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‘Manaus terá em 2021 a sétima cheia severa em dez anos’, aponta pesquisador do Inpa

Foto: SEMCOM/PMM

Ruas alagadas, casas submersas e pessoas transitando por cima de pontes de madeira em bairros da área central de Manaus é um cenário que deve voltar este ano. Com as chuvas acima da média na Amazônia Central e Ocidental, a previsão é de cheia severa em Manaus. A previsão da cheia baseada no modelo elaborado pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Jochen Schöngart, indica que a cota máxima do Rio Negro deve atingir 29,51 metros, em média, com margem de erro de 30 centímetros para cima ou para baixo (29,21 m-29,81 m).

Com a nova marca para a cheia de 2021, este deve ser o sétimo evento de cheias severas nos últimos dez anos (2012, 2013, 2014, 2015, 2017, 2019 e 2021). A previsão de cheia do Inpa reforça a previsão oficial do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) publicada no dia 31 de março de 2021. Os novos alertas de cheias da CPRM estão previstos para 30 de abril e 31 de maio.

Os estudos e modelos desenvolvidos por Schöngart passaram por revisão e foram transformados no projeto Predicting the Evolution of the Amazon Catchment to Forecast the Level Of Water – Peacflow, em português: Prevendo a evolução da bacia hidrográfica da Amazônia para prever o nível da água), financiado pelo Fundo Newton por meio do programa bilateral Climate Science for Service Partnership (CSSP) Brasil do Met Office (Reino Unido). A finalidade do Peacflow é apoiar a previsão oficial de enchentes realizada pela CPRM em Manaus no final de março, fornecendo informações adicionais para a implementação efetiva de ações de gestão de risco de desastres.

 

Impactos

Casa inundada na região rural de Manaus cheia de 2009 Foto Jochen Schongart INPA

 

As cheias extremas resultam em graves problemas de saúde pública, perda de infraestrutura, propriedades e afeta vários setores socioeconômicos, como a agricultura e pecuária nas várzeas.  Com a pandemia de Covid-19, exige atenção a mais das políticas públicas e da população. “A necessidade de abandonar as moradias alagadas em zonas urbanas e regiões rurais afetadas pode contribuir para um aumento de infecção por SARS-CoV-2 e da variante P.1”, alerta Schöngart, doutor em ciências florestais e vice-coordenador do Grupo de Pesquisa em Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Maua).  “Uma possível terceira onda da pandemia pode coincidir com a ocorrência da cheia e exige um intenso monitoramento e preparo pelas políticas públicas competentes para mitigar os impactos que podem resultar da sinergia da cheia e do intenso aumento de casos da Covid-19”, completou.

De acordo com o Schongart, o aumento da magnitude e frequência de eventos de cheias severas na região da Amazônia Central durante as últimas três décadas, chamado de ‘intensificação do ciclo hidrológico’, é resultado de uma complexa interação dos grandes oceanos que influenciam por meio do aquecimento e esfriamento das suas águas superficiais grandes circulações atmosféricas influenciando a convecção de nuvens, chuvas e o regime hidrológico dos rios na Bacia Amazônica. “A intensificação do ciclo hidrológico na maior hidrobacia do mundo é em boa parte influenciada pela variação natural das condições oceanográficas, mas a ciência mostrou evidências da influência antrópica por meio de mudanças climáticas globais na intensificação do ciclo hidrológico”, explicou o pesquisador.

Neste ano, o esfriamento anormal das águas superficiais do Pacífico Equatorial na região central-leste, conhecido como La Niña, contribuiu, junto com as águas superficiais do Atlântico Tropical aquecidas, numa maior convecção de nuvens e chuva em boa parte da bacia Amazônica. O resultado é o expressivo aumento da amplitude a partir no nível mínimo da água registrado no Porto de Manaus (16,60 m), no ano passado. “O nível da água de hoje (09/04/2021) já está mais que 11 m acima do nível mínimo da água do ano passado (27,75 m) e ainda vai aumentar até meados de junho. Somente nos anos das três maiores cheias históricas registradas em Manaus em 2012 (29,97 m), seguido de 2009 (29,77 m) e 1953 (29,69 m), o nível da água foi maior nesta data em comparação com 2021”, contou Schongart.

 

IMG 01 Nivel diário da água do Rio Negro monitorado pelo Porto de Manaus Org Jochen Schongart

 

Legenda da figura: Valores médios com desvio padrão, mínimos e máximos do nível da água diário do Rio Negro monitorado no Porto de Manaus (período de 1903 a 2020).  A linha vermelha indica a evolução da enchente de 2021 e a linha pontilhada horizontal a Cota de Emergência de 29 metros.

 

O pesquisador lembra que a intensificação do ciclo hidrológico é um grande desafio para as políticas públicas que precisam ser ajustadas à essa nova realidade. As previsões sazonais de pico de cheias com um longo tempo de antecedência fornecem uma ferramenta confiável para as políticas públicas e os tomadores de decisão para prevenir e mitigar os impactos causados por estes eventos severos nas populações urbanas e rurais e nos setores socioeconômicos. “Isso é de fundamental importância para o desenvolvimento sustentável da região amazônica, cada vez mais impactada por extremos eventos hidroclimáticos”.

 

Peacflow

Com base nos estudos e modelagens, o Inpa propôs durante a IV Oficina Científica Anual do  Climate Science for Service Partnership (CSSP) Brasil em Manaus no ano de 2019, a criação de um consórcio de cientistas do Reino Unido (National Centre for Atmospheric Science – NCAS, University of Reading no Reino Unido) e das três unidades de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – Inpa, Inpe e Cemaden –, para desenvolver um sistema de previsão sazonal com longo tempo de antecedência para o nível máximo anual da água do Rio Negro/Solimões em Manaus, Amazônia Central, com potencial para expandi-lo no futuro para outros locais estratégicos na Bacia Amazônica.

De acordo com Schöngart, o novo método inclui o uso de variáveis preditoras, como precipitação, nível de água do rio e condições dos oceanos Pacífico e Atlântico observadas em meses anteriores. Os níveis máximos de água dos rios Negro e Solimões, que geralmente ocorrem no mês de junho, são fortemente influenciados pelas chuvas nas suas extensas cabeceiras durante os meses de novembro a fevereiro, já que a extensa rede de rios e áreas úmidas reduzem a propagação das ondas de inundação por meses.

“Esta defasagem entre as chuvas nas cabeceiras e o pico da cheia na Amazônia Central permite o desenvolvimento de modelos estatísticos capazes de prever, desde março ou antes, a cota máxima da cheia que tipicamente ocorre em junho. A previsão da cheia de 2021 baseada neste novo modelo indica uma cheia atingindo a cota de 29,38 m”, explica o pesquisador do Inpa.

*As informações são da assessoria de comunicação do Inpa. 

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