“Duas crianças faleceram no episódio de segunda-feira, 10. Após todos terem corrido dos tiros, elas ficaram perdidas. No dia 11, os adultos saíram à sua procura. No dia 12, encontraram os 02 corpos caídos na água”, afirma a Hutukara Associação Yanomami.
A informação da morte das crianças foi repassada pelas lideranças indígenas ao Ministério Público Federal (MPF) durante reunião em Boa Vista com o procurador da República Alisson Magural no início desta tarde.
Antes, os indígenas divulgaram uma carta enviada à Superintendência da Polícia Federal de Roraima pedindo a retirada “urgente” dos garimpeiros da comunidade Palimiú cerca de três meses antes do ataque sofrido pela aldeia, na última segunda-feira. Três garimpeiros teriam sido mortos e outras cinco pessoas feridas, entre elas um indígena por um tiro de raspão na cabeça.
Apresentado pelo líder indígena Ricardo Palimi Thëri, em Boa Vista, o documento foi protocolado no dia 18 de fevereiro. Nele, os indígenas afirmam “não aguentar mais” tanta destruição e morte.
“Os garimpeiros permanecem desde 2012 e até hoje já morreram 578 parentes Yanomami contaminados, e nenhuma medida foi tomada até hoje. Estão destruindo nossos rios, poluindo águas, peixes e todos os animais. Estamos enfrentando sérios problemas de saúde. Já não podemos mais tomar banho no rio e ficamos com queda de cabelos tanto de crianças e adultos por conta da forte química jogada no rio”. Já não aguentamos mais. Exigimos a retirada imediata dos invasores de nosso território, diz trecho da carta.
Os indígenas relatam preocupação com ameaças:
“Nesse momento, a comunidade de Palimiu está sem nenhuma assistência de saúde: os profissionais de saúde foram removidos por conta dos tiroteios. Também não tem nenhuma força pública de segurança permanente do local, e os garimpeiros continuam diariamente amedrontando a comunidade. Os garimpeiros estão circulando ao redor da comunidade armados em barcos. Na noite do dia 14 de maio entraram na comunidade, mas os Yanomami tinham fugido do mato para se proteger”, dizem os indígenas
Na terça-feira, um dia após o ataque, agentes da PF trocaram tiros com garimpeiros quando foram fazer uma diligência na comunidade de Palimiú.
O estopim para o ataque dos garimpeiros foi a apreensão de quadriciclos, 990 litros de combustível e materiais usados no garimpo. Nos áudios obtidos pelo GLOBO de supostos garimpeiros falando em grupo de mensagens, há diversas citações de que quem estava seguindo para acertar as contas com os índios eram “homens armados de fuzis e metralhadoras da facção”.
A Hutukara Associação Yanomami já havia enviado um ofício no último dia 30 de abril para os órgãos federais sobre a ocorrência de tiroteios entre indígenas e garimpeiros no Palimiú, na subida do rio em direção à base de Korekorema, no rio Uraricoera. Depois que o Ministério Público Federal (MPF) entrou com um pedido de liminar, a Justiça federal deu prazo de 24h para o governo enviar e manter tropa “permanente” no local.
O vice-presidente da entidade, Dario Kopenawa, afirmou, no entanto, que o clima na região continua tenso mesmo depois das diligências PF e do Exército.
— Chegaram mais 45 barcos essa última noite. Não temos segurança, estamos com medo e assustados. O Exército e a Polícia Federal foram lá, mas fizeram apenas um bate-volta — disse.