Uma investigação da Polícia Federal descobriu que um grupo italiano especialista no refino de ouro teve sua produção alimentada por garimpos ilegais na terra indígena Kayapó, no sul do estado do Pará. A empresa Chimet SPA Recuperadora e Beneficiadora de Metais, sigla em italiano para Química Metalúrgica Toscana, é uma gigante do setor e ocupa a posição 44 entre as empresas que mais faturam na Itália.
Graças à compra dos metais extraídos de áreas proibidas da Amazônia, e ‘legalizado’ de forma fraudulenta no estrangeiro, a empresa lucrou em 2020 mais de 3 bilhões de euros, equivalente a cerca de R$ 18 bilhões. O número representa um aumento de 76% na receita da metalúrgica em relação a 2019.
O esquema foi desvendado pela deflagração da Operação Terra Desolata. Na ocasião, a Polícia Federal expediu 12 mandados de prisão e pediu o bloqueio de R$ 469 milhões dos investigados. Atualmente, após três meses, todos foram soltos devido à habeas corpus.
Em entrevista ao Repórter Brasil, a Chimet afirmou que sempre compra o metal acompanhado de documentos que atestem sua legalidade. Contudo, a empresa reconheceu o “risco de que efeitos negativos possam ser associados ao comércio e exportações de minerais de áreas de alto risco”.
O Brasil se encaixa no conceito de “alto risco” da empresa devido a vários fatores como a facilidade de fraudar a origem dos minérios e frágil fiscalização de órgãos públicos como a Agência Nacional de Mineração (ANM) e o Ibama. Nunzio Ragno, presidente a associação italiana de ouro, afirma que o ouro ilegal é uma realidade no mercado europeu.
“As empresas compram ouro de procedência ilegal para atingirem certos padrões internacionais de quantidade de produção”, afirmou.
Uma das maiores dificuldades nesse tipo de investigação é a “legalização” do ouro ainda em solo brasileiro antes de ser exportado. Como há um documento atestando a procedência supostamente lícita do metal, o problema passa a ser exclusivamente das autoridades brasileiras.
*com informações de Folha de S. Paulo