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Como superar a morte de um ente querido?

O grande número de mortes causadas pela Covid-19 tem gerado angústia e incerteza em todos nós, e os protocolos necessários para evitar contaminações em funerais tornam as despedidas ainda mais difíceis e dolorosas, essa é uma das situações mais difíceis que a vida pode nos trazer. Ficando a incerteza de onde encontrar forças para continuar a própria caminhada, afinal, a morte não decretou o fim de tudo, precisamos continuar nossa caminhada, não é mesmo!?

A pandemia de Covid-19 está fazendo a humanidade refletir constantemente sobre o tema da morte, pois, além das vidas que se foram, também existe a morte de planos, sonhos e empregos.

Estamos vivendo uma triste e atual realidade, onde precisamos juntar forças e aprender a lidar com perdas muito impactantes, com a morte e ausência abrupta e definitiva de pessoas queridas em nossas vidas, é um processo extremamente particular e muito doloroso, ninguém o sentirá da mesma maneira, no sentido de demonstração, reações e emoções, pois cada um manifesta seu sofrimento de forma diferente para encontrar um alívio.

Existem 5 fases no luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Ainda, é válido ressaltar que essas fases não são lineares. De primeira, negamos a situação e achávamos que a vida iria seguir normal. Depois vem o sentimento de que não é justo passar por isso e tentamos acreditar que é algo passageiro. Quando a ficha cai, começam a surgir as reflexões a respeito da crise econômica e por todas as vidas que foram perdidas. Por fim, é preciso encarar a nova realidade e reformular o estilo de vida.

Em alguns casos, vem a negação de forma íntima, silenciosa, pessoas se mantêm na negação da morte do seu ente querido, a vida segue presa a um passado, porém, chegará o estágio de aceitação, e é crucial que não se confunda aceitação com esquecimento. Não há como superar a perda imaginando que, um dia, ela será totalmente deletada da memória. Aceitar também não é deixar de sentir, pois o sentir se modifica, mas não se esgota, não é incomum que, após o estágio da aceitação, acontecimentos resgatem sensações que se julgavam superadas. Datas específicas, imagens, lugares, cheiros, músicas… tudo pode gerar uma lembrança afetiva, capaz de restaurar sofrimentos, porém, isso não significa um retrocesso. É apenas testemunho de que o amor que sentimos não foi esquecido. O ente querido é parte de nós. Vive em nossa memória.

O luto se torna parte da essência, um marco permanente da história pessoal de cada um de nós, e devemos viver ele pois, é uma reação sadia, ainda que dolorida, um processo de luto varia de 6 meses a 2 anos, entretanto a partir do sexto mês já é possível verificar se existem sintomas de depressão. Se a tristeza não diminui e o indivíduo não consegue retomar a vida, fica a maior parte do tempo se isolando, choroso e infeliz, nesse caso deve-se procurar ajuda especializada.

Preserve a saudade, ela não deve morrer, ela não passa, mas sua representação se transforma. Isso quer dizer que no início, diante do impacto da perda, a saudade dói constantemente. Esta dor vai sendo redimensionada e aos poucos a saudade pode ocupar um lugar diferente. O aperto no peito, a angústia e o vazio podem ser substituídos por lembranças que oscilam entre o sentimento de falta e o carinho pela pessoa que se foi.

Os objetos fazem parte da memória e, claro, nos ligam ao falecido, como forma de manter a memória da pessoa viva. Mas, é importante ter um momento de despedida, tirar da casa os objetos que não são mais utilizados. Ficar com um objeto que remete à pessoa que se foi pode ser uma alternativa, mas um quarto inteiro sem ser mexido depois de um tempo passa a não ser mais saudável.

Para trazer conforto a quem sofreu uma perda muito grande, estar perto já é algo importante, respeitando também os momentos em que a pessoa quer estar sozinha. Além disso, são bacanas pequenos gestos de carinho, alguns convites que lembrem a pessoa que ela tem possibilidades de vida a seu dispor.

Busque fazer atividades que tragam um novo sentido para a vida, como grupos de apoio, esportes, religiões, filosofias de vida, cursos, mudança ou reforma de casa, atividades físicas, viagem etc. A ideia é reconstruir um sentido.
Tentar escrever uma carta para a pessoa que morreu, dizendo tudo o que gostaria de ter dito e se despedindo, pode ajudar a aliviar a dor da perda. Além disso, é bom também procurar lembrar-se do sorriso ou de alguma característica positiva da pessoa e recorrer a essa imagem sempre que estiver mal. Agradecer pelo tempo que passaram juntos e oferecer alguma coisa que foi produzido para essa pessoa, como um desenho ou um poema, também podem ajudar.

 

Faça trabalhos voluntários, transformar o sofrimento em boas ações é um dos caminhos de elaboração do luto, que pode ter impacto positivo na sua vida e na sociedade também. Alguém que sofre uma perda pela covid-19, por exemplo, pode se engajar em campanhas de conscientização para evitar a transmissão do vírus, doações de alimentos, entre outros… A ideia é fazer da dor uma possibilidade de aprendizado e de reconstrução.

Acredito que não há medicamento mais poderoso para a dor, que a ajuda ao próximo e o compartilhamento dos aprendizados.

Em nossas lembranças, podemos homenagear os entes queridos, encontrando gratidão pelo tempo que vivemos juntos. Enfim, uma saudade que não encerra o luto, mas o transforma numa compreensão superior, quando a falta encontra a paz. Sabemos que a pessoa não voltará mais, e é preciso se acostumar com essa ausência nos ambientes que vocês costumavam dividir.

A busca por apoio terapêutico, é muito importante na etapa de depressão pós luto, e não deve ser entendida como a procura pelo fim do sofrimento. A dor do luto não é um transtorno mental que precisa ser curado ou medicado. O luto precisa ser vivido. E o papel do terapeuta é auxiliar a travessia, não a ignorar ou silenciar. Na terapia, encontramos uma conversa que respeita nossos entraves, mas nos provoca a pensamentos novos. Um terapeuta não nos consola e diz que “tudo ficará bem”. Mas, nos ajuda a encontrar nossos próprios meios para, aos poucos, digerirmos a nova condição e nos adaptarmos, da melhor forma possível.

 

A minha reflexão aqui deixada, não se trata de dar receitas

Trata-se de abrir espaço para reflexão, pois, cada pessoa encontrará sua trajetória ímpar de aceitação do luto. Não existem fórmulas, embora o exemplo do outro possa despertar encorajamentos e inspirações. Por fim, a verdade é que nos falta uma educação para lidar com a morte, uma vez que ela faz parte da vida.

Finalizo lhe dizendo, que aqueles que amamos não morrem jamais, mesmo já se encontrando no Mundo Espiritual. E se nesse momento você está sofrendo com a morte de alguma pessoa querida, te convido a parar um instante e fazer uma prece por essa pessoa, pode ser um Pai-Nosso, a oração que o próprio Jesus nos deixou. Acredite, vai fazer muito bem ao seu coração.

 

*Por Samiza Soares

É terapeuta formada em psicanálise e hipnoterapia clínica pelo Instituto Lucas Naves e pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica (IBPC), respectivamente.
Trabalha com sessões individuais e com casais, atendendo em consultório particular, plantão terapêutico emergencial, além de atendimento domiciliar e atendimento on-line.

Instagram: @samiza

E-mail: [email protected]

Facebook: www.facebook.com/samizasoaresterapeuta

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