As atividades artísticas, criativas e de espetáculos aparecem no topo da lista criada pelo governo federal dos setores mais afetados pela crise econômica gerada pelo novo coronavírus.
O ranking foi elaborado pela Secretaria de Produtividade, Emprego e Competitividade e publicado em portaria no Diário Oficial da União ontem, conforme reportagem do Metro Jornal. O documento vai orientar agências financeiras sobre as áreas prioritárias na tomada de empréstimos via Programa Emergencial de Acesso a Crédito. O foco são pequenos empreendedores, que poderão ter acesso a até R$ 50 mil. O governo destinou R$ 20 bilhões ao Fundo Garantidor de Investimento para ajudar nas operações.
Depois das atividades artísticas, aparecem os transportes como os mais afetados, seguidos por serviços de alojamento e alimentação.
O Ministério da Economia explicou que a lista foi elaborada com base na variação do faturamento do setor, de acordo com a Receita Federal. Também se considerou a relevância das atividades, tanto por valor agregado, quanto por pessoal ocupado.
Socorro na cultura
No topo entre os mais afetados, o setor cultural emprega 5,2 milhões de trabalhadores, de acordo com o último levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano passado.
Para o presidente da Anafima (Associação Nacional da Indústria da Música), Daniel Neves, a cultura sente mais os efeitos porque será o último setor a reabrir na flexibilização. “A música, por ser a mais abrangente, foi a mais afetada entre as vertentes culturais. A área vai ser a última a voltar. Enquanto radicalizar, mais pessoas vão morrer de fome”, afirmou.
Ele lidera também o conselho da Frente Parlamentar Suprapartidária em Defesa da Indústria da Música. Na segunda-feira, o grupo se reunirá com o secretário especial de Cultura, Mário Frias, para discutir pautas como a inclusão da música em acordos de cooperação com outros países e a capacitação de artistas no Sistema S.
O principal programa federal de auxílio ao setor cultural, a Lei Aldir Blanc, foi regulamentada em agosto e ainda enfrenta dificuldades para de fato chegar às mãos dos artistas. A lei prevê pagamento de auxílio de R$ 600 aos trabalhadores, financiamento de projetos culturais e apoio para manutenção de espaços.
Neves afirma que a falta de registros oficiais sobre os profissionais dificultou a aplicação da lei. “Muita gente nunca se legalizou como trabalhador da arte. Municípios não se preocuparam em ter cadastros culturais. Todo mundo tem parcela de responsabilidade. Fica a lição para se entender a importância do setor.”
Músicos em restaurantes
A Anafima (Associação Nacional da Indústria da Música) preparou protocolo para convencer as autoridades a liberarem a atividades de músicos em restaurantes.
O presidente da entidade, Daniel Neves, afirma que ideia é dar oportunidade para ao menos os instrumentistas se apresentarem. “Sabemos que há riscos se houver emissão vocal, mas é possível colocar alguém com piano ou violão, por exemplo. A proposta é utilizar o restaurante para ficar claro que não será um show”.
A proposta inclui distanciamento de dois metros entre mesas e artistas, higienização de instrumentos e uso de máscaras. Em caso de apresentação com voz, a sugestão do documento é utilizar barreira acrílica e escolha de repertório musical “em que a projeção da voz proporcione baixa emissão de gotículas aerossol dispersada”.
Atualmente, só há autorização para show em drive-in, com o público assistindo as apresentações de seus carros, assim como acontece com projeção de filmes.