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Coletividade e Progresso

 

A política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças.

Hannah Arendt

 A história como mestra da vida nos tem mostrado o quanto necessitamos de uma abertura cada vez mais pautada pelo respeito e credibilidade na capacidade de dialogar, de debater nossos maiores desafios, bem como de manter cada vez mais vivo o desejo coletivo e a defesa do bem social. Desejo este que muitas vezes se faz ofuscar frente aos inúmeros conflitos ideológicos, políticos, econômicos, religiosos presentes em nossa sociedade.

É bem verdade que possuir determinada inclinação ideológica não deveria ser para nós um problema, já que se trata de um direito adquirido, claramente expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e também na Constituição Federal do Brasil (1988) a liberdade de expressão. Porém, talvez o que se mostra a nós como maior impasse que enfrentamos esteja no acirramento de uma polarização que tem feito parte do cenário sociopolítico em vários países e também no Brasil.

É justamente neste ponto que a história passa a ser a nossa grande mestra, pois, em todas as vezes que a atitude do diálogo falhou, abriu-se margens para inúmeros conflitos e até mesmo guerras, ao sofrimento dos mais necessitados, à morte do inocente, ao sofrimento de tantos indigentes. No processo histórico, a chamada sociedade civilizada entendeu que a imposição de ideias e o uso da força não configuram em uma prática genuinamente humana, democrática e pacífica, mas naquilo que denominamos sociedade da barbárie.

Os conflitos bélicos, as guerras, o desentendimento e a não abertura para dialogar de forma mais pacífica nos deixa uma lição, de que muitos recursos se gastam, de que muitas vidas se perdem, mas principalmente, de que os problemas nunca se resolvem, e que na pior das hipóteses, se agravam cada vez mais, nos colocando tristemente cada vez mais distante de resolvê-los. Em uma escala menor, porém não menos preocupante, está a sociedade brasileira dividida e muitas vezes impossibilitada de resolver suas demandas de forma pacífica e respeitosa.

Viver humanamente é viver socialmente, e nossa vida está repleta de necessidades sociais, morais, legais, éticas. O período moderno de nossa história esteve carregado de questões sobre direitos humanos, sobre a política. Filósofos como Rousseau e Locke defenderam ideias como a vontade geral, a propriedade privada, sobre os “direitos do cidadão”, bem como da vivência democrática baseada no respeito ético e na participação.

A filósofa Marilena Chauí nos orienta para a reflexão de que na sociedade democrática, o princípio democrático do conflito é efetivado pela discussão e pelo confronto de interesses, ideias e ideais. Pensando desta forma é de se esperar que o povo, o cidadão se lance em busca do possível, a partir de dificuldade e imprevistos, como também na possibilidade de poder participar do processo decisório de forma livre e responsável.

Em minhas leituras e vivências como um cidadão brasileiro sempre me questionei: por que em determinados momentos de grande necessidade a classe política, defensora da vontade do povo não se une para resolver, e minimizar cada vez mais as pautas relacionadas como grandes necessidades, de pensar e decidir as melhores soluções e propostas para podermos, juntos tocar nosso país?

Infelizmente no processo político atual em nosso país, os ânimos se encontram profundamente polarizados. Poucas parecem ser as possibilidades de diálogo, que por sua vez se tornaram mais restritas e escassas, e poucos são aqueles que se dispõem de forma aberta, ética e respeitosa em busca do apaziguamento dos ânimos. Infelizmente, estando estes em ebulição pouco se pode esperar que o cenário mude.

Não gostaria de pensar desta forma, mas será que nos falta a capacidade idealizar e construir o bem coletivo e o que é melhor para o povo brasileiro? Imagino que aqueles que deveriam garantir um diálogo institucional sério e aberto, as nossas lideranças políticas, falham na tarefa de agregar melhor a sociedade, acalmar os ânimos, buscar o melhor para todos, mas que muitas vezes acentuam ainda mais as divisões e a indisponibilidade para juntos encontrarem os melhores caminhos.

É triste pensar que somos concidadãos, que compartilhamos da mesma cultura, que somos fruto da mesma história, do mesmo povo brasileiro, claro, respeitando-se aqui nossas características mais regionais neste contexto tão diverso do qual fazemos parte. Mas infelizmente nem sempre caminhamos para um bem maior, para um bem social, comum, coletivo.

Falta-nos mais humanidade? Carecemos de um olhar e de uma sensibilidade mais empática e mais comprometida como outro, com a vida, com a natureza, com nossos concidadãos? É triste perceber que a violência aumenta, que pessoas não possuem as mesmas condições básicas para viver com dignidade. É lamentável ver nosso povo sofrer com as consequências das desigualdades sociais.

Assim como é triste perceber que em muitos momentos a classe política não olha de fato para estas demandas tão urgentes de nosso povo. Nos causa uma certa frustração e certamente uma descrença para com as instituições que dirigem nosso país, pelo descaso com o povo, pelas constantes denúncias de corrupção e escândalos cada vez mais recorrentes.

Por outro lado, do lado de cá, como cidadão que sou, observo atônito ao crescimento cada vez mais presente de visões individualistas, de busca por carreira, porém, muitas vezes descomprometidas em se fazer o bem. Percebemos que em muitos aspectos o que está valendo é o cada um por si e todos por ninguém.

O que faz de nós uma sociedade civilizada? O que faz de nós seres diferenciados na natureza e na existência? Entre inúmeras qualidades e capacidades a espécie humana aprendeu que quando age em coletivo ela pode muito mais, pode vencer obstáculos naturais, pode construir o impossível, pode salvar vidas, e quando a humanidade pensa o novo ela melhora as condições de sua existência em todos os aspectos. No entanto, este é um processo que não desenvolvemos de forma isolada, mas, em conjunto, por dias melhores, pelo progresso, pelo bem maior.

 

Por Sérgio Bruno

É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

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