A Covid-19 obrigou a população a mudar drasticamente a rotina em casa, no trabalho e até nas interações sociais. O medo e a insegurança causados pela pandemia têm impactado negativamente na saúde mental dos brasileiros.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), antes da pandemia, o Brasil já apresentava a maior incidência de depressão da América Latina, afetando cerca de 12 milhões de pessoas. Durante a pandemia essa situação se agravou. Estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) revela um aumento de 90% nos casos de depressão, nesse período.
Segundo o professor do curso de Psicologia do Centro Universitário Fametro, Júlio César Pinto, em decorrência do aumento dos casos de transtornos psiquiátricos, a venda e o consumo de ansiolíticos e antidepressivos cresceu cerca de 15%. Ele explica que esse tipo de medicamento é controlado, ou seja, devem ser vendidos somente com a apresentação da prescrição médica. “A automedicação é um risco para a saúde do paciente”, destacou.
Esses medicamentos possuem diversos efeitos colaterais, como perda de coordenação motora, sonolência, falta de concentração e tonturas. “Os efeitos podem variar de pessoa para pessoa, fazendo com que alguns tenham sintomas indesejados com o uso de uma medicação e outros não tenham qualquer problema”, comparou.
Para receitar um ansiolítico ou antidepressivo, o médico realiza uma avaliação rigorosa, a fim de prescrever o medicamento que melhor atende às necessidades e características do paciente, além orientar nos cuidados a serem adotados.
De acordo com Júlio César, a automedicação é um hábito muito comum entre os brasileiros. Apesar de serem proibidas as vendas de ansiolíticos e antidepressivos sem receita, muitos adquirem esses medicamentos sem qualquer controle e de forma abusiva.
O professor reforça que o consumo de medicamentos psiquiátricos sem acompanhamento médico é perigoso, pois o uso indiscriminado pode levar o usuário à dependência, deixando-o vulnerável à crises de abstinência. Além disso, está sujeito ao que é chamado de “tolerância” – o organismo se habitua com o medicamento e ele vai aumentando cada vez mais a dosagem, para fazer efeito, ou troca-o por outra substância psicotrópica, muitas vezes mais forte e, em consequência, com mais efeitos adversos e contraindicações.
Outro perigo no uso indiscriminado dessas substâncias é a existência de interações medicamentosas. Isso ocorre a partir da ingestão de dois ou mais medicamentos que podem causar alterações do pensamento, rebaixamento da consciência, vômitos, convulsão e, em casos extremos, levar à morte.
“É muito importante que as pessoas entendam o risco a que estão se expondo com a automedicação. Em qualquer situação, é necessário procurar um médico para receber as orientações necessárias”, frisou.