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Com a redução da tarifa de importação de bicicletas, Bolsonaro abre crise com bancada do Amazonas

Imposto, que hoje é de 35%, voltará ao patamar previsto na Tarifa Externa Comum do Mercosul, de 20%; parlamentares dizem que decisão vai prejudicar a produção na Zona Franca de Manaus
Segundo associação do setor de bicicletas, importação nunca passou do equivalente a 8% da produção nacional. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O governo Bolsonaro decidiu reduzir a tarifa de importação de bicicletas, o que gerou uma crise imediata com a bancada do Amazonas, preocupada com o impacto sobre a produção nacional. A medida foi anunciada na quarta-feira, 17, pelo presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais e está publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira, 18.

O Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu reduzir o Imposto de Importação de bicicletas, atualmente cobrado sob a alíquota de 35%. A resolução do órgão determina que a taxa deverá cair gradativamente, passando para 30% a partir de 1.º de março, para 25% a partir de 1º de julho e, por fim, para 20% a partir de dezembro deste ano, conforme reportagem do Estadão.

A redução da taxa acontece no mesmo dia em que a Petrobrás informa que vai reajustar os valores da gasolina e do diesel a partir desta sexta-feira, nas refinarias. Trata-se do quarto aumento apenas em 2021. O preço do combustível já acumula alta de 34,7% neste ano.

Com a decisão, o imposto sobre a importação de bicicletas voltará ao patamar previsto na Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC), de 20%. O Brasil havia incluído as bicicletas na lista de exceções à TEC em 2011, quando elevou a tarifa para 35%. “A alíquota de 35% é simplesmente indefensável para uma economia global como a do Brasil”, considerou a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike), em extenso documento enviado à Camex, em que pede o retorno da taxa menor, de 20%.

A bancada de parlamentares do Amazonas, no entanto, reagiu duramente à decisão do governo de reduzir as alíquotas de importação de bicicletas. Como o Polo Industrial de Manaus concentra a produção nacional de bicicletas, deputados e senadores do Estado reclamam que as fábricas e os empregos locais serão afetados.

Integrantes da bancada estão, agora, tentando convencer o ministro da Economia, Paulo Guedes, a reverter a medida. “Seguiremos incansáveis na luta pela manutenção das vantagens comparativas da Zona Franca de Manaus (ZFM), que sofreu um revés no polo de duas rodas”, diz o senador Eduardo Braga (MDB-AM).

“Essa medida fragiliza muito a produção no Polo Industrial de Manaus e, consequentemente, coloca em risco os empregos já existentes. Todo o setor de duas rodas conta com quase 14 mil trabalhadores. Em nome deles e de suas famílias, vamos batalhar para reverter essa situação”, disse o líder do MDB no Senado.

O deputado Marcelo Ramos (PL-AM), anunciou em suas redes sociais que deve se reunir com o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir a redução do imposto das bicicletas.

“O Brasil vive uma crise profunda e já são 14 milhões de desempregados. Baixar o imposto de importação das bicicletas significa gerar mais desemprego no Amazonas, onde estão as indústrias de bicicletas. A bancada já fez apelo ao ministro da Economia, Paulo Guedes, para que reveja a decisão”, afirma o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos.

Segundo ele, a medida inviabiliza a produção desse tipo de veículo no estado Amazonas.

“A medida da Camex simplesmente inviabiliza o polo de bicicletas da Zona Franca de Manaus e transfere empregos da Zona Franca para a China”, disse o deputado, após reunião virtual da bancada do Amazonas para tratar do tema.

Nos seis primeiros meses de 2020, as importações de bicicletas e partes somaram US$ 88 milhões, enquanto as exportações não passaram de US$ 1,7 milhão. As compras de componentes no exterior representam 90% desse movimento.

O documento da Aliança Bike mostra ainda que o volume total de bicicletas importadas nunca passou do equivalente a 8% da produção nacional. Por isso, a entidade alega que não haveria razão para uma tarifa tão alta sob a justificativa de “proteger a indústria nacional”.

“Esta tarifa exorbitante de 35% aumenta significativamente o preço da bicicleta no mercado brasileiro, dificultando o acesso da população a este produto essencial, enquanto aumenta o lucro de algumas poucas empresas”, completou a entidade.

A entidade – que reúne fabricantes, montadoras, importadores e distribuidores – lembrou que mesmo a taxa de 20% ainda é mais elevada que a média mundial. Citando dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), a Aliança Bike listou as tarifas de importação de bicicletas na África do Sul (7,5%), Estados Unidos (8%), China (14,4%), União Europeia (14,5%), México (15%). Já a Índia cobra uma taxa semelhante à do Mercosul, de 20%.

Multinacionais

Wilson Périco, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), disse que foi surpreendido pela decisão do governo e afirmou que não há grandes empresas brasileiras produzindo bicicletas, motocicletas, eletroeletrônicos e itens de informática no Polo Industrial de Manaus. “O que temos são grandes multinacionais instaladas no Brasil, gerando empregos para os brasileiros.”

Na sua avaliação, é equivocado achar que essas companhias vão reclamar de medidas como essa. Ele argumenta que o Brasil é um país que tem problemas, como a enorme carga tributária, deficiências logísticas e uma legislação trabalhista nociva ao investidor. Tudo isso encarece a produção local. “Essas multinacionais estão instaladas em outros países e o que elas mais querem é sair desse ambiente que é tão nocivo ao investidor”, afirma.

Segundo o presidente do Cieam, cabe ao governo sinalizar o que pretende: gerar emprego para os brasileiros ou abrir a importação desses produtos e levar essas multinacionais  a produzirem fora do País e, gerarem empregos no México, na China, e exportarem seus produtos para o Brasil.

No ano passado, as indústrias de duas rodas  do Polo Industrial de Manaus geraram 14 mil empregos diretos e indiretos. O setor foi o que registrou o maior crescimento entre os demais produtos fabricados na Zona Franca.

 

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