
Medicina de Autocuidado: Vivências com Mulheres Indígenas
A floresta amazônica, com sua imensidão de vida e mistério, é considerada pelos povos indígenas um templo vivo, onde cada planta carrega sabedoria, espírito e cura. Dentro dessa cosmovisão, os banhos de ervas são práticas de limpeza do corpo físico, espiritual e mental que trazem cura, cuidado, proteção e conexão com a natureza.
Apresentar um pouco da cultura ancestral dos banhos, defumações e rituais de proteção faz parte do projeto “Medicina de Autocuidado: Vivências com Mulheres Indígenas”, uma iniciativa inédita do Instituto Witoto, localizado no bairro Parque das Tribos, região periférica de Manaus, a capital do Amazonas.

Vanda Witoto conduzindo a roda de conversa
Sob a coordenação da ativista e liderança indígena Vanda Witoto, o projeto busca fortalecer e resgatar os conhecimentos das mulheres anciãs, como Dona Leia Witoto e Auxiliadora Mura. À sombra de árvores frutíferas plantadas por elas, o espaço recebe visitantes indígenas e não indígenas, em datas agendadas, para compartilhar ensinamentos ancestrais em rodas de conversa, defumações, banhos preparados com folhas, cascas, raízes e outros elementos da floresta amazônica, além da partilha de alimentos indígenas.
Participei de uma dessas vivências e posso afirmar que foi um momento de profunda introspecção e conexão com a minha própria história. A experiência começou com uma defumação feita com carvão e breu-branco, resina aromática extraída de árvores. Em seguida, Vanda nos convidou a pensar em nossas avós como o caminho que nos conecta à ancestralidade. Foi um dos momentos mais emocionantes, pois nos leva a um lugar que muitas vezes esquecemos: a nossa origem. Por fim, fomos orientadas a lavar o corpo com sabão antes de receber os banhos.

Essas práticas de saúde espiritual simbolizam um ato de reciprocidade: recebemos da floresta a cura e a proteção e, em troca, oferecemos gratidão, respeito e cuidado.
Dona Leia explicou que, no banho, foram usadas folhas de alho-bravo, limão, pinhão-roxo e mucuracaá, deixadas na água de um dia para o outro, absorvendo também o sereno da noite — elemento essencial na tradição e nos saberes indígenas. Antes dos banhos, cânticos foram entoados. “Nosso povo fala que o canto esfria nosso coração, mas também esfria o coração da Terra. A nossa música tem esse poder de nos conectar com o coração da Terra”, comentou Vanda.

Apresentando a importância dos “banhos”
Os banhos seguem uma lógica ancestral: o primeiro, conhecido como “descarrego”, retira energias negativas. O segundo, feito com plantas de cheiro agradável, como alecrim e folha de cravo, traz proteção e calmaria. Cada gesto, cada canto e cada planta reforçam a importância da sabedoria indígena como fonte de equilíbrio e cura.

Respeitar esses rituais é reconhecer a riqueza cultural e espiritual dos povos indígenas, guardiões da floresta e de seus conhecimentos milenares. São práticas que preservam a memória ancestral e que precisam ser valorizadas por toda a sociedade.
📌 Para participar das próximas vivências, é possível entrar em contato com o Instituto Witoto pelo telefone (92) 99393-7459.

Deixo aqui minha profunda gratidão à Vanda, que abriu o território e compartilhou esse momento sagrado, e também às amigas jornalistas Audrey Bezerra (Portal Dia a Dia Notícias) e Ana Carolina (Portal Amazônia Plural), com quem vivi essa experiência de imensa importância.

Por Emanuelle Araújo
Jornalista, especialista em Ciência Política, Marketing Digital, Ecojornalismo e Ensino Superior, com mais de 20 anos de carreira, atuando em veículos de comunicação, assessoria de imprensa e redes sociais. Sou apaixonada por viagens e pela Amazônia! Já fui responsável pela produção de conteúdo das redes sociais de mais de 100 hotéis espalhados pelo Brasil, sempre dando dicas de turismo e destacando destinos incríveis. Na coluna “Turismo do Dia”, mostro informações especiais para quem não dispensa alguns dias de folga, se divertindo e conhecendo novos destinos. Vem “turistar” comigo! Para saber mais, me siga no @turismododia_ (Instagram, Tik Tok e YouTube)
