Search
booked.net
Search
Close this search box.

Covid-19: Conselho Nacional dos Direitos Humanos pede exumação dos corpos de indígenas

Migrarte 2018 - Encontro celebra o Dia Mundial do Refugiado e a Semana do Migrante. O evento acontece no Memorial dos Povos Indígenas. Na foto, índios da etinia Kariri Xokó, de Alagoas, fazem apresentação

O Conselho Nacional dos Direitos Humanos pede a exumação dos corpos de todos os indígenas vítimas de Covid, a exemplo do que está previsto no Plano Integrado de Contingência de Sepultamentos de Roraima, e, por fim, que os povos originários possam cumprir as celebrações do rito em respeito à memória dos seus mortos, a posteriori, sob as expensas do poder público como responsabilidade do Estado.

A solicitação foi divulgada por meio de uma nota, emitida pelo CNDH , se solidarizando com as mães Yanomamis no ‘cuidar das almas de seus bebês’. Segundo o conselho, em maio deste ano, três mulheres do grupo Sanöma, da etnia Yanomami foram afastadas da sua Aldeia denominada Auraris juntamente com seus bebês e levadas para Boa Vista, capital de Roraima, com suspeita de pneumonia.

Durante o tempo de internação, nos hospitais, as crianças foram contaminadas de Covid-19, e em consequência vieram a óbito. Imediatamente, as mulheres indígenas foram apartadas de seus filhos sem saber que os corpos dos bebês seriam enterrados, e foram. É como se os corpos de seus bebês desaparecessem tornando para elas um peso ao voltarem para a aldeia sem levarem os corpos de seus filhos. Se isso ocorre é como se tivessem deixado na cidade uma parte delas mesmas, então ficariam a perambular sem rumo.

A nota diz ainda que, se a dor de milhares de famílias brancas, diante do protocolo de biossegurança, quando são informadas que os corpos de seus entes queridos foram enterrados sem que se permitam se despedir nesses tempos de pandemia, imagina as mulheres Yanomami que não puderam cumprir o ritual próprio de seus povos.

Acrescente-se a isto tudo a falta de transparência, como foi o caso com essas mães, ao não serem comunicadas da morte de seus filhos nem ao menos consultadas sobre o destino dos corpos dos bebês num total desconhecimento das tradições de um povo. Para que o corpo de um indígena possa morrer para si e para a comunidade há um rito.

Desde o dia 09 de abril quando ocorreu a morte do primeiro adolescente Yanomami, de 15 anos, acometido de Covid-19, o desespero se multiplicou com sequente desrespeito aos povos indígenas e desconhecimento a tradição desses povos. O fato de o serviço público não informar aos povos indígenas sobre os riscos de contaminação, ao permitir que os bebês ficassem ao lado das mães, e, sobretudo não as consultasse sobre a destinação dos corpos de seus filhos ao morrerem, denota um comportamento desumano e desrespeitoso por parte do poder público que precisa urgentemente ser corrigido e a situação reparada.

“É fundamental importância para uma reestruturação das coordenações indígenas para que possam contar com intérpretes em seus quadros, a fim de orientar os familiares sobre a causa do óbito e destino do corpo como ponto focal do respeito aos povos originários. Assim como também um espaço reservado aos corpos de indígenas da etnia Yanomami, para garantir a posterior identificação do local de sepultamento.”

 

Tradição

Reza a tradição indígena que enterrar o corpo de um Yanomami é arrancá-lo do mundo dos humanos, tornando-se um processo inconcluso, sem paradeiro para a própria alma. O ritual mortuário, reahu, deve ser realizado na própria aldeia dos parentes do falecido, onde suas cinzas funerárias devem ser partilhadas entre seus parentes. Onde em nenhuma hipótese se enterra um corpo.

Entre no nosso Grupo no WhatsApp

Antes de ir, que tal se atualizar com as notícias mais importantes do dia? Acesse o WhatsApp do Portal Dia a Dia Notícia e acompanhe o que está acontecendo no Amazonas e no mundo com apenas um clique

Você pode escolher qualquer um dos grupos, se um grupo tiver cheio, escolha outro grupo.