“Parabéns para Polícia Federal”, respondeu o presidente Jair Bolsonaro, com sorriso no rosto, quando questionado na manhã desta terça-feira, 26, sobre buscas no Palácio das Laranjeiras, residência oficial em que mora o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), adversário político do presidente.
“A coisa está preta lá no Rio”, disse um apoiador na frente do Palácio do Alvorada. O presidente, então, aponta para a máscara preta que estava usando e disse que tinha sido informado havia pouco sobre a operação. A operação, autorizada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), mira um suposto esquema de desvios de recursos públicos destinados ao combate ao coronavírus.
Segundo investigadores, a PF também busca provas no Palácio da Guanabara, onde o chefe do Executivo fluminense despacha, em sua antiga casa, usada antes de se eleger, e em um escritório da mulher dele.
A operação, batizada de Placebo, busca provas de um possível esquema de corrupção envolvendo uma organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha e “servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do Estado do Rio de Janeiro”, diz a PF.
Witzel é desafeto de Bolsonaro, que recentemente mudou a cúpula da Polícia Federal, gesto que motivou a saída do governo do então ministro da Justiça, Sérgio Moro.
A ação desta terça-feira foi deflagrada um dia após ser nomeado o novo superintendente da corporação no Rio, Tácio Muzzi. A representação da PF no Estado está no centro de uma investigação autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que apura se o presidente buscava interferir politicamente em investigações da corporação. Na reunião ministerial de 22 de abril, cuja gravação foi liberada pelo ministro Celso de Mello na sexta-feira, 22, o presidente chama Witzel de “estrume”.
A investigação apura fraudes na contratação da organização social Iabas para a montagem de hospitais de campanha. O inquérito contra Witzel foi aberto a partir de um depoimento de Gabriell Neves, ex-subsecretário de Saúde preso sob suspeita de fraudes na compra de respiradores.
Neves mencionou o nome do governador ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Estão sendo cumpridos 12 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e São Paulo.
A operação se baseia em apurações iniciadas no Rio de Janeiro pela Polícia Civil, pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal. Os dados obtidos foram compartilhados com a Procuradoria-Geral da República, que conduz a investigação perante o Superior Tribunal de Justiça.
Nesta segunda, 25, em entrevista à Rádio Gaúcha, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada de Bolsonaro, falou de um suposto represamento de operações contra governadores, que passariam a ser deflagradas a partir de agora.
“A gente já teve algumas operações da PF que estavam na agulha para sair, mas não saíam. A gente deve ter nos próximos meses o que a gente vai chamar de ‘covidão’ ou não sei qual vai ser o nome que eles vão dar. Mas já tem alguns governadores sendo investigados pela PF”, comentou.
“Pergunta para ela, pergunta para ela”, disse Bolsonaro, quando um jornalista, de longe, o questionou se Carla Zambelli tinha informações sobre as investigações da PF.
Na semana passada, questionado em entrevista à youtuber Bárbara Destefani sobre uma possível “covidão”, Bolsonaro disse: “Já começou a estourar acusações da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Dando minha opinião, porque eu nunca procurei saber inquéritos na Polícia Federal. Nunca procurei saber de inquéritos na Polícia Federal. Acho que tem metástase: vai pegar um Estado vizinho e mais gente pelo Brasil, tá? É isso que está parecendo”.