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Concerto-espetáculo “Pianíssimo” reuniu 93 artistas para valorizar a invenção no coletivo

Por Leidson Ferraz*

 

Sempre me emociono, quando uma orquestra entra em cena. Não pela formalidade de apresentação dos seus componentes, mas porque cada elemento ali é peça fundamental para a força e a beleza em coletivo. Essa também foi uma das características ressaltadas na abertura da programação do “Festival SESI Cultura Infância – Uma Visão de Futuro”, na segunda-feira 14 de outubro de 2024, num Teatro Amazonas repleto de pessoas de todas as idades. A entrada foi franca. Para além do grande público, o evento reuniu no palco 93 artistas, entre cantores solistas amazonenses, instrumentistas da Orquestra Amazonas Filarmônica, uma bailarina clássica e dois convidados especiais do Rio de Janeiro, a atriz-cantora Soraya Ravenle e o mestre musical Tim Rescala, regente e criador da obra apresentada, “Pianíssimo – A história de um piano encantado”.

 

Este concerto-espetáculo vem encantando plateias pelo país desde sua primeiríssima estreia, há 30 anos, e revela a aproximação entre Clara, uma menina que não suporta mais as aulas de piano clássico, e um novo instrumento de cauda adquirido, não por acaso chamado de Steinway, nome da marca artesanal mais famosa do mundo. O cansaço da garota vem pela forma dura do aprendizado, afinal, enfrentar a professora Dona Euterpe e sua régua de correção não tem sido fácil, apesar de todo o estímulo da mãe, Dona Gema, que transportou para a filha os sonhos que tinha de ser artista. Na verdade, Clara transita entre dois mundos de frustração, a da rígida orientadora, que outrora já foi aclamada cantora lírica, e a da matriarca impulsionadora, que despeja na filhota uma enxurrada de atividades a mirar o futuro.

 

No entanto, a menina já atingiu o seu limite e não simpatiza com o piano recém-chegado, até descobri-lo encantado, afinal, ele, além de tocar música, fala, dança e faz sair de dentro de si uma bailarina que é puro estímulo à invenção. “Pianíssimo – A história de um piano encantado”, além de reforçar que o estudo contínuo pode e precisa ser repleto de afeto e aprendizado, valoriza a expressão própria e a criatividade como elementos fundamentais à comunicação consigo e com os outros. Isso sem contar que é uma bela declaração de amor ao piano como o “rei dos instrumentos musicais”. A direção geral da montagem foi de Tércio Silva, com direção musical de Marcelo de Jesus, numa realização da Buia Teatro.

Soraya Ravenle é quem narra e vive toda essa aventura com muita graça e voz bem pontuada, além de representar a mãe sonhadora. As outras personagens são personificadas por quatro solistas convidados, o barítono Luiz Lopes (na pele de um dos carregadores do instrumento principal, que se arrisca num samba), o tenor Wilken Silveira (o próprio piano mágico, de canto encorpado e aconchegante), a soprano Dhijana Nobre (de voz aveludada para compor a bailarina traduzida no corpo real da intérprete Vanessa Viana) e a mezzo-soprano Thelvana Freitas (que se divide entre a impaciente professora de piano e uma hilária amiga da família que só sabe repetir um trecho de música, o momento de maior interação e diversão com o público). Efeitos de luz por todo o teatro – criação da designer Tabbatha Melo – também chamaram a atenção por valorizarem a arquitetura do espaço, dando um caráter ainda mais cênico àquela audição deleite.

 

A trilha, além de linda e diversificada, foi magistralmente desempenhada por toda a equipe, sob a regência e simpatia de Tim Rescala. Ele, inclusive, se deu ao direito de solar na personagem Kri-Kri, um garoto que aperta botões no teclado, e, ao mesmo tempo, desdobrar-se na condução de tantos músicos em cena, distribuídos por cordas, teclas, sopros e percussão. O resultado foi uma festa de celebração à música e ao poder que o coletivo tem, assim como a menina Clara aprendeu com seu piano e parceiros em sua residência – na inauguração pública do instrumento – o quão bom é criar em conjunto. Aliás, outro inventor de alegrias foi o mestre de cerimônias da noite, o cachorro Abelardo (interpretado pelo ator e manipulador Mário De Ballentti, da Cia. Caixa do Elefante, do Rio Grande do Sul), que não poderia ter dado tom mais descontraído à abertura de um evento de artes integradas, sinônimo de impulso à imaginação. Foi bom demais!

 

*Crítico convidado

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