Mas se a questão das missas ficou “resolvida” nestes tempos de exceção, como ficam os demais sacramentos? De forma geral, tudo está suspenso. De acordo com o padre Denilson Geraldo, especialista em direito canônico e diretor do Instituto San Vincenzo Pallotti, de Roma, “depende de cada diocese as orientações para os sacramentos do Batismo, Crisma, Matrimônio e Ordem”. “Todavia, podemos constatar que dificilmente serão celebrados durante a vigência da pandemia”, afirma.
Um dos decretos recentes do Vaticano prevê que, durante esta situação – e com a permissão do bispo da circunscrição – “um sacerdote pode dar a absolvição geral aos penitentes, por exemplo, internados em um hospital por conta do coronavírus”, explica Geraldo.
“Estão todos adiados”, afirma o teólogo e filósofo Fernando Altemeyer Junior, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Batismo, crisma, matrimônios, ordenações podem esperar o fim da quarentena. Já os dois sacramentos de cura: penitência e unção dos enfermos estão sendo praticados a todo vapor nos lugares mais cruciais onde ocorre a pandemia. Até por isso muitos padres italianos morreram.”
O teólogo afirma que, por conta disso, tem havido proposições de “confissão auricular por celular.” “Mas será preciso verificar as condições de sigilo e de personificação para evitar fake-pecador, fake-pecados ou até mesmo um fake-padre.”
Suspensões
“A orientação do meu bispo é para que não se marque novas celebrações de batizados e casamentos. Os que já estão marcados, que sejam celebrados sem a presença de convidados, apenas com pais e padrinhos, com noivos e testemunhas, podendo esses ser suspensos em comum acordo com os fiéis em questão”, conta o padre Lucas Gobbo, reitor da Casa de Formação São Caetano e vigário da Paróquia de São Geraldo, em Guarulhos.
“Eu jamais me recusaria, por exemplo, ao saber que uma pessoa está necessitando da unção dos enfermos, a ir até o local para poder lhe conceder isto. É meu dever enquanto sacerdote. O que precisamos neste momento é nos colocar na consciência daquilo que é urgente e necessário.”
Para ele, “sacramentos de emergência, de cura, são essenciais”. “Não podemos fechar totalmente (a possibilidade de) que esses sacramentos aconteçam. E que não exigem participação pública”, pontua.
“A unção dos enfermos está além de nossa capacidade de controlar. Mas a Igreja supre, pelo decreto recente, entendendo que, ao desejar receber este sacramento, na verdade, a pessoa já está recebendo, neste momento”, defende o vaticanista Filipe Domingues, doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. “Casamentos, em último caso, podem ser celebrados em pequenos grupo. Ordenações sacerdotais podem ser feitas sem povo.”
Caso emblemático é o da confissão. A Igreja não permite que seja feita de forma remota. Papa Francisco já orientou que, por conta da pandemia “as pessoas possam se confessar, em um primeiro momento, diretamente a Deus – mas que não se esqueça de, assim que possível, procurar um padre”, lembra Gobbo.
“É o sacramento mais prejudicado neste momento”, avalia Domingues. “Porque exige a presença. Não pode ser feito por redes sociais, por telefone, por Skype. Só o pecador e o padre, sem qualquer mediador ou qualquer interferência. E a Igreja nunca vai mudar isso, eu acho.”
“Nesta época, por conta da quaresma, já é grande o número de pessoas que nos procuram para confissões. Depois da quarentena, acho que não vamos dar conta de tantos atendimentos”, comenta o padre Eugênio Ferreira de Lima, da paróquia Cristo Rei, de Ipatinga. “Passado este tempo, alguns, que têm uma relação meio doentia com Deus, devem nos procurar por medo. E muitos virão nos procurar por amor ao sacramento.”
“O decreto do Vaticano prevê seguir na vida da igreja e voltar a se confessar quando for possível”, ressalta Domingues. “Não se confessa enquanto não for possível. Esse é o ponto.”
*Com informações do portal Terra.