*Da Redação do Dia a Dia Notícia
Estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta uma disparidade alarmante entre os rendimentos de trabalhadores negros e não negros no Brasil. A pesquisa revela que, ao longo da trajetória profissional, os trabalhadores negros recebem, em média, R$ 899 mil a menos do que seus colegas não negros. Este dado reflete a persistente desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro, sendo ainda mais acentuado entre aqueles com ensino superior, onde a diferença salarial chega a R$ 1,1 milhão.
A discriminação racial no ambiente de trabalho contribui significativamente para essa disparidade. O Dieese aponta que a desigualdade de renda cresce à medida que os profissionais negros avançam em suas carreiras, resultando em um rendimento médio 40% inferior ao dos trabalhadores não negros. Esse cenário é reflexo das barreiras sociais e econômicas que a população negra enfrenta, o que limita suas oportunidades de ascensão profissional e o alcance de cargos mais bem remunerados.
Desafios específicos para mulheres negras
A desigualdade salarial também se manifesta de forma mais incisiva nas diferenças entre homens e mulheres negras. O rendimento médio de uma mulher negra é de R$ 2.079, enquanto uma mulher não negra recebe R$ 3.404, uma diferença de R$ 1.325. Entre os homens, a discrepância também é grande: os homens negros recebem, em média, R$ 2.610, enquanto os não negros recebem R$ 4.492. Este quadro reflete uma combinação de discriminação racial e de gênero, que coloca as mulheres negras em desvantagem tanto no mercado de trabalho quanto na divisão de tarefas e responsabilidades dentro da sociedade.
Desemprego e informalidade
Outro ponto destacado pelo estudo do Dieese é a alta taxa de desemprego entre os negros. No segundo trimestre de 2024, a taxa de desocupação foi de 8% entre a população negra, enquanto para os não negros esse índice foi de 5,5%. Essa diferença evidencia as dificuldades adicionais enfrentadas pelos negros para conseguir uma colocação no mercado de trabalho, mesmo em um cenário de recuperação econômica, como o atual.
Além disso, a informalidade é um problema crescente entre a população negra. O Dieese revela que 45,2% dos negros empregados estavam em situações informais, o que implica em baixos rendimentos, falta de direitos trabalhistas e uma maior vulnerabilidade social. Entre as mulheres negras, esse percentual é ainda mais alto: 45,6% trabalhavam sem carteira assinada, o que representa uma grave preocupação em termos de inclusão e proteção social. Para comparação, entre os trabalhadores não negros, o índice de informalidade era de 34%.
A baixa representação em cargos de liderança
A população negra também enfrenta dificuldades em ascender a cargos de liderança. De acordo com o estudo, negros ocupam apenas 33% dos cargos de gerência e direção no país, um reflexo da exclusão estrutural que impede o acesso aos espaços de poder e decisão. A disparidade se torna ainda mais evidente quando se observa que, para cada 48 homens negros empregados, apenas um ocupa um cargo de liderança, enquanto a proporção entre os brancos é de um líder a cada 18.
Concentração nas profissões de baixo salário
A presença da população negra nas profissões mais bem remuneradas do país é baixa. Os negros representam apenas 27% dos trabalhadores nas 10 profissões mais bem pagas, enquanto ocupam 70% das vagas nas 10 profissões com salários mais baixos. Um exemplo claro dessa desigualdade é a ocupação de mulheres negras como empregadas domésticas. Uma em cada seis mulheres negras trabalha nesse setor, recebendo em média R$ 461 a menos do que o salário mínimo de R$ 1.412. Esse cenário revela a falta de acesso das mulheres negras a oportunidades de trabalho formal e remunerado de maneira justa.