Uma turba de garimpeiros atacou a tiros e com fogo a aldeia da líder munduruku Maria Leusa, nesta quarta-feira (26). O ataque é uma represália a uma megaoperação coordenada pela Polícia Federal contra a mineração ilegal.
“Venham, por favor, está uma confusão, vão queimar minha casa. Adonias [Munduruku] está dando tiro no cais, em todo lugar. Eles estão dando tiro, por favor, me ajuda”, disse Maria Leusa Munduruku, em mensagens por áudio por volta das 13h desta quarta-feira (26). Em seguida, a comunicação de internet foi cortada. Ela mora na aldeia Fazenda Tapajós, perto de Jacareacanga, no sudoeste do Pará.
Imagens mostram a casa de Maria Leusa destruída pelo fogo e, em foto tirada do outro lado do rio Tapajós, é possível ver ao longe a coluna de fumaça saindo da aldeia.
Policiais federais que estão na região informaram que o grupo de garimpeiros tinha aproximadamente cem integrantes. Munidos de paus e pedras, tentaram invadir a base da Polícia Federal montada na região e incendiar viaturas, conforme a reportagem da Folha de S. Paulo.
Os policiais reagiram com bombas de gás lacrimogêneo. Ninguém foi preso. A Polícia Federal informou que fez um sobrevoo na área e identificou os pontos de garimpo ilegal.
O balanço da operação, que foi iniciada nesta terça-feira (25), ainda não foi divulgado. Até o momento, os policiais conseguiram destruir maquinário pesado em cinco diferentes áreas de garimpo.
Motores menores e combustível também foram apreendidos durante a operação. A expectativa é de que a ação policial seja concluída nesta quinta-feira (27).
Os crimes investigados são de associação criminosa, exploração ilegal de matéria-prima pertencente a União e delito contra o meio ambiente.
Nos últimos anos, Maria Leusa tem recebido diversas ameaças de morte por sua oposição ao garimpo, e já teve de sair algumas vezes da região de Jacareacanga para se proteger.
Envolvido com a mineração ilegal, Adonias Kaba Munduruku é apontado como o responsável pelo ataque.
Em agosto do ano passado, ele foi um dos sete mundurukus que embarcaram em um voo da FAB (Força Aérea Brasileira) de Jacareacanga a Brasília, para se reunir com o governo sobre a legalização da mineração ilegal em terras indígenas, em encontros sem participação das lideranças que sem opõem à regularização. A viagem está sob investigação do Ministério Público Federal.
A mineração ilegal tem destruído dezenas de quilômetros de rios, contaminado a água com mercúrio e levado doenças e álcool ao território munduruku, além de ter provocado cisões internas, com diversos episódios violentos.