Um novo relatório divulgado no Congresso Mundial de Conservação, realizado em Marselha, França, mostrou que milhares de famílias de comunidades tradicionais do Brasil ganharam visibilidade por meio de uma plataforma de automapeamento digital que lhes permitiu demarcar suas terras.
Com a plataforma “Tô no Mapa”, mais de 5 mil famílias em 76 comunidades espalhadas no país ganharam visibilidade em seus territórios que, somados, alcançam 350 mil hectares. Antes do aplicativo, esses territórios não eram reconhecidos por mapas oficiais do governo.
“Parece um número pequeno, mas mostra uma enorme lacuna entre os dados oficiais do governo e os primeiros resultados do aplicativo para celulares”, afirmou Suzanne Scaglia, assessora técnica do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), uma das organizações por trás do aplicativo.
Muitas dessas comunidades se localizam no Cerrado, segundo maior bioma do Brasil e uma área de relevância ecológica atualmente ameaçada pela expansão rápida do agronegócio. Só em 2020, quase meio bilhão de hectares do bioma foram desmatados ou convertidos em fazendas de soja. A área é cerca de três vezes maior que o município de São Paulo.
Os povos e comunidades tradicionais desempenham um papel vital na conservação da biodiversidade. Estudos mostraram que a presença e a atuação de comunidades tradicionais trouxeram diversos benefícios ao Cerrado. Graças a esse cuidado, foi possível frear o desmatamento, conservar áreas remanescentes de vegetação nativa e contribuir para a recarga de aquíferos, além de ainda gerar alimento.
De acordo com vários estudos e relatórios, a garantia de seus direitos à terra é cada vez mais reconhecida como uma necessidade fundamental para a conservação. Contudo, na prática, muitas dessas comunidades carecem de registro e têm pouco acesso a serviços jurídicos, o que pode diminuir as chances de reivindicar direitos sobre seus territórios tradicionais.
Tô no Mapa
O Tô no Mapa é um aplicativo desenvolvido para que povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares brasileiros realizem o automapeamento de seus territórios. Uma ferramenta acessível e gratuita, construída a partir do diálogo entre diversas comunidades e organizações sociais. Com mais esse instrumento político, você fortalece a sua luta por direitos territoriais ainda não reconhecidos.
Esta é uma iniciativa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipaam) junto ao Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), com apoio da Rede Cerrado.
*Com informações de Mongabay