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Crise de ansiedade coletiva

Normalmente as dores sentimentais são vistas como bobagem ou “coisa da cabeça”, algo que uma hora vai passar. São consideradas problemas menores e até mesmo falta de questões mais sérias ou de trabalho para fazer. As condições mentais e físicas não deveriam ser tratadas separadamente. Se olhássemos para os dois em conjunto, evitaríamos momentos de sofrimento.
Estamos vivendo um momento complexo em relação à saúde emocional, e os dados estão aí para comprovar. Segundo pesquisa pela Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país com o maior índice de incidência de ansiedade, com 9,3% da população.
E o tema veio à tona com ainda mais força recentemente, onde na última sexta-feira, estudantes de uma escola estadual em Recife, no Pernambuco, foram socorridos pelo serviço de emergência durante uma crise de ansiedade coletiva. Esse episódio é atípico e chamam atenção para fatores que prejudicam a saúde mental de crianças e adolescentes.
Em primeiro lugar, é preciso entender o que é o transtorno de ansiedade. A ansiedade é uma emoção que está presente em todas as pessoas em maior ou menor grau. Eu posso estar ansioso porque tem algo importante para acontecer, pois estou num momento de estresse, de muitas demandas, mas isso não quer dizer necessariamente que eu tenho um transtorno de ansiedade. O que caracteriza o transtorno é a persistência, é não estar relacionado a eventos reais e pelo quanto que prejudica o dia a dia das pessoas. Elas podem ser desencadeadas por um evento estressante ou ocorrer de forma inesperada, e geralmente duram de 5 a 20 minutos, podendo chegar a algumas horas.
Uma crise de ansiedade coletiva aconteceu com pelo menos 26 estudantes em uma escola de Recife na última semana. Mas como tantas pessoas podem entrar em crise de ansiedade ao mesmo tempo? Temos que avaliar que estamos falando de jovens e eles são muito influenciados por outros.
Provavelmente havia fator de estresse, isso gerou ansiedade em alguns e pode ter contaminado outros. Isso é o que é mais provável de ter acontecido, pode ter acontecido também um exemplo de comportamento de massa que torna as pessoas mais suscetíveis e influenciáveis às ações de outras. Esse fenômeno acontece, por exemplo, em estádios de futebol e grandes shows, eventos em que as pessoas migram para um comportamento mais grupal. E nessa faixa etária ocorre uma fase do desenvolvimento em que o jovem vive basicamente em grupo. Então, nesse contexto, a identificação dos adolescentes entre si torna esse comportamento de massa ainda mais fortalecido.
Todos os sintomas que os estudantes relataram, como pulso fraco, falta de ar, anseio de morrer, são sintomas de ansiedade. E a forma como ocorreu, pela auto-indução, caracteriza o que chamamos de ansiedade coletiva. A ansiedade é um mecanismo do nosso próprio corpo para nos proteger. Diante de um perigo, recebemos uma descarga de adrenalina que induz este sentimento de ansiedade. Mas e neste caso da escola em Recife, o que poderia explicar uma ansiedade coletiva, em tantos jovens ao mesmo tempo?
Você já parou para pensar algum momento sobre como fica nossa saúde mental pós-pandemia? Pois é, tai uma das respostas. Infelizmente estamos vivendo uma onda de uma nova pandemia, a pandemia de doenças emocionais. Nunca se falou tanto a respeito de saúde mental como nos últimos meses. Com a pandemia de Covid, enquanto as atenções de alguns se voltam para os impactos na economia, outros refletem e se preocupam com a saúde mental de todos, tão ou mais impactada quanto qualquer setor do país. Uma quarentena que mais parece uma guerra infinita, em que todos, de repente, se viram obrigados a ficar trancados em casa.
E tudo isso nos trouxe uma espécie de “estado de angústia coletivo”, um pânico generalizado que se manifesta não só em pessoas que já faziam algum tipo de acompanhamento terapêutico. Apatia, irritabilidade, distúrbios de apetite, insônia e até déficit de atenção são sintomas cada vez mais corriqueiros, efeitos decorrentes do desespero e da impotência perante um inimigo invisível chamado Coronavírus. E esses sintomas parecem se espalhar tanto quanto a pandemia. A sensação é de cansaço: cansamos de nos esconder, de usar máscara, de não poder abraçar, beijar, tocar, sentir, e tantas outras coisas que já foram pequenas, mas cuja ausência maximiza ainda mais o sofrimento.
Acima de tudo, é imprescindível saber respeitar os limites emocionais e o tempo de cada um, pois as estruturas psicológicas humanas são únicas e reagem de formas distintas, tanto a estímulos quanto a desafios. O ideal é exercitar a paciência quanto às próprias limitações, tentar levar a vida de um jeito mais leve.
Importante destacar também como está essa dinâmica familiar em casa. Os pais hoje em dia estão mais ansiosos e estressados do que as próprias crianças e adolescentes, daí emerge uma saúde mental fragilizada, ficando tudo junto e misturado: pais ansiosos/estressados, a pandemia, o ritmo acelerado da vida, a pressão em cima dos filhos, a incapacidade de lidarmos com as incertezas, filhos sem referência/orientação e ainda a síndrome normal da adolescência. É muita coisa pra eles lidarem.
Atendo alguns adolescentes e crianças em meu consultório, que desabafam situações e emoções que não conseguem falar com seus pais, precisamos desmitificar que terapia é coisa pra gente maluca. “Coisa de gente doida”: por que a terapia ainda é vista com preconceito? “Sempre achei que você tinha cara de doida”; “É frescura”; “É dinheiro jogado fora”.
Frases como essa são muito comuns no dia a dia de quem faz terapia. Tanto que muitas pessoas decidem nem compartilhar esse fato. Mas por que um tratamento reconhecido cientificamente é tratado como algo luxuoso ou só para quem tem problemas sérios?
E para finalizar deixo meu conselho com algumas estratégias, precisamos falar mais sobre nossas dores emocionais, muitas vezes, quando fenômenos assim acontecem, nossa tendência é não querer falar sobre, achando que isso pode estimular novos eventos. E na verdade, é o contrário. A gente poder pensar em reuniões de troca e de conversa para poder ver saídas sobre essa situação que passou, poderíamos pensar em disciplinas escolares que possam abordar temas como saúde mental.
Em meio a tantas tentativas de manutenção da saúde mental, despontam duas como salvaguarda: a terapia e a tecnologia (terapia on-line). Antes envolvia tabus, mitos e muitos paradigmas, agora é bastante aceita pela sociedade, que já demonstra uma procura muito maior por esse tipo de serviço.
E para finalizar, resta apenas uma dica: cuide-se, pois nessa tarefa – assim como em sua família – você é um ser insubstituível!

Por: Samiza Soares

Terapeuta e Palestrante formada em psicanálise e hipnoterapia clínica verbal e não verbal pelo Instituto Lucas Naves, Omni Hypnosis Training Center e pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (IBPC) e Massoterapeuta Tântrica, pelo espaço OM HARA – Massoterapia Holística.
Iniciei minha trajetória há mais de 7 anos nas áreas de psicanalise, terapia de desenvolvimento pessoal, comportamental, humano e profissional com protocolo de atendimento para executivos de alta performance. Desenvolvo abordagem com ferramentas de Constelação Familiar, Hipnose Clínica, Verbal e Não Verbal, entre outros com várias formações nacionais e internacionais. Atuo em alguns Países como: Brasil, Estados Unidos e Portugal com atendimentos online e presenciais.
Trabalha com sessões individuais e com casais, atendendo em consultório particular, plantão terapêutico emergencial, além de atendimento domiciliar e atendimento on-line.

Instagram: @samiza

WhatsApp: (92) 99237-1973

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