*Da Redação Dia a Dia Notícia
O Dia Nacional do Café é comemorado no Brasil em 24 de maio. No Amazonas, a produção do grão vem cada vez mais ganhando reconhecimento, não pela quantidade da safra, mas sim no campo da sustentabilidade e na qualidade dos grãos. Em Apuí (distante cerca de 455 quilômetros de Manaus), pequenos agricultores produzem desde 2012 o primeiro café agroflorestal orgânico, de forma 100% sustentável. Já em outros municípios do Estado, a produção do café clonal é destaque de investimento em pesquisas e experimentações.
Na década de 1980, agricultores na região, localizada no sul do Amazonas, tentaram cultivar o café de forma convencional, mas por conta da crise e por baixa produtividade, abandonaram o cultivo. Após uma visita do Instituto de Conservação e Desenvolvimento da Amazônia (Idesam), técnicos descobriram que a sombra das árvores na plantação abandonada acabou favorecendo o surgimento do café tipo Robusta, como relata o diretor do Idesam, Mariano Cenamo.
“Isso permite uma maturação mais uniforme dos grãos, um acúmulo de açúcar maior — conferindo mais qualidade — e ainda reduz a necessidade de mão de obra, de trato cultural e de adubo”, explicou Cenamo, no lançamento virtual da obra ‘Do projeto à empresa de impacto: A experiência do Café Apuí Agroflorestal’, em abril.
Em 2015, em parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), o Idesam lançou um guia técnico para a produção do café agroflorestal na Amazônia, baseado na experiência dos produtores de Apuí. Agricultores interessados podem acessar o material em idesam.org.br/biblioteca.
Hoje, cerca de 30 famílias cultivam o Café Apuí Agroflorestal. Ao longo da trajetória do projeto, 59 famílias foram beneficiadas com um aumento médio de 300% da renda anual e 66% de aumento na produtividade do café. Na loja virtual, o pacote do café torrado e moído de 250g sai por R$ 22,90.
Café clonal
No Km 922 da BR-174, na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), um projeto inédito de cultivo de 15 clones de café teve a primeira colheita realizada no último dia 17. O projeto se dá em parceria com a Embrapa Rondônia, Embrapa Amazônia Ocidental e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) com três ensaios de avaliação para o desempenho de clones de Coffea canephora, em Manaus, Itacoatiara e Humaitá.
De acordo com Hugo Tadeu, engenheiro agrônomo da Ufam, o diferencial do projeto é a realização de uma competição de clones de cafés, simultaneamente, em unidades de pesquisa de várias regiões do Amazonas.
“Nós colocamos 15 clones de café, testando a adaptabilidade e produtividade, em diferentes regiões do Amazonas. Na Fazenda Experimental há cerca de 2500 metros quadrados de plantação, com 640 mudas e a colheita será feita de forma escalonada já que há um diferencial de tempo de maturação. Nós objetivamos qualidade e a nossa ideia é colher frutos selecionados. Os grãos, depois de colhidos, servirão para avaliar a adaptabilidade e produtividade dos diferentes clones”, explicou.
As mudas do café Coffea canephora que estão sendo plantados são clones produzidos pela Embrapa Rondônia, a partir de galhos de outra planta, por meio de estaquia e não por sementes. Em 2012, a Embrapa lançou uma variedade chamada BRS Ouro Preto e em 2019, foram lançadas mais 10 variedades. O material que veio para os testes no Amazonas reúne parte dos materiais da primeira variedade (BRS Ouro Preto) e mais os 10 novos materiais produzidos recentemente.
As unidades de referência tecnológica (URTs), implantadas no estado do Amazonas, com cultivares da Embrapa, foram as primeiras áreas de cultivo de café clonal no estado. Na URT de Silves, implantada em 2015, na sede da Associação Solidariedade Amazonas (ASA), a produtividade média dos cafeeiros, em três safras, foi de 86 sacas por hectare (sacas/ha) e, no ano de maior produtividade, foram 106 sacas/ha.
O Grupo 3 Corações – maior empresa de cafés do país – tem uma unidade fabril em Manaus com uma demanda mensal de sete mil sacas de café de 60 quilos da espécie canéfora (conilon e robusta). Segundo Joseilton Lopes, gerente Industrial da indústria, 40% desses cafés são de Rondônia e há interesse na compra da produção do Amazonas, desde que estes cafés respeitem os critérios de sustentabilidade e qualidade exigidos pelo Grupo.