Desajustes na dinâmica familiar; a ação do vírus no sistema nervoso central; experiências traumáticas ocasionadas tanto pela infecção pelo SARS-CoV-2 quanto pela perda de pessoas próximas; mudanças na rotina por conta do distanciamento social; problemas econômicos/financeiros; elevação do estresse; mudanças no processo de vivenciar o luto.
Esses são apenas alguns dos fatores que contribuíram para que parte da população mundial disparasse o chamado gatilho emocional durante a pandemia da Covid-19 e que têm reforçado a relevância de campanhas como o Janeiro Branco, criado em 2014, com o objetivo de levantar discussões sobre a saúde mental.
A psicóloga da Associação Segeam (Sustentabilidade, Empreendedorismo e Gestão em Saúde do Amazonas), Quézia de Freitas, explica que tais fatores empurraram milhares de pessoas para o grupo dos que desenvolveram algum tipo de transtorno mental, o que inclui os traumas psicológicos.
Eles podem ser classificados como desdobramentos primários ou secundários da pandemia. Os primários são decorrentes da própria infecção, já que há indícios de que o Coronavírus atinge o sistema nervoso central, responsável por captar e transmitir informações ao corpo humano. No segundo cenário, os impactos psicológicos de uma mudança drástica na rotina e sucessivos picos de estresse e pressão, levaram a alterações de sono, ansiedade, depressão, entre outros.
“Por isso, este mês dedicado à conscientização sobre a saúde mental, se tornou tão importante para a sociedade. O tratamento ofertado a pessoas que absorveram mais intensamente os impactos da pandemia da Covid-19 deve acontecer em longo prazo, a partir da elaboração de políticas públicas permanentes, levando em consideração que o cenário pandêmico vem apresentando oscilações em todo o mundo. É importante que haja acompanhamento e tratamento adequados a todos e que o tema vire uma pauta recorrente nos ambientes mais caóticos”, explicou Quézia.
De acordo com o Ministério da Saúde, estão na lista dos mais vulneráveis os profissionais de saúde, idosos e grupos de risco para a Covid-19, além de pessoas com transtornos mentais. As informações foram levantadas com a colaboração de entidades importantes, como o Conselho Federal de Enfermagem e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS – braço da OMS nas Américas).
Apoio psicológico
“Buscar ajuda psicológica é um dos principais passos para amenizar os impactos da pandemia na saúde mental da população. A frase ‘você não está sozinho’, parece clichê, mas faz toda a diferença em um momento como este, que atinge a coletividade e faz com que as pessoas vivam em um ambiente de medo e incertezas. O esclarecimento das dúvidas, o diálogo e o acolhimento, acabam sendo essenciais”, disse a psicóloga.
Ela ressalta que a Segeam implantou em sua estrutura, um serviço permanente de apoio psicossocial e fisioterápico voltado aos seus colaboradores, tendo em vista que a equipe de enfermagem tem atuado na linha de frente da Covid-19, desde o início da pandemia.
O Programa ‘Ações que Resgatam’ se tornou uma forma de multiprofissional de atendimento com atuação ampliada nos últimos meses. “O atendimento é feito presencialmente e a distância, pois sabemos das dificuldades enfrentadas pelos profissionais da área, especialmente nos picos da pandemia no Amazonas”.
De acordo com Quézia de Freitas, enfermeiros associados à Segeam e que foram infectados pelo coronavírus, necessitando de suporte fisioterápico para reabilitação, puderam buscar ajuda na instituição. Assim como os que precisaram de acompanhamento psicológico e social em função da vivência dentro das unidades de saúde, as quais receberam volumes expressivos de pacientes, resultando em uma sobrecarga do sistema. “O resultado desse atendimento imediato já pode ser notado e poderá ajudar a nortear ações futuras nesse campo”, destacou.