Suzy Eshkuntana, de 6 anos, acordou sozinha no maior hospital de Gaza. Ela foi levada para lá após ser retirada dos escombros de sua casa, destruída em um ataque de Israel, que matou sua mãe e quatro de seus irmãos.
A menina, que ficou presa por sete horas sob os escombros, se reencontrou com o pai, também ferido, no hospital de Shifa.
“Me perdoe, minha filha. Você gritou para que eu fosse até você, mas eu não pude ir”, disse Riyad Eshkuntana à filha, depois que os médicos colocaram os dois juntos, em camas próximas.
A família foi atingida por um ataque na madrugada do último domingo (16) na cidade de Gaza. Trata-se da ação mais letal desde o conflito entre Israel e a Palestina. Com isso, chegou a 192 o total de mortos por bombardeios israelenses, em uma semana.
Israel diz que os ataques miram em lideranças, que controlam Gaza, e de outros grupos jihadistas, que ao todo dispararam 2.800 mísseis contra cidades israelenses desde o início da crise atual. Os ataques vindos de Gaza mataram dez pessoas em Israel, incluindo duas crianças.
“A razão para estas baixas é que o Hamas está nos atacando, de forma criminosa, a partir de bairros civis”, disse o premiê israelense Binyamin Netanyahu, à CBS.
A casa da família Eshkuntana ficava na área próxima a um sistema de túneis do Hamas em Gaza, que foram atacados por Israel. Quando os túneis desmoronaram após os bombardeios, as construções próximas também foram abaixo.
Dezenas de funcionários de resgate, policiais, parentes e vizinhos se juntaram para ajudar nas buscas em meio aos destroços da casa da família. Depois de várias horas de trabalho, funcionários começaram a dizer “Allahu Akbar” (Deus é maior) — um sinal de que alguém foi encontrado com vida.
Suzy, coberta de poeira e muito fraca para erguer a cabeça, chorou ao ser levada para a ambulância.
No hospital, parentes ansiosos perguntavam por detalhes conforme as vítimas chegavam. “Este é Yehya? Este é Yehya?”, gritavam homens e mulheres que esperavam na recepção, pouco antes de os médicos dizerem a eles que o irmão de Suzy, de quatro anos, estava morto. Duas mulheres desmaiaram ao ouvir a notícia.
Minutos depois, o corpo de uma menina foi trazido. “Eles trouxeram Dana. Dana, Dana, você está bem?”, perguntaram. Mas a garota também estava morta, junto com outro irmão e outra irmã.
Ver Suzy com os olhos abertos trouxe a eles um breve momento de alegria, antes de ela ser levada para fazer exames. Médicos disseram que ela estava machucada, mas sem lesões graves, e a levaram para uma maca próxima à de seu pai.
Riyad Eshkuntana disse que achava que a família estava segura naquela casa, porque havia médicos vivendo no mesmo prédio. E tinha colocado as crianças em uma parte da residência que parecia segura em caso de ataque.
“De repente, veio um foguete, com fogo e chamas, e destruiu duas paredes”, disse ele à Reuters. Enquanto os pais corriam em busca das crianças, houve uma segunda explosão veio, que derrubou o teto.
“Eu ouvi meu filho Zain chamando ‘pai, pai’, mas eu não conseguia virar e olhar para ele porque eu estava preso”, disse.
Quando as equipes de resgate fizeram o primeiro chamado por sobreviventes, Eshkuntana estava muito fraco para gritar. Meia hora depois, ele conseguiu pedir ajuda e ser encontrado.
Deitado na cama ao lado de sua filha, com a cabeça enfaixada, ele disse que, primeiramente, queria morrer. “Eu estava sentindo toda a raiva do universo, mas quando eu ouvi que uma das minhas filhas estava viva, eu disse ‘obrigado, Deus’”.
*Com informações do Folha de São Paulo