O dia 19 de setembro de 2021 marca a data de nascimento do educador Paulo Reglus Neves Freire. Um dos mais influentes pensadores do país, Freire faria cem anos se estivesse vivo. O professor e filósofo faleceu em 1997, aos 75 anos, vítima de um ataque cardíaco.
A obra, o trabalho e a figura de Paulo Freire é homenageada por inúmeros acadêmicos ao redor do globo. Um levantamento feito pelo professor Elliot Green, da London School of Economics, constatou que o livro “Pedagogia do Oprimido”, publicado por Freire em 1968, é o terceiro mais citado na área de ciências humanas, ficando à frente de autores renomados como Michel Focault, John Rawls e Pierre Bourdieu.
Método de alfabetização
Apesar de vir de uma família de classe média, Paulo Freire vivenciou a pobreza devido aos efeitos da grande crise de 1929, só conseguindo estudar por conta da ajuda dos irmãos Stela e Temístocles. Cursou direito a partir dos 22 anos na Faculdade de Direito do Recife (FDR), hoje parte da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), período no qual lecionou Língua Portuguesa.
Sua preocupação com os métodos tradicionais de ensino surgiu pela primeira vez em 1955. Nos anos seguintes, elaborou o que veio a ser conhecido como “método Paulo Freire”, posto em prática com um grupo de educação popular que alfabetizou 300 cortadores de cana-de-açúcar da região em menos de três meses.
O método consiste em uma maneira de educar conectada ao cotidiano dos estudantes e às suas experiências. Para Freire, deveria haver um diálogo entre o professor e o aluno, procurando transforma-lo em um aprendiz ativo. O filósofo criticava os métodos tradicionais de ensino, nos quais o professor era o detentor de todo o conhecimento e o aluno apenas um “depositório”.
“Transformar os alunos em objetos receptores é uma tentativa de controlar o pensamento e a ação, leva homens e mulheres a ajustarem-se ao mundo e inibe o seu poder criativo”, afirmava Freire.
Herói para a esquerda, vilão para a direita
Perseguido pela Ditadura Militar e chamado de “praga comunista”, Freire foi secretário de Educação da cidade de São Paulo após a redemocratização do país durante a gestão de Luiza Erundina, então membro do Partido dos Trabalhadores. Erundina foi a autora da proposta que transformou Freire em patrono da educação do Brasil por meio da Lei 12.612/2012, sancionada pela presidente Dilma Roussef (PT).
No lado oposto do espectro político, Freire é atacado pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em postagem no Twitter, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), afirma que a culpa da educação do país ser de “péssima qualidade” é de Paulo Freire.
O especialista Thiago Biagio, mestre em história social, acredita que isso ocorra por Freire se contrapor à pedagogia tradicional defendida pela parcela mais conservadora.
“Ele pensava na autonomia do ser humano, principalmente, o excluído. Pensava naquele que não tinha condições de se enquadrar – ou não queria se enquadrar – no modelo de educação burguesa, no qual o professor só vai depositando informações (…). Inclusive, uma frase de Paulo Freire que representa esta proposta é ‘Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.
*Com informações de Politize, Brasil de Fato e Último Segundo