*Da Redação Dia a Dia Notícia
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, nessa segunda-feira (20), que a morte do jornalista britânico Dom Phillips foi um “efeito colateral” do trabalho do indigenista que o acompanhava e também morreu, Bruno Pereira.
“Se há um mandante é um comerciante da área que estava se sentindo prejudicado pela ação principalmente do Bruno e não do Dom. O Dom entrou de gaiato nessa história. Foi efeito colateral”, afirmou ele.
Até agora, a PF (Polícia Federal) já prendeu três suspeitos, todos pescadores, dois dos quais já confessaram o assassinato, segundo os investigadores.
Mourão disse também que os pescadores são ribeirinhos sem acesso a boas condições de vida e ainda comparou o possível crime com outros que ocorrem em cidades grandes do país, ligando o caso ao consumo de bebidas alcoólicas -hipótese jamais mencionada pelos investigadores até aqui.
“Na minha avaliação deve ter acontecido no domingo [5, dia em que os dois desapareceram], a turma bebe, se embriaga, mesma coisa que acontece aqui na periferia das grandes cidades. Aqui em Brasília a gente sabe, todo final de semana tem gente que é morta aí a facada, tiro, das maneiras mais covardes, normalmente fruto de quê? Da bebida. Então mesma coisa deve ter acontecido lá”, declarou.
As declarações foram refutadas pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari). Bruno Pereira e Dom Phillips estavam no Vale do Javari, no interior do Amazonas, para acompanhar o trabalho de vigilância da entidade, para a qual o indigenista atuava, quando desapareceram.
A Univaja disse que as declarações de Mourão demonstram que o vice-presidente desconhece a atuação dos indigenistas na região, a incidência do narcotráfico no local e a realidade dos pescadores que atuam com a pesca ilegal. Também viu desrespeito com a expressão “entrar de gaiato”.
“O assassinato de Bruno e Dom demonstra uma ação ordenada e planejada, não fruto do acaso, pressupondo a participação de inúmeras pessoas que se empenharam em seguir a embarcação de Bruno e Dom, em ocultar seus pertences e embarcação, esquartejar seus corpos, queimá-los e enterrá-los em diferentes trechos da área de busca”, contestam, sobre a suposta embriaguez dos pescadores.
A entidade disse que não se trata apenas de “simples ribeirinhos”. “Pois ribeirinhos não teriam condições financeiras para extrair toneladas de ilícitos ambientais em longas viagens ilegais à terra indígena.”
Mourão, como general da reserva com atuação na região, foi destacado pelo presidente Jair Bolsonaro em 2020 para coordenar políticas públicas do governo no Norte do país, por meio do Conselho Nacional da Amazônia Legal.
Também nesta segunda, houve protestos em Brasília pelas mortes de Phillips e Bruno e pela saída do presidente da Funai, Marcelo Xavier. Servidores da fundação organizaram uma vigília que reuniu cerca de 30 pessoas em frente à sede da Funai. A manifestação foi organizada pela INA (Indigenistas Associados).
Cerca de 30 jovens também protestaram pelos mesmos motivos na praça dos Três Poderes. Pessoas vestidas com camisas dos movimentos Jovens pelo Clima e do coletivo “Juntos!” levaram cartazes e bandeiras para o ato, que também cobrou investigações por supostos mandantes das mortes do jornalista e do indigenista. Eles se concentraram em frente ao Palácio do Planalto e depois caminharam até o Supremo Tribunal Federal.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, a Funai tem atualmente mais cargos vagos do que ocupados e chegou ao menor número de servidores permanentes desde 2008. Também deixou vazio um cargo crucial para a fiscalização das terras indígenas na região do Vale do Javari.
Ainda, um dossiê produzido por entidades indigenistas afirma que Xavier é o principal responsável pela entrada de militares em cargos chave da fundação e que sua gestão, além de não ter avançado em nenhuma demarcação de terra indígena, tem relatos de assédio contra servidores -um dos motivos que levou o próprio Bruno Pereira a pedir licença da entidade.
*Com informações Folha de S.Paulo