O Rio Negro em Manaus atingiu 30 metros na manhã deste sábado, segundo divulgação da Defesa Civil Municipal. Esta já é a maior cheia da história em 120 anos, desde que o nível do rio começou a ser registrado. Ruas do Centro de Manaus e outros 15 bairros estão alagadas. Casas foram tomadas pelas águas e pelo lixo.
No último dia 30 de maio, o rio já havia alcançado o mesmo nível da cheia histórica de 2012, 29,97 metros.
Na última terça-feira, 1º, ultrapassou pela primeira vez a enchente de 2012, com 29,98 metros.
O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) já tinha previsto, em abril passado, que em junho o nível do Rio Negro em Manaus atingiria 30 metros, com margem de erro de 29,5 m a 30,5 m, e percentual de 80% de confiança.
A marca alcançada pelo Rio Negro é classificada pelo CPRM como cota de inundação severa.
A cheia também afetou o comércio no Centro de Manaus. Rotas de ônibus foram alteradas pela prefeitura e pontes precisaram ser construídas para o deslocamento de pedestres. Com isso, lojistas chegaram a ter perdas que atingiram metade das vendas. Apesar disso, o recorde da enchente na capital atraiu curiosos para a região.
A pesquisadora responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico do Amazonas, Luna Gripp, do Serviço Geológico do Brasil, em Manaus, afirma que as cheias vêm se intensificando nos últimos anos.
“Observamos uma mudança no padrão. Em Manaus, por exemplo, a grande cheia havia sido em 1953. Ela só foi ultrapassada em 2009, mais de 50 anos depois”, explicou. “Então, em 2009, entendeu-se que, a cada 50 anos, seria o período de retorno desse evento”. No entanto, como ressalta Gripp, três anos depois um novo recorde foi batido. “Se consultarmos a base de dados do porto de Manaus, sete das maiores cheias aconteceram de 2009 para cá. Sem dúvida, indica uma mudança no comportamento. São eventos cada vez mais extremos e frequentes.”
As contínuas e excessivas chuvas de 2021 em toda a bacia hidrográfica do rio Negro e na Amazônia, inundando diversas cidades, ameaçam as comunidades instaladas nas cabeceiras dos rios, dificultando as atividades agrícolas — essenciais para a segurança alimentar.
“Isso prejudica muito a capacidade de resiliência das comunidades. Uma coisa é acontecer um evento catastrófico a cada 50 anos. Outra é praticamente todo ano”, enfatizou Gripp.
Balanço divulgado pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) indica que 16,6 mil famílias amazonenses sofreram perdas na produção agrícola devido às enchentes e entre as culturas mais afetadas estão a de bananas, hortaliças, mamão e mandioca. O prejuízo já soma mais de R $189 milhões. O governo estadual está cadastrando as famílias afetadas para o pagamento de um auxílio.