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Cabeleireiros revelam ‘estragos’ da quarentena e as tendências de cortes após isolamento social

Para conter a ansiedade imposta pela pandemia muitas pessoas precisaram cuidar do visual sozinhas (Divulgação/ Instagram Ely Salon)

*Da Revista Cenarium

O isolamento social imposto pela pandemia do novo Coronavírus mudou hábitos e rotinas de muita gente, principalmente das mulheres acostumadas a passar horas nos salões de beleza cuidando dos cabelos e do corpo.

Durante os quatro meses de quarentena, a mulherada, anônima e famosa, precisou se arriscar e cuidar da beleza dos cabelos como cortar, alisar e pintar os cabelos sozinha ou com a ajuda de algum membro da família. Como o resultado nem sempre agradou a todos, boa parte dessas pessoas acabou recorrendo aos salões de beleza após a flexibilização do comércio.

Com base nisso, a REVISTA CENARIUM falou com alguns profissionais para identificar quais os “estragos” que foram detectados durante a pandemia e quais tendências de cortes estão fazendo sucesso neste ano atípico.

Em Manaus, de acordo com o hair stylist do Maison Luh Estética e Beleza, Tiago Dias, que há 17 anos atua na profissão, cerca de 80% dos clientes atendidos no salão após a reabertura do comércio não essencial fizeram algum ‘dano’ nos cabelos durante o isolamento.

“Algumas pintaram com tons diferentes da cor do cabelo como azul, verde, rosa e não gostaram. Outras alisaram e o cabelo caiu. Também têm as que cortaram os cabelos e se arrependeram”, relata o cabelereiro que atua no salão localizado na Zona Centro-Sul da cidade.

Tiago destacou também que muitas clientes apresentaram quedas de cabelos relacionados à ansiedade e incertezas da pandemia de Covid-19. Outro ponto relevante, aponta o hair stylist, percebido neste período de pandemia é a aceitação da forma natural dos cabelos. “Muitas pessoas deixaram de pintar ou alisar os cabelos. Elas decidiram manter o cabelo natural, assumindo assim, os cabelos brancos, os cachos e o volume”.

Entre junho e outubro, Tiago atendeu mais de 500 pessoas [homens e mulheres] que buscaram o salão para ajustes dos cabelos ou para transformar o visual. O hair stylist disse ainda que para as suas clientes frequentes, ele enviava um kit completo de tratamento com orientação do passo a passo para que elas pudessem fazer o tratamento em casa, sem nenhum problema.

Relatos

A contadora amazonense Juliana Santos alisava o cabelo desde 15 anos, e hoje, aos 30, resolveu deixá-los crescer naturalmente. “Passei quatro meses em isolamento sem poder ir ao salão alisar. Não tive coragem de fazer o processo sozinha. Com o tempo fui percebendo que meu cabelo natural era bonito e, quando o salão abriu, cortei bem curto até sair boa parte da química. Ainda tem, mas até dezembro, corto novamente e pronto”, comenta animada a contadora que preferiu não ser fotografada.

E o resultado final após o “big Chop” da estudante Letícia Santos (Divulgação/ Instagram Ely Salon)

Já a estudante Letícia Silva Santos, de 18 anos, chegou a ficar com a autoestima baixa porque não conseguia sair com a raiz do cabelo alta, sem alisamento. “Cansei de alisar o cabelo toda hora. Eu faço isso desde os 10 anos. Meu cabelo estava fraco e opaco, sem vida mesmo. Precisava me libertar desse patrão imposto pela sociedade. Acho que a quarentena me deu forças para assumir realmente meus cachos, por isso, estou aqui [risos]”.

A bióloga Maria Tereza, de 45 anos, resolveu assumir de vez os cabelos brancos e foi ao salão apenas reparar o corte errado que fez no cabelo durante o período de isolamento.

“Antes eu era ‘escrava’ da tinta. Meus colegas diziam que eu ia ficar com aparência desleixada caso deixasse de pintar o cabelo. Mas quer saber, quem precisa achar isso sou eu, não é? Agora vou assumir meus cabelos brancos e estou me achando jovem. Só fui ao salão ajustar o corte torto que eu fiz sozinha quando o salão estava fechado”, comenta Maria Tereza sorrindo e pedindo para não fotografá-la.

Transição capilar

A CEO do Ely Salon, Ely Reis, localizado na Zona Centro-Oeste de Manaus, é especialista em transição capilar na cidade. Segundo ela, essa transição nada mais é do que assumir o cabelo natural e libertar-se dos tratamentos químicos que agridem muitas vezes o cabelo e o couro cabeludo. Essa moda, aliás, veio para ficar e com a pandemia fez muita gente assumir de vez seus cabelos naturais, cacheados, ondulados e crespos.

“Atualmente existem produtos para controlar o volume, reter umidade e modelar os cachos. Portanto, mesmo clientes com cabelos superdenso conseguem usar o cabelo natural sem estar armado”, explica a hair stylist com especialização internacional pela DevaCurl Academy de Nova York.

A especialista explica que há duas formas de assumir as madeixas naturais. Uma é o “big Chop”, que é mais radical e consiste em cortar todo o cabelo alisado por química e iniciar de uma só vez a transformação para um cabelo novo. A outra, é para os mais conservadores e querem que o processo do corte seja realizado paulatinamente até a remoção de toda a química, mas que o cabelo tenha um certo comprimento e estilo.

“No período difícil da pandemia, nós prestamos uma assistência pelas plataformas digitais todos os clientes. Abrimos uma loja online, onde as pessoas podiam comprar os produtos para continuar o tratamento em casa. Após a reabertura do comércio, o serviço mais procurado, sem dúvida, foi o corte de cabelo, seguido da transição capilar, onde os clientes decidem assumir a forma natural de seus cabelos”, assinala Ely.

Ely ressalta ainda que para deixar os cabelos lisos e sem volume, os procedimentos químicos alteram a estrutura da fibra capilar deixando com o tempo os fios fracos, porosos e finos.

Além disso, há diversos tratamentos específicos para transformar cabelos maltratados por químicas em saudáveis e naturais. O salão é especialista em tratamentos para resgatar a essência natural dos cabelos naturais e a autoestima de seus clientes, tanto homens como mulheres, já que ela atende todos os públicos, do infantil ao adulto.

Entre os cortes queridinhos das clientes que lotam o seu salão diariamente estão, os chanels, volumosos, as franjas, pixie cut, blunt cut, entre outros.

Acima, o visual da Orlene Magalhães antes da transformação capitar e na foto abaixo, a felicidade da química com o novo look (Divulgação/ Instagram Ely Salon)

A química amazonense Orlene Magalhães, de 44 anos, disse que durante o isolamento social foi criando coragem para mudar o visual radicalmente. Segundo ela, estava esperando apenas a reabertura dos salões de beleza para fazer a transformação.

“Aliso o cabelo desde 18 anos e cansei de ver aquele look de sempre. Com a pandemia, a raiz do cabelo foi crescendo e percebi que meu cabelo natural era bonito e resolvi mudar”, afirma Orlene.

Diferencial

O processo do corte no Ely Salon dura em torno de duas horas, dependendo de cada cliente. A primeira etapa é o corte à seco, onde o cabelo não é molhado, para saber exatamente o formato, altura e caimento que ele vai ficar. Em seguida, a cliente vai para o tratamento de ativação dos cachos. A próxima fase é a secagem no difusor e por último ela segue novamente para o corte e finalização.

Além de dar um novo estilo de cabelo às clientes, a especialista diz que as pessoas que buscam o seu espaço querem também elevar a autoestima. “Nossas clientes são muito bem tratadas aqui. A ideia é que elas se sintam lindas e poderosas após assumirem seus cabelos naturais e não apenas cortem o cabelo e pronto. Como bônus, para essa transição capilar, o salão oferece uma mesa de frutas, sanduíches naturais e espumantes para os clientes que vão ao salão em busca desse acolhimento”.

Ely Reis, à esquerda, tem especialização internacional pela DevaCurl Academy de Nova York (Divulgação/ Instagram Ely Salon)

Desde a reabertura do salão, já foram realizados mais de 600 atendimentos. A especialista disse ainda que precisou abrir a agenda aos domingos para atender a grande demanda de clientes.

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