Há duas semanas, a lista de livros mais vendidos no Brasil vem lembrando muito a grade de programação de um canal de desenhos japoneses. Dos 20 títulos no topo do gênero ficção na lista publicada pelo Publishnews (e usada como referência para o mercado editorial) oito são mangás — na semana passada eram 10. Três volumes de “Demon Slayer- Kimetsu no Yaiba”, de Koyoharu Gotouge, aparecem entre os mais vendidos, junto com outros três de “Jujutusu Kaisen”, um de “My Hero Academia” e um do já clássico “Naruto”. A procura por “Demon Slayer” se intensificou após o lançamento de um filme inspirado no mangá.
— A gente identificou, no ano passado, uma grande demanda do mercado por títulos que estavam esgotados — diz Douglas Bettioli, analista de marketing da Panini, responsável pelos títulos de mangá e HQs da editora. — Percebemos que as solicitações vinham quando serviços de streaming divulgavam a adaptação de mangás para séries e filmes. A partir disso, decidimos reimprimir algumas edições.
E deu certo. O mangá “Kimetsu No Yaiba” foi lançado no Japão em 2016, mas chegou ao Brasil primeiro como anime, em 2019, com 26 episódios, e hoje está disponível na Netflix e no Crunchyroll. Os fãs aguardam ansiosos a chegada da segunda temporada, com previsão ainda para este ano.
— Assim que o mangá é lançado no Japão, nós ficamos de olho para avaliar o potencial de venda — explica Bettioli. — O Brasil tem um mercado grande de mangás desde a década de 90, com a chegada de animes na TV aberta, como “Dragon Ball”, por exemplo.
O Crunchyroll é um exemplo do sucesso dos animes por aqui. O site especializado em desenhos japoneses chegou ao Brasil em 2012, e hoje estamos entre os 5 países com mais acessos. Em 2020, o Crunchyroll foi comprado pela Sony, em uma transação bilionária.
“A Crunchyroll chegou ao Brasil fornecendo legendas em português para o popular anime ‘Kuroko’s Basketball’. Hoje, temos em torno de 750 títulos e 8 mil horas de anime no catálogo, incluindo desde clássicos populares como ‘Cavaleiros do Zodíaco’ e ‘Naruto’, até os grandes sucessos do momento, como ‘Black Clover’ e ‘Jujutsu Kaisen'”, disse a assessoria do Crunchyroll, em nota.
“Naruto” é outro mangá que aparece na lista de mais vendidos e já se tornou conhecido mesmo fora do círculo dos fãs. O quadrinho está na terceira edição no Brasil, sendo que a primeira chegou ao país em 2007, ano em que o anime estreou no país, na Cartoon Network.
— Desde antes disso o anime já tinha certa popularidade no Brasil, pois havia sites dedicados a legendar os episódios e os disponibilizar na internet quase que simultaneamente com o lançamento dos episódios no Japão — diz Bettioli.
A popularização da internet é apontada como um marco para os mangás e animes no Brasil por Cristiane Sato, representante da Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações (Abrademi). A associação foi fundada em 1984, por estudantes da Escola de Comunicação da USP, para difundir a história dos mangás e animes no Brasil por meio de cursos e eventos.
— A internet popularizou de vez o negócio aqui. “Cavaleiros do Zodíaco”, por exemplo, foi lançado no Brasil dez anos depois de sair no Japão. Agora, os fãs assistem aos desenhos na mesma semana em que são lançados lá — explica Sato.
É que acontece também com “Jujutsu Kaisen”. O mangá ainda está em andamento no Japão, com 16 volumes lançados até o momento. No Brasil, a Panini lançou o volume 1 em agosto de 2020, e hoje está no volume 6. A versão adapatada para o audiovisual ficou disponível em novembro do ano passado na Crunchyroll. Já “My Hero Academy” começou a ser publicado em 2014 no Japão e chegou aqui em 2016 através da editora JBC. O título também estendeu sua presença também para o mundo dos jogos, disponíveis para Android e IOS.