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JBS admite ter comprado cabeças de gado de quadrilha de desmatamento em Rondônia

*Da Redação Dia a Dia Notícia

Um dos maiores frigoríficos do mundo, a empresa JBS comprou cerca de 8,7 mil cabeças de gado de fazendas pertencentes à quadrilha de desmatamento no estado de Rondônia. As compras irregulares ocorreram em um período de quatro anos, entre 2018 e 2022, sem que os negócios fossem barrados pelos sistemas de monitoramento.

Apesar disso, a empresa alega que foi vítima de fraude e que pretende buscar reparação na Justiça pelos danos sofridos.

Todas as fazendas estão ligadas a Chaules Volban Pozzebon, que está preso por extração ilegal de madeira e é considerado o maior desmatador do país, além de ter sido condenado por utilizar mão de obra escrava. As informações foram obtidas por meio de uma investigação realizada pela Repórter Brasil em parceria com o Greenpeace.

As compras irregulares do frigorífico viraram peças de carne das marcas vendidas no Brasil e podem ter sido exportadas para quatro dos cinco continentes do mundo. Porém os consumidores brasileiros não tiveram a chance de saber, pois no sistema de transparência da empresa, onde é possível consultar a origem do produto, as remessas oriundas das fazendas irregulares aparecem apenas sob o nome genérico “Fazenda”.

Além de admitir as compras irregulares, a JBS admitiu também a participação de seus funcionários no esquema. De acordo com a companhia, essas compras foram registradas em seu sistema como tendo origem em uma outra fazenda, do mesmo grupo, que estava liberada pelos critérios socioambientais.

“A partir das informações apresentadas pela Repórter Brasil, ficou claro que o grupo mencionado vinha, de má-fé, se valendo da convivência de funcionários da Friboi (que pertence à JBS) para burlar o sistema e enviar gado produzido em fazendas com irregularidades socioambientais”, informou o frigorífico. 

Porém, a empresa tinha meios para checar tal informação, visto que os nomes das fazendas origem estão registrados nas Guias de Trânsito Animal das transações. As GTAs são um documento obrigatório na compra e venda de gado e formam a base dos sistemas de monitoramento dos frigoríficos brasileiros.

Já a defesa de Chaules Volban Pozzebon nega “qualquer tipo de fraude ou crime nas vendas realizadas” para os frigoríficos. “Não existe organização criminosa, mas sim um grupo empresarial regularmente constituído e com atividades lícitas e autorizadas pelos órgãos competentes”, explica o advogado Aury Lopes Jr.

O representante legal da família Pozzebon e da empresa Agropecuária Rio Preto acrescenta que não houve desmatamento criminoso, “mas manejo autorizado de madeira” e que todas as atividades são lícitas e regulares, sem qualquer fraude ou desacordo de pactos setoriais da carne.

Chaules Pozzebon

Chaules Vouban Pozzebon se tornou conhecido por ser o chefe de uma milícia armada que roubava terras, extorquia e cobrava pedágio de moradores de um assentamento rural em Rondônia, de acordo com autoridades policiais e judiciárias. Condenado a 99 anos de cadeia por extração e beneficiamento de madeira retirada ilegalmente de dentro de terras protegidas, comandou suas atividades ilegais de dentro da prisão, segundo investigações. A defesa recorreu da condenação.

Apesar de todas as transações ilegais de madeira na Amazônia, eram as vendas de gado para a JBS, Minerva e outros frigoríficos que formavam uma das principais fontes de receita da quadrilha comandada por Pozzebon.

*Com informações da Repórter Brasil

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