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Expedições turísticas ao Pico da Neblina são retomadas

O Pico da Neblina, localizado no norte do estado do Amazonas, na serra do Imeri, é o ponto mais alto do Brasil com 2 995,30 metros de altitude, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015.
Expedições ao Pico da Neblina são retomaras para turismo - Divulgação

Após mais de cinco anos de preparação, começam nesta semana expedições ao Pico da Neblina lideradas pelos índios yanomamis do Amazonas. Aventura para poucos, mas que vale cada centavo, cada noite mal dormida e cada pisada na lama até a canela.

O primeiro grupo de dez pessoas das operadoras Amazon Emotions e Roraima Adventures partiu nessa quinta (17) para São Gabriel da Cachoeira (AM). Hospedagem e voo desde Manaus, a 850 km da cidade na região da Cabeça do Cachorro, não estão incluídos no custo de R$ 19.500 por pessoa.

É duro o caminho até a montanha mais alta do Brasil (2.995 m acima do nível do mar), que os índios consideram sagrada e chamam de Yaripo (“onde os ventos se cruzam”). Após o dia de chegada a São Gabriel, às margens do alto rio Negro, haverá dois dias para visita a comunidades indígenas e compras para a viagem.

No quarto dia começa a jornada ao pico. São quatro horas para percorrer 85 km de estrada precária, em utilitários 4×4, até o igarapé Ya-Mirim. Dali, o grupo segue em canoas “voadeiras” para a aldeia Maturacá, onde será recebido por cerimônia de pajés Yanomami.

Os oito dias seguintes —que podem virar dez dependendo do ritmo e das condições meteorológicas— são de caminhada classificada como de “dificuldade extrema”. Há cerca de 2.900 metros de desnível entre um ponto e outro, mas com muitas subidas e descidas, o que implica mais de 5.000 metros de elevação total.

Haja pernas. Os pernoites se dão em redes nos acampamentos com postes e lonas montados antes pelos indígenas. Pode chover muito na região, e as roupas não secam. A temperatura não raro desce a 10ºC nas áreas mais altas.

A maior parte do deslocamento ocorre em trilhas, mas na estirada final há rochas que precisam ser escaladas, ainda que sem grande dificuldade técnica. Expedições anteriores instalaram cordas e degraus de metal, mas o turista deve contar com exaustão física.

Há trechos desafiadores, como um campo de bromélias em alta montanha, encharcado com lama negra de detritos vegetais. Os Yanomami usam botas de borracha com cano longo, mas muitos turistas preferem calçados de trekking em área úmida.

A região tem várias serras, com as montanhas cobertas de floresta e pequenos igarapés para banho. As vistas são impressionantes, ao menos quando a famigerada neblina não as oculta.

Estive lá numa expedição preparatória em 2017, pouco antes de completar 60 anos. Foi extenuante, ainda que compensador, e não me arrependi dos dois meses de condicionamento com caminhadas diárias de 6 km e muitos agachamentos com um preparador físico pessoal.

Optei, na época, por contratar carregador extra. Qualquer participante pode providenciar o seu, por R$ 1.900 adicionais, e deixar com ele até 25 kg de bagagem (em que cabem, por exemplo, alguns petiscos pessoais, para reforçar a alimentação básica fornecida). Caso contrário, terá de levar tudo nas próprias costas.

Do total pago pelo turista, R$ 700 se destinam à Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (Ayrca), organização indígena que desenvolveu a logística com apoio do Instituto Socioambiental (ISA). Uma vez cumprida toda a burocracia legal com Ibama e Funai, entraram as operadoras credenciadas.

O objetivo do esquema de turismo comunitário foi criar alternativas de renda sustentável, social e ecologicamente, para os Yanomami da região. Com ela —essa é a expectativa—, jovens das aldeias não teriam mais tanto incentivo para oferecer seus serviços a preços aviltados ao garimpo ilegal que ainda ocorre por ali.

A montanha mais alta do país fica na fronteira com a Venezuela e no Parque Nacional do Pico da Neblina, que tem superposição parcial com a Terra Indígena Yanomami. As expedições menos organizadas haviam sido suspensas em 2003, quando cessaram autorizações para travessia do território.

A expedição de 2017 da qual participei tinha por meta de levantar pontos que demandavam instalação de equipamentos fixos para montanhismo. Foram erguidas, ainda, antenas de rádio para o sinal chegar desimpedido a Maturacá, dando assim segurança de que eventuais acidentados pudessem ser removidos com presteza (esse serviço é outro fator a encarecer a expedição).

Não houve percalços maiores na subida de 2017, a não ser por ocasionais bolhas nos pés de alguns caminhantes (felizmente não os meus), redes de dormir desabadas durante a noite e o fim das guloseimas antes do retorno à aldeia.

Foram oito dias com os pés molhados, como escrevi na época. Voltaria para lá sem pestanejar, mas só daqui a uns três meses pelo menos —para descarte prévio dos 10 kg recuperados desde que os pés voltaram a secar em Maturacá.

*A reportagem é da Folha de São Paulo.

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