O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi à CPI da Covid e, ao defender o ex-secretário-executivo do Ministério das Comunicações Fabio Wajngarten, que presta depoimento hoje à comissão, chamou de “vagabundo” o relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL). Houve troca de ofensas e a sessão foi suspensa pelo presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), Omar Aziz (PSD-AM), conforme a reportagem do UOL.
“Vamos tentar colocar vacina nos braços dos brasileiros e não tentar fazer palanque, como o senador Renan Calheiros tenta fazer. A todo momento, querendo aparecer… Imagina um cidadão honesto sendo preso por vagabundo, que é o senador Renan Calheiros?!”, afirmou Flávio Bolsonaro.
“Foi você quem roubou dinheiro do pessoal do gabinete”, rebateu Renan, referindo-se às denúncias de “rachadinha” que envolvem o filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
O vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), reclamou da postura de Flávio e disse que houve um flagrante “quebra de decoro”. Aziz então interrompeu os trabalhos.
Na saída do plenário da CPI, após a suspensão dos trabalhos, Renan e Flávio voltaram a se estranhar. Renan disse a Flávio: “Moleque é você. Você é que é moleque”.
A expectativa é que a reunião da CPI seja retomada após o término da sessão deliberativa do Senado.
A CPI da Covid investiga ações e eventuais omissões do governo federal em meio à pandemia, além de fiscalizar recursos da União repassados a estados e municípios.
Os senadores questionam Fabio Wajngarten principalmente sobre a participação dele na negociação de vacinas contra a covid-19 da Pfizer —uma carta da farmacêutica ficou parada por dois meses à espera de uma resposta do governo federal— e supostos erros nas campanhas de comunicação do governo quando ele estava à frente da área.
A sessão hoje da CPI já teve bate-boca, acusações de mentiras e até pedido de prisão de Wajngarten por Renan Calheiros. No entanto, o pedido foi negado por Omar Aziz.
Calheiros reclamou por diversas vezes sobre o comportamento de Wajngarten. A seu ver, o publicitário e ex-membro do governo deu respostas escorregadias ou em contradição ao teor da entrevista que ele havia dado à revista Veja, no final de abril deste ano.
De acordo com a Constituição, em oitivas realizadas por uma CPI, os intimados são obrigados a falar a verdade, sob risco de receberem voz de prisão caso seja confirmado, em flagrante, algo que não corresponda à realidade dos fatos.
Entrevista polêmica
Na entrevista à Veja, Wajngarten culpou o Ministério da Saúde pelo atraso da chegada das vacinas contra a covid-19 e pelo insucesso nas negociações do Planalto com a farmacêutica Pfizer. Nas palavras do ex-secretário, a pasta agiu de maneira “incompetente” e houve “ineficiência”.
A declaração de Wajngarten ocorreu às vésperas da instalação da CPI da Covid no Senado.
Wajngarten deixou o comando da Secom após uma série de atritos com o então comandante do ministério da Saúde, o general Eduardo Pazuello, que também foi demitido do cargo.
Em entrevista a repórteres, logo depois de chamar Renan de “vagabundo”, na tarde de hoje, Flávio Bolsonaro voltou a defender Wajngarten e minimizou as declarações.
“Ele [Wajngarten] não falou que foi incompetência do [ex-]ministro Pazuello. Ele falou que foi incompetência da equipe do Ministério da Saúde. Talvez da burocracia, ali, querendo buscar uma negociação melhor, preservar o dinheiro público. Isso, na minha opinião, foi o motivo da demora. Não foi dolo de ninguém.”