Segundo levantamento realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 140 pessoas trans brasileiras foram assassinadas em 2021. Ainda de acordo com o relatório, divulgado pela associação nessa sexta-feira (28), em cada 10 homicídios contra trans no mundo, quatro ocorreram no Brasil.
Bruna Benevides, mulher trans que, pelo quinto ano, produziu o dossiê sobre a violência contra essa população, afirma que vive sobre uma tolerância muito frágil. “As pessoas têm medo de se aproximar das pessoas trans/travestis. Somos vistas como ameaça”, disse em entrevista à Agência de Notícias da Aids.
O relatório da Antra traz dados detalhados sobre assassinatos e violências contra pessoas trans. Das 140 assassinadas em 2021, 135 eram travestis e mulheres transexuais e 5 eram homens trans e pessoas transmasculinas. Em relação a estado ou região, São Paulo foi onde mais mortes foram registradas, com 25 casos. O Sudeste, pela primeira vez desde que o relatório é feito, lidera o ranking de região com 35 assassinatos.
A idade das vítimas também é um marcador importante para a associação, “tanto pela preocupação do quanto a juventude trans vem sendo assassinada cada vez mais cedo, quanto pelos impactos nas futuras gerações”, o relatório explica. Em 2021, registrou-se a vítima mais jovem de que se tem conhecimento nos cinco anos de pesquisa da Antra: Keron Ravach, de 13 anos, foi assassinada a pauladas na primeira semana do ano, no Ceará.
De acordo com a ONG Transgender Europe (TGEU), essa foi a vítima mais jovem do mundo em 2021. Ainda de acordo com a TGEU, o Brasil continua sendo o país onde mais se matam pessoas trans e travestis, seguido pelo México e os Estados Unidos.
A partir da análise de imagens e perfis, a Antra ainda aponta que 81% das vítimas eram travestis ou mulheres trans negras – pretas e pardas –, quadro que mantém o perfil dos últimos anos. Além disso, 78% dos crimes se dirigiram a travestis e mulheres trans profissionais do sexo, em sua maioria atuando nas ruas. Não por coincidência, 77,5% dos casos aconteceram em espaços públicos.
Esse quadro se relaciona à empregabilidade da comunidade. Estima-se que: apenas 4% da população transfeminina se encontra em empregos formais; 6% estejam em atividades informais e subempregos; e 90% da população de travestis e mulheres transexuais utilizem a prostituição como fonte primária de renda.
Para Bruna Benevides, para que existam mudanças, é preciso mudar a imagem de abjeção e medo em relação a essa população. “Precisamos de uma visibilidade que saia desse paradigma da dor, da violência. E não é só pegar casos excepcionais, de pessoas que se deram bem na vida. É um processo que envolve um esforço de toda a sociedade”, explicou. “As pessoas trans que são assassinadas já são vistas como culpadas acima de qualquer coisa. Independente do que lhes aconteça. É isso que precisa ser vencido.”