Se lançarmos um olhar sobre o agir humano poderemos perceber o quanto se faz necessário em nossa sociedade o resgate de um agir consciente e responsável. O convite da reflexão de hoje será no campo da Ética, pois, trata-se de um dos conhecimentos que possui as ferramentas privilegiadas e capazes de suscitar uma reflexão a respeito do agir humano, de suas causas e consequências. Um pensar que nos fornece uma visão fundamental para a discussão dos pressupostos ético básicos para uma vida correta e feliz.
Uma grande preocupação que se coloca para o ser humano contemporâneo é sem dúvida quanto ao seu comportamento, atitudes e escolhas, no que diz respeito ao próprio trato com o ser humano (o outro), com a natureza e consigo mesmo. E antes mesmo de citar o respeito à vida como conclusão de todo um esforço racional exercido pela mente humana e pela sua existência, vale a pena citar um princípio ético transcrito por Kant, o princípio do dever.
Dever fazer o bem passa a ser uma ordem presente em nossas vidas, ou seja, não consiste em um simples enunciado, ou mesmo parte de uma simples argumentação lógica e retórica, mas que na sua essência é portadora da ideia de Bem como uma busca constante da vida, presente em nossos desejos e projetos, em nossos interesses pessoais e coletivos, em nossa existência. Nada disto poderia ser possível e real se não houvesse um contexto onde não existissem indivíduos que lutam e desejam o Bem Comum.
O que se pode afirmar é que todos nós desejamos a felicidade. E ser feliz implica também ter uma vida digna, o que para isto se faz necessário que todos reconheçam que a vida humana “deva” ser respeitada, no sentido em que cada ser humano, cada indivíduo tenha a possibilidade, e estas lhes sejam garantidas, de ser feliz. Para isso é necessário e ao mesmo tempo urgente, que toda humanidade construa meios para que todos sejam promotores do bem e da vida em comum, vivida com plenitude e com dignidade.
Tudo o que fazemos afeta primeiro a nós mesmos e consequentemente aos outros seres, aqueles que se fazem mais próximos. Ou como se pode dizer, que todas as nossas ações têm uma aplicação direta na vida e na história, em mim e nas pessoas que me cercam.
Nossa vida é construída de ações, de escolhas e decisões, de valores que aprendemos em nossa cultura, de nossas religiões e claro, de nossas mais íntimas convicções. Mas, como escolher de maneira correta a não prejudicar a mim e aos outros? O filósofo Aristóteles na sua obra Ética a Nicômaco (um dos livros mais fundamentais do pensamento ético), defende a vida teórica, a razão (prudência), como capacidade de discernir corretamente, “somente assim, poderá escolher corretamente para também poder agir corretamente construindo uma sociedade feliz”.
Muitas de nossas ações estão destruindo a vida, gerando a morte. O que fazer para mudar este curso degradante? Devemos repensar nossas ações, nossos valores, nossas escolhas. É imprescindível que a humanidade lance um olhar crítico e ético sobre suas práticas, focalizando de maneira intensa nos atentados contra a vida, as atrocidades cometidas que tornam a própria vida em mero objeto descartável.
A lista dos atentados contra a vida é vasta: as guerras, as cultura da violência, a pena de morte, as tiranias políticas, a eutanásia, a manipulação de células tronco, as intolerâncias fundamentalistas religiosas e ideológicas, a violência contra as mulheres, contra as culturas, contra o povos nativos, a violência urbana, o problema do tráfico humano, o racismo, e tantos outros, são realidades que atestam a perda do valor da vida bem como de sua dignidade.
A humanidade encontra-se em uma encruzilhada, para onde ir? Quais valores devem iluminar nossos próximos passos? Quais recursos temos para resolver nossos principais impasses éticos? Não é a falta de recursos econômicos, não se trata de desenvolvimento científico. Trata-se de assumirmos uma nova educação. Não somente a educação acadêmica, mas, aquela educação que nos torne mais éticos, mais compromissados com o outro, mais compromissados com a cidadania e a democracia, bem como mais capazes de respeitar e dialogar com o diferente. Uma educação que nos faça mais reflexivos e mais prudentes, e que nos torne menos impulsivos e não violentos. Se realmente é a felicidade que buscamos, é urgente mudar! É urgente nos reeducar e assumir novos caminhos e novos valores para nossa vida comum.
Por Sérgio Bruno
É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.