*Carolina Givoni – Da Revista Cenarium
MANAUS – Especialistas religiosos comentam à Revista Cenarium sobre rumores da conversão religiosa de Zé Roberto, um dos fundadores da facção criminosa Família do Norte (FDN). O fato viralizou nas redes sociais nesta sexta-feira, 8, após um pastor evangélico afirmar que o traficante entregou uma carta ‘desistindo’ do mundo do crime.
O pastor da Assembleia de Deus, Marcos Rodrigues, explica que apesar da boa vontade, o condenado a cumprir mais de 130 anos de prisão, a lei divina não influencia na justiça terrena. “O fato dele aceitar Jesus não elimina os crimes na terra. O que ele fez, está feito. Claro que ele pode se arrepender e será perdoado pelo sangue do cordeiro. Mas as leis dos homens têm que ser cumpridas”, diz o religioso.
Para o coordenador-geral da Articulação Amazônica dos Povos e Comunidades Tradicionais de Terreiro de Matriz Africana (Aratrama), pai de Santo Alberto Jorge, a redenção não elimina a culpa e os danos causados pela atuação criminosa. “De forma alguma. Já está mais que manjada essa estória obsequiosa de conversão dentro de cadeias, pois só objetivam ganhos e benefícios”, disparou.
“Ele vai devolver tudo que roubou. Dar aos pobres? A conversão ao evangelho é mudança de relações com as pessoas. Olhar para o seu passado, reconhecer que errou e agora devolver tudo que fez injustamente: ganância, morte, destruição das famílias … Não acredito em conversão!”, comentou o Frei da Igreja de São Sebastião, Paulo Xavier.
Veja o vídeo
Ainda no vídeo, o Pastor declara que fez o pedido para autorizar o batismo dentro da penitenciária e caso seja autorizado, poderá cumprir o ritual religioso em até 60 dias. “Tenho notícia boa, o próprio preso José Roberto Fernandes, que fazia parte da facção FDN entregou um papel dizendo não faz mais parte do crime. Para glória do Senhor Jesus estou feliz com o trabalho de evangelização realizado”, comenta o pastor no vídeo.
Barbárie
José Roberto Fernandes Barbosa, o Zé Roberto da Compensa, chegou a comandar rebeliões nos presídios da capital amazonense, além de ser o principal líder da FDN. Atualmente, ele cumpre pena no presídio federal de Campo Grande.
Em 2017, um “racha” entre os narcotraficantes João Pinto Carioca, o João Branco e Zé Roberto, resultou em um confronto violento em Manaus, após a criação de uma nova facção criminosa, conhecida como ‘FDN Pura’ ou ‘Potência Máxima’.
O massacre motivou 55 assassinatos em quatro unidades no sistema prisional do Amazonas e já havia sido identificado pelo Departamento de Inteligência Penitenciária (Dipen), ligado à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).