*Da Redação Dia a Dia Notícia
Faltando pouco menos de quatro meses para o fim do mandato de David Almeida, a Prefeitura de Manaus deixou de concluir a reforma de pelo menos 14 feiras e mercados da cidade, uma das promessas feitas pelo prefeito na campanha de 2020. E não foi por falta de dinheiro: até o momento, a atual gestão municipal já recebeu pelo menos R$ 24,4 milhões do Governo do Estado do Amazonas. O montante equivale à quase 90% do total previsto de R$ 27,8 milhões para a reforma das unidades, com apenas R$ 497 mil de contrapartida da Prefeitura.
Os recursos são repassados pela Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), enquanto a execução das obras fica sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento, Centro e Comércio Informal (Semacc). Estes são os termos do convênio assinado entre as partes em 21 de dezembro de 2021.
Os dados revelam, ainda, que 98,2% dos recursos investidos vieram dos cofres estaduais e somente 1,8%, dos municipais. Isso significa que de cada R$ 10 aplicados nas reformas das feiras e dos mercados de Manaus, o Governo desembolsou R$ 9,82. A Prefeitura gastou bem menos: 18 centavos de real.
Rotina de incerteza, insegurança e insalubridade
A Feira do Coroado, na Alameda Cosme Ferreira, na zona Leste, foi uma das primeiras a entrar em obras, ainda em 2022, ao custo de R$ 1,9 milhão. De lá para cá, foi um vaivém de paralisações, sem qualquer expectativa de término. Conselheiro comunitário na região, Ronildo Souza explica que a equipe da Prefeitura só aparece na feira para trabalhar dois ou três dias por semana, e mesmo assim só após denúncias terem sido publicadas na imprensa. “Tem feirante que deixou seu sustento de lado, outros estão trabalhando na poeira mesmo, dentro da obra”, relatou.
Já na feira do São Jorge, na zona Oeste, a situação é ainda mais complicada. Localizada na rua 1º de maio, uma das principais do bairro, a feira entrou em obras no último mês de abril. O trânsito na via é intenso, principalmente por conta dos ônibus. Moradores e comerciantes da área explicaram que, com a reforma do espaço, foram construídos quiosques temporários de madeira na frente da obra e um deck para os lanches e bares da antiga estrutura.
Isso acabou estreitando a pista e comprometendo a segurança de quem trabalha na feira e passa por ela. No mês de agosto, comerciantes presenciaram dois acidentes com motociclistas na feira do São Jorge. “Em uma madrugada, por volta de 1h da manhã, um motociclista não viu o puxadinho da feira na via, perdeu o controle da moto e se machucou. O rapaz morreu. No dia seguinte, de tarde, um outro motociclista se machucou. Graças a Deus, não morreu. Somente depois desses dois acidentes é que a Prefeitura colocou uma placa sinalizando a obra”, contou a moradora do bairro Lucinha da Costa, de 71 anos.
A reforma da feira do São Jorge faz parte de um repasse de R$ 2,3 milhões, que inclui as intervenções nas feiras do Produtor do Santo Antônio (também na zona Oeste) e Dorval Porto (no bairro Nossa Senhora das Graças, zona Centro-Sul).
Na outra ponta da cidade, na zona Sul, os permissionários da feira da Betânia estão trabalhando em condições insalubres, pois as obras só começaram no mês de julho, após a liberação de uma emenda de R$ 4,7 milhões do senador Eduardo Braga, aliado do prefeito David Almeida.
“A nossa situação aqui é de tentar sobreviver no meio do caos. É um absurdo deixar a gente assim, sem qualquer estrutura. Empurraram o começo da reforma para agora, pertinho da eleição. Isso não se faz”, disse um dos comerciantes da feira, que preferiu não se identificar.
