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Chegada de balsas de garimpo aflige moradores do Juruá, no sudoeste do Amazonas

Embarcações foram avistadas pela primeira vez em unidades de conservação de uma das regiões mais preservadas da Amazônia.

*Da Redação do Dia a Dia Notícia 

Moradores de comunidades tradicionais do Juruá, uma das regiões mais resguardadas da Amazônia e protegidas por diversas unidades de conservação, estão em alerta após registrarem a chegada de balsas de garimpo. Eles temem que o local se transforme em um novo polo de atividades ilegais. As informações são da agência internacional Deutsche Welle.

Segundo informações de moradores, duas embarcações de garimpo se movimentam pelo rio Andirá, dentro dos limites da Reserva Extrativista (Resex) do Baixo Juruá, no sudoeste do estado do Amazonas. A unidade federal de conservação abrange parte dos municípios de Juruá e Uarini e tem uma área de aproximadamente 1.880 quilômetros quadrados.

Dias antes, outra balsa do tipo fora avistada na região. De acordo com representantes de organizações extrativistas, a embarcação foi interceptada por moradores, que pediram que os garimpeiros se retirassem, mas a localização atual da balsa é desconhecida.

Quilômetros rio acima, em Carauari, já dentro de outra unidade de conservação, a Resex Médio Juruá, moradores também se mobilizam para barrar uma possível invasão.

“É a primeira vez na história que uma balsa de garimpo adentra na região do rio Juruá”, comentou Manoel Cunha, morador e gestor da Reserva Extrativista do Baixo Juruá, à Nádia Pontes na Deutsche Welle.

O medo é que outros garimpeiros revirem aquelas águas em busca do metal precioso. “É uma atividade ilegal aqui, estamos numa unidade de conservação. Temos que barrar essas balsas agora antes que a situação saia de controle”, diz Cunha.

Juruá tem histórico de organização coletiva

A região do Juruá, afluente do rio Amazonas que nasce no Peru e percorre mais de 3 mil quilômetros, passando pelos estados do Acre e Amazonas, tem um histórico de forte organização social em torno do uso sustentável dos recursos que a floresta oferece.

Na Resex Médio Juruá, a cooperativa formada pelos extrativistas viabiliza que sementes de andiroba, murumuru e ucuuba sejam retiradas e processadas em comunidades até chegarem à indústria de cosméticos.

Do outro lado da margem do rio, moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari também se dedicam à atividade, além do manejo do pirarucu, espécie gigante da Amazônia que quase entrou em extinção devido à pesca predatória.

“Eles puderam organizar uma economia local para que conseguissem escoar e vender sua produção, associado a projetos de conservação ambiental e manejo sustentável”, diz Tiago Jacaúna, conhecedor da região e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Estado de vigilância

Logo após a notícia da chegada das balsas correr as comunidades dentro das unidades de conservação no Juruá, representantes das organizações locais pediram providências junto à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.

Segundo levantamento do Fórum Território Médio Juruá, existem pelo menos sete processos minerários abertos na Agência Nacional de Mineração com incidência na região, todos em busca de ouro. “Não há outorga legal para qualquer atividade de pesquisa ou extração de substância garimpável nestes municípios”, ressaltam as organizações.

Para os extrativistas do Médio Juruá, a Amazônia está repleta de exemplos de que o garimpo não oferece segurança às populações locais, traz impactos negativos ao meio ambiente e profundas ameaças ao modo de vida.

g1 também abordou a denúncia feita na Polícia Federal e MPF e lembrou o contexto de inação do governo federal no combate ao garimpo na Amazônia. No final do ano passado, imagens de “paredões” de balsas de garimpo no rio Madeira ganharam destaque na imprensa internacional. Já no começo de 2022, o governo federal chegou a lançar uma proposta para estimular a  “mineração artesanal” – um rebranding para o velho conhecido garimpo. O Metrópoles também repercutiu a presença garimpeira no rio Juruá.

Por falar em mineração, o Estadão destacou a explosão no número de pedidos de pesquisa e exploração de potássio no Brasil nos últimos meses. Desde o começo da guerra entre Rússia e Ucrânia, no final de fevereiro, o fornecimento de potássio russo e da aliada Belarus para o resto do mundo ficou comprometido, afetando diretamente a disponibilidade de fertilizantes agrícolas – um insumo central para a agricultura brasileira. O governo federal chegou a usar o risco de desabastecimento de potássio para ressuscitar seu projeto de lei que regulariza a mineração em Terras Indígenas – a despeito de as principais reservas potenciais de potássio no Brasil não se localizarem nessas áreas.

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