A Canon, fabricante japonesa de câmeras digitais, anunciou que está encerrando a linha de produção de sua unidade no Brasil, na Zona Franca de Manaus. A decisão partiu da matriz e a unidade no Polo Industrial de Manaus, inaugurada em 2013, foi a primeira da marca fora da Ásia, segundo a direção da empresa informou à época.
Cerca de 40 trabalhadores devem perder o emprego. Eles foram comunicados do fechamento da planta em janeiro, segundo a empresa, que não pretende fechar outras fábricas no mundo além da de Manaus. O processo de liquidação deve ser encerrado em julho.
A escolha da empresa por operar no Brasil há quase dez anos fazia parte de um plano estratégico e foi impulsionada pelo aquecimento do mercado de câmeras digitais em mercados emergentes.
A fábrica também foi criada com o objetivo de facilitar as vendas no mercado brasileiro, mas a pandemia pesou na decisão de encerrar a produção no país, segundo a reportagem apurou.
Apesar da decisão, a Canon informou que não irá deixar o mercado brasileiro e nem deve encerrar totalmente suas operações no país, continuando a vender câmeras e outros produtos.
A Canon continua em plena atividade no Brasil, oferecendo seus produtos fotográficos, de impressão e imagem por sua loja virtual ou por sua equipe de campo”, disse a empresa, por meio de nota. A matriz japonesa também reforça que o Brasil continua sendo um mercado importante para a marca e planeja lançamentos de produtos no país.
Segundo a empresa, o fechamento da fábrica também não deve afetar o atendimento ao consumidor, mantendo os prazos de garantia de produtos e os serviços de assistência técnica. O movimento da Canon, no entanto, não é isolado. Recentemente, outras multinacionais de peso anunciaram a decisão de fechar fábricas ou deixar de vez o Brasil.
A LG, por exemplo, colocou sua planta no interior de São Paulo à venda; a Sony também anunciou o encerramento de sua unidade em Manaus; a Ford também decidiu parar de produzir no Brasil, mas manteve a fábrica funcionando na Argentina.
Outros exemplos são a espanhola Cabify, de serviços de carona, que desistiu do país por causa da crise econômica e a cimenteira franco-suíça LafargeHolcim, a maior do mundo no ramo.
A saída dessas empresas é avaliada por economistas como resultado da piora de problemas estruturais do país, como a baixa competitividade, falta de incentivos à inovação ou mudanças em escala global que foram aceleradas por conta da pandemia do novo coronavírus.
Um indicador ajuda a mapear essas dificuldades: o Brasil é antepenúltimo (ou o terceiro pior) emergente em um ranking de vulnerabilidade macroeconômica elaborado pela consultoria MB Associados. O ranking contrapõe indicadores como crescimento do PIB, inflação, desemprego e dívida bruta do governo, e a economia brasileira só é menos vulnerável do que a da Argentina (74%) e a da África do Sul (67%).
Veja exemplos de empresas que deixaram o Brasil:
Ford: A montadora decidiu encerrar produção e fechar três fábricas. Em comunicado, a empresa anunciou que a decisão fazia parte de uma reestruturação global.
Mercedes-Benz: A empresa anunciou que deixaria de produzir carros em Iracemápolis (SP), pela situação do mercado, mas manteve produção de caminhões e chassis de ônibus.
Sony: Fabricante de eletrônicos anunciou que deixaria de fabricar e vender TVs, equipamentos de áudio e câmeras, devido ao cenário desafiador do mercado brasileiro.
Cabify: Em comunicado, a companhia afirmou que, após análise do mercado, tomou a decisão de encerrar o serviço e que o Brasil segue muito afetado pela crise sanitária.
LafargeHolcim: A fabricante de cimento franco-suíça deve concentrar atividades na Europa. Incertezas e dólar podem ter pesado contra permanência da cimenteira no Brasil.
LG: O fechamento da fábrica de celulares da LG no Brasil coloca em risco 830 empregos diretos. A empresa anunciou que irá encerrar até o fim de julho seus negócios em telefonia móvel no mundo.
Forever 21: A varejista anunciou que fecharia as 11 lojas nos shoppings da rede Multiplan, em SP, DF e RS, entre outras. A empresa não conseguiu chegar a um acordo na negociação de aluguel.
Wendy’s: Após três anos de atividade no país, a hamburgueria fechou as unidades brasileiras. A lanchonete, famosa pelos lanches quadrados, chegou a ter cinco lojas em São Paulo.
Glovo: A empresa de entregas, concorrente de iFood e Rappi, anunciou em 2019 que encerraria suas atividades no Brasil. Em comunicado, a empresa alegou dificuldades pela alta competitividade, o que demandaria mais investimentos.