não se trata apenas de possuir um Código de Trânsito, mas que se entendam e defendam de fato os verdadeiros valores que devem pautar nossas condutas.
Se faz necessário que o Estado e a população desenvolvam uma parceria muito próxima e, ao mesmo tempo, eficiente. Trata-se de educar e reeducar nossos condutores, de maneira periódica, com campanhas, leis, uma comunicação eficiente, sempre alinhados no que diz respeito aos riscos, objetivos, como ao fato de que se tratam de vidas humanas e que esteja de fato atentando para a natureza e importância valores e atitudes necessários para que se alcance estes objetivos. E claro, sempre aprender com quem já faz certo e possui bons resultados.
No campo da filosofia ética há esta ideia da necessidade do equilíbrio entre liberdade e responsabilidade, isto é inegável e inegociável. No trânsito, não basta ter o direito de seguir em frente, não se trata de pensar apenas em si, nem em achar que eu sou o centro de todas as prioridades. O filósofo Kant defendia que devemos agir apenas segundo uma máxima que possa se tornar uma lei universal. Ou seja, antes de tomarmos uma atitude, devemos nos perguntar: E se todos fizessem o mesmo? Quais seriam os benefícios e as consequências?
Aplicado ao trânsito significa que cada motorista, pedestre ou ciclista deve agir com responsabilidade, não apenas por medo de punição, mas porque respeitar as regras é um dever ético e moral. Se todos respeitassem os sinais, limites de velocidade e a prioridade dos outros, haveria menos acidentes e uma convivência bem mais ordeira e harmoniosa sem letalidade e prejuízos para nossos semelhantes.
Nós condutores sabemos e aprendemos que é preciso estar atento aos pedestres, ciclistas e motoristas ao redor. Da mesma forma, na convivência social, cada um tem suas opiniões e escolhas, mas é fundamental agir com tolerância, diálogo e senso de coletividade. Somente assim, tanto na vida em geral quanto no trânsito estaremos no caminho correto para tomada de tomar decisões conscientes. Pequenos gestos, como dar passagem, respeitar o espaço do outro e agir com paciência, fazem a diferença tanto no asfalto quanto no dia a dia. Afinal, quem conduz a vida com respeito pavimenta um caminho mais seguro e humano para todos.
Por Sérgio Bruno
É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.