Um dia depois de o vice-presidente Hamilton Mourão fazer um apelo aos demais países integrantes do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para que façam investimentos na Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro declarou nessa terça-feira, dia 1º, que só aceitará recursos para a região de países que tenham “exatamente os mesmos ideais de democracia e liberdade”, sem citar nenhum deles. A informação foi publicada em reportagem do O Globo.
Segundo o presidente, apenas dessa forma a floresta será “de fato” integrada ao Brasil. E defendeu investimentos na região “com recursos próprios”. Alinhado ao presidente americano Donald Trump, Bolsonaro e aliados costumam ter uma posição crítica em relação à China, mas ele não citou o país asiático nesta terça-feira.
O presidente discursou no Palácio do Planalto durante lançamento do programa Norte Conectado, que busca levar conexão rápida de internet para os estados da região Norte com recursos federais. Dirigindo-se à ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, passou a falar da Amazônia:
— É dessa forma, prezada Damares, que nós vamos integrando realmente a Amazônia, com recursos próprios. E, se um dia nós precisarmos de recursos de outros países, podermos aceitá-los, mas serão de países que tenham exatamente os mesmos ideais nossos, de democracia e liberdade. Somente dessa forma é que nós poderemos dizer que a nossa Amazônia, de fato, será integrada ao nosso país.
Bolsonaro continuou dizendo que a Amazônia trata-se da “região mais rica do mundo”, que tem uma história — a “dos nossos antepassados, que lutaram bravamente para conquistá-la”.
— Se não fossem aqueles aventureiros de antigamente, lutando para ir ao oeste do Tratado de Tordesilhas, hoje não teríamos a nossa Amazônia, prezado general Girão. E nós temos a obrigação de manter essa região sob nosso comando. E é somente dessa forma, com entendimento de todos, dos Três Poderes, demais autoridades, buscando recursos, meios, se dedicando, se empenhando, que nós poderemos dizer que a Amazônia verdadeiramente é nossa — concluiu.
Mourão, que estava no evento, sentado ao lado de Bolsonaro, não discursou. No comando do Conselho Nacional da Amazônia Legal, o vice-presidente recebeu em julho uma carta de empresários que cobravam ações efetivas do governo federal para reduzir o desmatamento na região.
Em fórum sobre o Brics, organizado pela BandNews na véspera, Mourão defendeu que o desenvolvimento da região amazônica passa pela bioeconomia, atividade de exploração social e ambientalmente responsável, que já movimenta mais de 2 trilhões de euros.
— Então essa é a grande questão: atrairmos nossos parceiros do Brics, que possuem recursos para investirem na nossa Amazônia e, como consequência, participarem desse processo de desenvolvimento. Tenho dito que minha maior angústia é buscar esse investimento. Nos apresentarmos com confiabilidade para receber esse investimento e, obviamente, no seio dos Brics é importantíssimo que se crie esse ambiente e que se atraia o capital chinês, russo, indiano e da própria África do sul para trabalharmos juntos nessa grande tarefa — disse Mourão.