A operação da Polícia Federal contra Ricardo Salles e o presidente do Ibama foi motivada por um despacho que autoriza a exportação de madeira ilegal. E um estudo inédito feito por pesquisadores mostra o tamanho do problema do Brasil nesta área: 94% da área desmatada na Amazônia e no Cerrado (mais exatamente na região conhecida como Matopiba, que inclui o estado do Tocantins e partes dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia) até o segundo semestre de 2020 está relacionado à derrubada ilegal. A pesquisa foi desenvolvida por pesquisadores do Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com apoio do WWF-Brasil, conforme a reportagem do O Globo.
De acordo com a Paula Bernasconi, coordenadora do Instituto Centro de Vida (ICV), a operação desta quarta tem o mesmo pano de fundo deste estudo: da necessidade de desvincular a produção ilegal da legal.
“A operação está relacionada à cadeira produtiva da madeira e a exportações e quanto isso está contaminado com ilegalidade. No estudo, olhamos para outra cadeia produtiva, mas é o mesmo pano de fundo. O agronegócio brasileiro é um dos mais importante setores, está segurando nossa balança comercial neste momento de pandemia, e por conta da falta de fiscalização, por falta de transparência e cumprimento da legislação, acaba sendo contaminado”.
O estudo “Desmatamento Ilegal na Amazônia e no Matopiba: falta transparência e acesso à informação” cruzou dados oficiais de desmatamento do sistema PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) para a Amazônia e o Cerrado e diversas bases de dados sobre autorizações de supressão de vegetação nativa (ASV), necessárias para proprietários rurais promoverem o desmate de áreas em conformidade com os casos previstos na legislação.
Os pesquisadores mostraram que 94% da análise não tem autorização e, portanto, podem ser considerados ilegais. Isso corresponde a 18 milhões de hectares, área superior aos territórios somados da Dinamarca, Holanda, Bélgica e Suíça.
“É urgente haver maior esforço técnico e vontade política no cumprimento da legislação ambiental e da Lei de Acesso à Informação. Caso contrário, a falta de transparência seguirá como escudo para a continuidade da destruição dos ecossistemas”, conclui Raoni Rajão, coordenador do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais (LAGESA) da UFMG e coautor da pesquisa.