*Lucas dos Santos – Da Redação Dia a Dia Notícia
O ex-prefeito de Manaus derrotado nas eleições para o Senado em 2022, Arthur Virgílio Neto (sem partido), usou as redes sociais para replicar uma acusação contra a ONG yanomami Urihi, que denunciou a desnutrição de indígenas do território. A informação replicada pelo ex-tucano foi publicada pelo blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, que acusou a organização de ser condenada por desvio de R$ 33 milhões de verbas públicas destinadas à saúde indígena em 2016.
Ñ sei se é verdade, mas é grave a acusação à ONG q denunciou a criminosa desnutrição dos ianomâmis e foi pra berlinda acusada de desviar R$33 milhões? Os dirigentes da ONG seriam ligados a Lula. Não acuso. Apenas peço q façam a verdade cristalina aparecer!
— Arthur Virgílio (@Arthurvneto) January 28, 2023
Eustáquio publicou um texto no site Poder DF, acusando a instituição presidida por Júnior Hekurari Yanomami de desviar verbas públicas, além de afirmar que a idosa yanomami que faleceu devido à desnutrição, cujas fotos viralizaram nas redes sociais, seria venezuelana e que “neste teatro da esquerda, nem sequer um nome brasileiro ganhou, pois na grande imprensa é tratada apenas como ‘idosa yanomami'”.
A informação, conforme checagem de fatos, é falsa. A associação condenada por desvio de verbas entre os anos 1990 e 2000 possui nome semelhante à presidida por Júnior Yanomami, mas as inscrições CNPJ e as razões sociais são diferentes.
A ONG condenada em 2016 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) chamava-se Urihi – Saúde Yanomami, inscrita sob o CNPJ 03.272.540/0001-12, aberta em 1999 e considerada inapta em 2019. Por meio de consulta à Receita Federal, a reportagem verificou que a organização foi presidida por Claudio Esteves de Oliveira.
A associação condenada não possui relação com a ONG Uruhi – Associação Yanomami. A organização foi fundada em 2016 sob o nome Hapyr – Hwenama Associação dos Povos Yanomami de Roraima, inscrita sob o CNPJ 24.292.140/0001-49. A mudança de nome, segundo a última atualização cadastral, ocorreu em 2022.
O relatório do TCU utilizado por Oswaldo Eustáquio para acusar a associação não cita, em momento algum, o nome de Júnior Hekuari Yanomami ou a ONG presidida por ele. Por outro lado, cita o presidente da Uruhi – Saúde Yanomami, Cláudio Esteves de Oliveira, e outras quatro pessoas responsáveis pela instituição.
A associação também se pronunciou por meio de suas redes sociais desmentindo a informação divulgada pelo blogueiro bolsonarista.
“Nossa associação foi fundada em 2016 denominada por Hwenama Associação Yanomami, em 2022 os diretores solicitaram a troca do nome, que passou a se chamar “URIHI” que ao traduzir do Yanomami, se chama “floresta”, destacaram.
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Uma publicação compartilhada por URIHI – ASSOCIAÇÃO YANOMAMI (@urihiyanomami)
A mesma organização também desmentiu a informação de que a idosa cuja foto viralizou seria venezuelana e explicou o porquê de seu nome não ser citado. Segundo a Urihi – Associação Yanomami, a idosa era moradora da comunidade Kataroa, localizada no território do estado de Roraima, região Norte do Brasil.
A razão de seu nome não ser divulgado é porque “na cultura yanomami, após o falecimento, não pronunciamos o nome da pessoa, queimamos todos os seus pertences, e não permitimos que fotografias permaneçam sendo divulgadas”. Por meio desse comunicado, a associação também pediu que a mídia e usuários deixassem de republicar a foto da idosa após o seu falecimento.
“Estamos vivenciando uma crise humanitária, e sabemos que o governo se mobilizou buscando ações que ofereçam todo o suporte que a população necessita neste momento. É um momento triste, mas continuamos com toda força para que o povo Yanomami tenha sua dignidade de volta”, concluiram.