*Da Redação do Dia a Dia Notícia
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), rebateu o deputado federal do Ceará, André Fernandes (PL), em audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, nessa terça-feira (28). O ministro acusou o cearense de produzir “fake news” sobre uma suposta ligação do PT com uma facção criminosa.
Dino ainda negou a acusação feita pelo parlamentar de que teria 270 processos. “Vai entrar no meu livro de anedotas, vai virar piada”, rebateu. O ministro foi convocado à Câmara dos Deputados para esclarecer sobre as ações tomadas pelo Governo Federal referentes aos atos de 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes foram atacadas por golpistas.
André Fernandes questionou Dino sobre uma suposta ligação entre o PCC e o PT usando como argumento um telefonema interceptado pela Polícia Federal em 2019. No diálogo, a pessoa, que seria integrante do grupo criminoso, dizia que teria um “diálogo cabuloso” com integrantes do partido político.
O ministro da Justiça rebateu a acusação, que classificou como “canalhice”. “O deputado me cobra uma investigação que deveria perguntar a Jair Bolsonaro. Por que ele não levou adiante? Ele foi presidente da República entre 2019, 2020, 2021 e 2022. Não conseguiu produzir uma única prova. É canalhice falar em ligação do PT com o PCC”, respondeu.
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“PIADA”
Na sequência de respostas, o ministro também rebateu a fala de Fernandes que o acusava de responder a 270 processos na Justiça. “Pesquisar processos no Jusbrasil se insere no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana”, disse.
Flávio Dino ainda debochou da acusação do parlamentar. “Eu sou professor de Direito, vou contar para os meus alunos como anedota, como piada, o senhor acaba de entrar no meu livro de memórias”, continuou.
“No Jusbrasil, quando bota o nome, não aparece os nomes de quem responde a processo, aparece o nome de quem pediu direito de resposta na justiça, de quem foi requerido em um pedido de resposta, de quem registrou candidatura, de quem prestou contas à justiça, de quem foi testemunha”, esclareceu sob risos dos deputados.
Dino ainda ressaltou que Fernandes é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por, supostamente, ter incitado os golpistas em 8 de janeiro. O ministro ainda fez um apelo para que o parlamentar não quebrasse novamente um microfone da Câmara, em referência a um episódio recente envolvendo o cearense.
“O senhor veja como a gente não pode fazer esse tipo de ilação. O senhor, inclusive, que é investigado no Supremo. Não quebre o microfone, por favor”, ironizou o ministro ao lembrar um destempero passado de Fernandes, causando um princípio de confusão e bate boca na Câmara protagonizado pelo ofendidíssimo deputado bolsonarista.
Dino sorria enquanto a gritaria se dissipava. Em seguida, prosseguiu em tom didático: “O senhor não pode tirar conclusões precipitadas porque isso pode se voltar contra o senhor, que é investigado no Supremo. Se você atua dessa forma, está colocando em xeque a sua própria presunção de inocência. Quero mostrar como o senhor, com a sua atuação aqui, conspira contra a sua condição de investigado no Supremo. O deputado precisa ser mais cuidadoso em sua defesa. Sobre essa suposta ligação do PT com o PCC, há anos existe essa lenda. Eu disse, escrevi e repito que não há nenhuma prova quanto a isso. E a Polícia Federal, como o senhor mencionou, naquele momento não era dirigida por mim. E se essa prova existisse, a PF a teria encontrado. E eu afirmo isso porque respeito a PF do Brasil, diferente do senhor que agora está achando que existe essa ligação e a PF nunca encontrou essa prova. Se essa prova existisse ela já teria sido encontrada, se não foi encontrada, é porque o fato não se verifica”, explicou.
“O senhor também afirma com fatos, alguns desconexos, como por exemplo que ‘fulano tinha o mesmo advogado do criminoso’. Ora, veja como são as coisas: uma esposa de um desses membros da facção tinha contrato com o governo Bolsonaro e o senhor nunca ouviu de mim, e nem vai ouvir, porque não sou leviano, de que isso é uma prova de que o Jair Bolsonaro é do PCC. O senhor entendeu?”, concluiu o pensamento.
“Veja onde estamos, deputado, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, aqui é o Parlamento Brasileiro, o povo brasileiro está nos assistindo. Um deputado da CCJ da Câmara, dizer que pesquisou no JusBrasil… Sou professor de direito, vou contar isso pros meus alunos como anedota, como piada. O senhor acaba de entrar no meu livro de memórias. O JusBrasil mostra nomes de quem responde a um processo, é verdade. Mas também aparecem nomes de quem pediu direito de resposta na Justiça, de quem registrou uma candidatura, aparecem nomes de quem prestou contas à Justiça Eleitoral, de quem foi testemunha em um processo, ou seja, há uma série de situações em que uma pessoa pode estar citada. A esta altura, deputado, dizer com base no JusBrasil que eu respondo a 177 processos se insere no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana. E claro que olhando nos seus olhos, eu vejo que o senhor sabe que a Terra é redonda”, finalizou Dino, enquanto Ricardo Capelli, o ex-interventor da Segurança Pública no Distrito Federal, gargalhava ao fundo.
“NERVOSO”
Minutos antes do embate, o deputado usou as redes sociais para criticar o ministro. “Flavio Dino está muito nervoso aqui na CCJ da Câmara dos Deputados. Chegou fingindo sorriso, mas com uma respiração e olhar de alguém espantado”, escreveu Fernandes nas redes sociais.