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Fraternidade e fome

(foto: Imagem Ilustrativa/Adobe Stock)

“Dai-lhes vós mesmos de comer”, Lucas 9, 11

Caríssimos leitores, hoje tomo liberdade para abordar um tema de abrangência também religiosa, porém não menos social e também de cunho político. Trata-se da Campanha da Fraternidade da CNBB (Conferência Nacional do Bispos do Brasil) que é justamente vivenciada no período litúrgico da Quaresma, período este em que os cristãos são convidados a assumir a atitude do arrependimento e da conversão dos pecados.

O tema da caridade como uma atitude fundamentada na fé não é uma realidade pertencente apenas ao âmbito cristão, mas também do ponto de vista do Islamismo, do Espiritismo ou mesmo do Judaísmo entre outras. Todas são religiões que pregam a prática do bem ao próximo. No entanto exigiria uma abordagem bem mais extensa. E já que nos encontramos no período quaresmal para os cristãos o tema da Campanha da Fraternidade, que é especificamente pertencente ao universo católico, tomo a liberdade de abordá-lo neste momento. E claro, sem descartar o fato de que podemos tratar de outras vertentes e visões religiosas em um outro momento.

A cada ano a CNBB vivencia em suas igrejas locais (Dioceses, Prelazias e Paróquias) a Campanha da Fraternidade, propondo no período da Quaresma a reflexão sobre uma temática importante no cenário nacional. Se os cristãos entendem que este período seja voltado para uma vivência da conversão, a Igreja Católica no Brasil propõe esta conversão diante do que se pode chamar de “pecados sociais”, ou seja, como sociedade também praticamos atos que ofendem a Deus e ao próximo.

Dos muitos temas abordados o tema da fome pauta a reflexão quaresmal dos católicos neste ano de 2023, de forma que se deseja uma mudança de atitudes frente a um problema social tão grave e tão recorrente em nossa sociedade. Assumindo desta forma o Tema: Fraternidade e fome e; o Lema: Dai-lhes vós mesmos de comer, pretende suscitar nos corações de seus fiéis uma atitude de caridade cristã para com as pessoas assoladas pelo flagelo da fome.

A Campanha da Fraternidade é uma iniciativa da Igreja Católica no Brasil, mas sua essência está fundamentada em três aspectos básicos: 1 – na pessoa do próprio Jesus que convida seus discípulos e seguidores a vivenciar a caridade; 2 – na tradição judaico-cristã que prevê um olhar sensível às necessidades dos menos favorecidos; 3 – na partilha dos bens vivenciada na Tradição da Igreja no decorrer da história do cristianismo e; 4 – na Doutrina Social da Igreja.

Sobre o que afirma a o Compêndio da Doutrina Social podemos enfatizar alguns pontos essenciais: o humanismo integral e solidário; dos desígnios de amor de Deus a toda a humanidade, principalmente na ideia de vida plena; da nova criatura, do homem novo e convertido em Jesus Cristo e de como este propósito faz parte da missão da Igreja. Ou seja, este compromisso de fé é ponto de partida para a vivência da caridade cristã na promoção humana.

A Doutrina Social parte da ideia de que o Reino de Deus está presente e que sua concretização no mundo se faz a partir da vivência real da fé cristã neste mundo/Reino. “A fonte última dos Direitos Humanos não se situa na mera vontade dos seres humanos, na realidade do Estado, nos poderes públicos, mas no próprio homem e em Deus seu Criador”. A solidariedade é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum”.

De certa forma a Igreja Católica entendendo-se como instrumento do Amor de Deus no mundo, deseja que este amor seja transformado em fé que se faz atitude, que se realiza na prática do bem. E é exatamente neste ponto que podemos voltar ao tema da Campanha da Fraternidade como um momento crucial de chamada de atenção para uma realidade que não é apenas parte de um problema social ou mesmo político, mas que também irá exigir das pessoas de fé uma resposta real, a caridade.

Muitos são os desafios que encontramos como sociedade, como humanidade, e certamente um destes problemas mais gritantes é a realidade da fome. Principalmente quando relacionado à insegurança alimentar, às oscilações e mudanças no plano econômico, à falta de emprego digno para todos. Toda esta realidade nos pede reflexão e nova tomada de atitude, bem como irá suscitar nas pessoas de fé, nas igrejas e religiões diversas uma atitude concreta, de fazer o bem a quem mais necessita. E no caso da Igreja Católica no Brasil, uma de suas ações se faz presente na Campanha da Fraternidade como momento de repensar nossas atitudes de um pecado social que causa o mal a milhões de seres humanos, a fome.

O tema da fome associado à dignidade da vida e da pessoa humana são temáticas abordadas pela Ética em geral, pelos Direitos Humanos, pelas grandes religiões, por inúmeras Constituições Federais no mundo Ocidental. O tema é urgente, a vida quer ser vivida de forma digna e o flagelo da fome bem como de todas as suas consequências não permitem a muitos seres humanos vivenciarem este direito de forma plena. O problema da fome é um problema político, porém também se trata de um problema de conversão, da necessidade de partilha e de fé

Acredito que a iniciativa da CNBB seja válida e louvável a partir do momento em que convida a seus seguidores e a toda sociedade para que estejamos atentos e sensíveis, para que entendamos que uma participação social, democrática e ativa possa compreender, denunciar, propor mudanças e, através da caridade, agir contra este mal que assola a humanidade, que afeta a realização do bem comum, que portanto, aterroriza o dia a dia de milhões de seres humanos e também de brasileiros.

 

Por Sérgio Bruno

É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

 

 

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