O julgamento do deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) foi novamente adiado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A acusação da prática de rachadinha contra o membro da bancada evangélica perdura há vinte anos. A primeira denúncia data de 2001, quando o deputado foi acusado pela Procuradoria-Geral da República, chefiada por Geraldo Brindeiro, de exigir que seus funcionários lhe dessem parte de seus salários entre janeiro de 2000 e dezembro de 2001.
O julgamento de Câmara na corte suprema iniciou em 2020. O relator da ação, ministro Luís Roberto Barroso, votou pela condenação do deputado, posição seguida pelo ministro Edson Fachin. Contudo, a votação foi interrompida após o ministro Nunes Marques, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para o tribunal após a aposentadoria de Celso de Mello, pedir vistas do processo.
Em dezembro, o ministro Luiz Fux, atual presidente do STF, fixou o dia 17 de fevereiro de 2022 como data do julgamento. Hoje, contudo, o julgamento foi novamente adiado. Políticos amazonenses e fontes dos bastidores atribuem o adiamento à uma articulação do ministro André Mendonça, indicado por Bolsonaro para a vaga de Marco Aurélio Mello.
Pastor presbiteriano, Mendonça é chamado de “terrivelmente evangélico” pelo presidente, seus apoiadores e por opositores, em tom crítico no último caso. Advogado-Geral da União e ministro da Justiça ao longo da gestão de Bolsonaro, Mendonça foi nomeado numa tentativa de mudar o perfil do tribunal, o qual o presidente considera progressista e esquerdista.
A interferência de André Mendonça no caso de Silas Câmara, segundo comenta-se nos bastidores da política amazonense, ocorre porque caso o deputado seja condenado, a ação criará um precedente para casos similares que podem prejudicar diversos parlamentares, incluindo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), acusado do mesmo crime. Além disso, Mendonça é próximo de Silas Câmara, a quem chamou de “ombro amigo essencial para chegar onde cheguei”, em referência a sua nomeação do STF.