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Coletivos avaliam pré-candidatura assumidamente gay à Prefeitura de Manaus

Representantes de setores sociais veem a candidatura como um sopro de renovação na política. (Reprodução/Divulgação)

*Da Revista Cenarium

Uma pré-candidatura assumidamente homossexual foi lançada pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), com o militante e ativista social Paulo Trindade como postulante à Prefeitura de Manaus. A candidatura poderia ser mais entre tantas no universo de nomes que se lançam no intrincado sistema partidário brasileiro, se não fosse por um detalhe: Paulo representa uma comunidade que está no centro do polarizado debate de gênero no Brasil.

A reportagem da REVISTA CENARIUM conversou com nomes da cena artística, representantes de entidades e movimentos, para saber qual o impacto da candidatura de Paulo para Manaus.

Para o psicólogo e presidente da Articulação Amazônica de Povos de Matriz Africana (Aratrama), Pai Alberto Jorge, a candidatura de Trindade é motivo de comemoração. “Enquanto afro-brasileiro LGBTQI+, recebo com extrema alegria e positividade a candidatura do Paulo Trindade”, exortou.

Segundo Alberto Jorge, o pré-candidato tem “voz e vez” porque é um nome viável dentro de um espaço local. “Quero também parabenizar a ousadia do PSOL por lançar essa candidatura que, diga-se de passagem, não teria o menor espaço na direita e até mesmo em alguns partidos de esquerda, ele no máximo seria candidato a vereador”, contextualizou.

Presidente do OAB/AM, Marco Choy acredita que candidatura traz luz aos debates sobre as minorias (Reprodução/Internet)

Momento histórico

O psicólogo e líder religioso avaliou o momento político. “Essa candidatura está para Manaus, o que a candidatura de Sandrali Bueno, candidata a vice-prefeita de Pelotas (RS), está para o Rio Grande do Sul”, comparou. “Sandrali é mulher preta, mãe de santo e petista. Então para nós, a candidatura do Paulo é histórica”, destacou Alberto.

Com mais de dois milhões de habitantes, Manaus é a maior cidade do norte brasileiro e um emaranhado de problemas a serem resolvidos (Reprodução/Internet)

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/AM), Marco Aurélio Choy, também aplaudiu a inciativa. “Acho que a candidatura representa um seguimento importante que deve ser respeitado, porque apesar da expressão ‘minoria’, não acredito que são tão minoria assim… vejo mais como setores invisibilizados da nossa sociedade e que precisam ter representatividade”, pontuou.

Questionado sobre o debate entre ‘esquerdas e direitas’ no que diz respeito à proposta do psolista, o presidente da OAB foi taxativo. “O povo está cansado da dicotomia ‘esquerda e direita’, o que é importante mesmo é que ele (Paulo Trindade) consiga levantar suas bandeiras de luta e que isso beneficie o povo”, conclui.

“Mais que um bloco…é preciso uma escola de samba”

Já o militante cultural, diretor do espaço ‘Casarão de Ideias’ e doutorando em administração, João Fernandes, o momento é de cautela. Apesar de considerar importante a postura do PSOL e de Paulo Trindade, Fernandes considera que é preciso mais que representatividade. “Primeiro temos que avaliar o que é estar no cargo de prefeito. Representar é importante? Sim, mas administrar vai além. Porque quando se é gestor, você não tem gosto; o gosto do outro é o seu gosto”, sentenciou.

Para ele pensar em Manaus é um desafio que vai além das representatividades. “É válido mostrar a cara, mas é preciso ousar em ser forte, em ter um plano de gestão e ser assertivo porque se formos olhar a realidade atual do País, iremos perceber que entramos numa aventura para presidente e hoje temos um País sem agenda”, conjecturou.

Para o ativista cultural e administrador João Fernandes, a candidatura é salutar, mas ter uma agenda de governo é fundamental (Reprodução/Divulgação)

O administrador não inviabiliza o candidato do PSOL, mas chama atenção para o que considera pertinente. “Não podemos ser panfletários, temos que estar preparados administrativamente para as demandas de Manaus até porque estamos lutando contra uma extrema direita que não pode se fortalecer”, ponderou.

Para encerrar, o ativista saudou a candidatura e usou de uma alegoria para externar suas observações. “Representatividade é importante, mas tão importante quanto é ter um plano de gestão pública. E como sou artista, vou ilustrar da seguinte forma: é preciso mais que botar um bloco na rua, temos que botar uma escola de samba inteira!”, finalizou João Fernandes.

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