Jornalista, escritora de livros de viagens, historiadora e pioneira transgênero, a britânica Jan Morris morreu esta sexta-feira, aos 94 anos, segundo informou seu filho, Twm Morys, em um comunicado:
“Esta manhã, às 11h4, no Hospital Bryn Beryl, em Llyn (Norte do País de Gales), a escritora e viajante Jan Morris começou sua maior jornada. Ela deixa para trás sua parceira de longa data, Elizabeth”. A causa da morte não foi divulgada.
Como jornalista, Morris publicou em primeira mão notícias como a da conquista do Monte Everest por Edmund Hillary e Tenzing Norgay, e a do envolvimento francês no ataque israelense ao Egito na guerra de Suez. Ela publicou mais de 30 livros, entre alguns muito populares relatos de viagens (a lugares que vão de Veneza a Oxford, e de Hong Kong a Trieste) e a elogiada trilogia “Pax Britannica”, sobre o Império Britânico.
Seu livro mais comentado, porém, foi “Conundrum”, diário de sua transição de um corpo de homem para um de mulher, em 1972, uma sensação internacional quando publicado, dois anos depois. Nascida James Morris em Somerset, em 1926, a escritora disse de ter percebido, aos três ou quatro anos de idade, que tinha vindo “no corpo errado e que deveria realmente ser uma menina”. No início, ela guardou essa certeza como um segredo. Mas, durante toda a infância, sentiu “um anseio por não sei o quê, como se faltasse uma peça.”
Em 1949, Morris casou-se com Elizabeth Tuckniss, filha de um plantador de chá. Elas tiveram cinco filhos, entre os quais o poeta e músico Twm Morys. Mesmo após a transição, elas continuaram a viver juntas, na zona rural do Norte do País de Gales até a morte da escritora. Em uma entrevista de 2008 agência à Reuters, Morris disse que há anos estava “preocupada com a própria morte”:
“Cerca de 30 anos atrás, preparei nossa lápide. Tem meu próprio epitáfio, que é ‘Aqui estão duas amigas – Jan e Elizabeth Morris – no fim de uma vida.'”
“Que vida e que escritora!”, disse o escritor e jornalista Sathnam Sanghera no Twitter. “Muito triste ao ouvir a notícia do falecimento de Jan Morris. Sua bela escrita tocou muitos dos meus mundos. Um ser humano muito especial e adorável”, tuitou Paul Jenkins, executivo-chefe da Tavistock e da Portman NHS Foundation Trust, umas das principais clínicas de identidade de gênero da Grã-Bretanha.
O último livro de Jan Morris, “Think again”, reunião de escritos dos seus diários, foi publicado em março. Um segundo volume está programado para sair em janeiro de 2021.
* O Globo