*Lane Gusmão
O novo coronavírus (Covid-19) já matou mais de 100 mil pessoas no mundo e as estratégias para enfrentá-lo variam de acordo com cada governo. Os brasileiros que vivem nos diferentes países são testemunhas importantes para entender o que está acontecendo em cada um deles e como o vírus se espalha em diferentes velocidades.
Diante deste cenário, o Dia a Dia On-line conversou com brasileiros que vivem nos Estados Unidos, Alemanha, Itália e Portugal, para saber sobre a rotina de isolamento e sobre as medidas adotadas pelos governos locais para conter a pandemia.
Os Estados Unidos são o país com o maior número de casos e mortes no mundo; ao todo, são 530 mil casos confirmados e 20,6 mil mortes, dados contabilizados até o último domingo, dia 13. A jornalista amazonense, Adriana Mendonça, mora há 4 anos em Newark, Nova Jersey, segundo Estado com o maior número de casos de Covid19 nos EUA. Ela conta que para conter o número de pessoas infectadas o governo decretou o “lockdown”.
Adriana conta que os moradores só podem sair para comprar comida ou por motivos médicos e são parados nas ruas pela polícia. À noite, tem toque de recolher. “Eu estudo em Nova York e agora estamos tendo aulas on-line. No meu caso, tenho família aqui, ou seja, um apoio. Mas a maioria das pessoas não, tem gente devolvendo apartamento porque não sabe mais como vai pagar. A comunidade brasileira aqui é muito grande e as pessoas têm se ajudado com comida e rancho, mas tem muita gente sem saber o que fazer”, explicou.
O governo americano anunciou medidas de apoio à população, mas isso não se estende a todos os imigrantes. Quem mora alugado não pode ser despejado pelos próximos 3 meses, mas na cobrança futura terá uma dívida acumulada e isso é o que mais tem deixado os brasileiros aflitos, a maioria trabalha em restaurantes, empresas de construção e faxina. Com tudo parado, muita gente está sem trabalhar.
Na Itália, o confinamento foi prorrogado até o dia 02 de maio. Em todo o país, já foram registrados 20 mil mortos pelo novo coronavírus, de acordo com o último balanço oficial, que, no entanto, relata um declínio no número de pacientes em terapia intensiva pelo décimo dia consecutivo. Foram registradas 566 novas mortes em 24 horas, elevando para 20.465 o número de óbitos desde o início da pandemia, segundo dados publicados pela Proteção Civil. O número de casos totaliza 159.516, ou seja, mais 3.153 em comparação com o domingo.
A farmacêutica, Luciana Vignatti, que está morando há 1 ano em Borgon San Dalmazzo, província de Cuneo, região do Piemonte, conta que para sair de casa, só em caso de saúde, trabalho ou para comprar comida e é preciso apresentar uma autorização para não ser multado.
“Devemos andar com uma autorização que preenchemos, para apresentar a polícia quando formos parados, se não for por esses motivos, seja, saúde, trabalho ou compra de mantimentos, o cidadão pode ser multado em valores que variam de 400 a 3 mil euros”, explicou.
Luciana Vignatti disse ainda que o governo vem tentando amenizar o impacto na economia. “O governo está disponibilizando ajuda aos cidadãos, porque agora o dinheiro começou a faltar para todos nós, já que poucos podem trabalhar, então têm muitas famílias passando fome, muitas cidades estão se ajudando, doando alimentos e os mercados estão se solidarizando, para ajudar os que precisam. Vão disponibilizar a partir de amanhã um formulário para que os cidadãos possam preencher solicitando uma ajuda mensal. Também teremos uma ajuda para comprar alimentos nos mercados, mas ainda não temos detalhes de como disponibilizarão esse vale para o mercado”, concluiu.
Rodrigo Araújo, em Portugal
O jornalista amazonense Rodrigo Araújo, que está morando em Portugal há seis meses junto com a esposa e os três filhos na cidade de Figueira da Foz, cidade de pouco mais de 60 mil habitantes do distrito de Coimbra, conta que a situação no país está controlada.
Segundo ele, Portugal está servindo de exemplo para a Europa de como achatar a curva da doença. Portugal regista até este domingo um total de 16.585 casos confirmados de covid-19 e 504 mortes.
Para ele, o “sucesso” de Portugal se dá pelo esforço de todos. Segundo ele, as autoridades foram rápidas em tomar medidas enérgicas e a população nem esperou o governo baixar a decreto de Estado de Emergência para se recolher em casa para a quarentena. O comércio continua fechado, as aulas são ministradas via internet e televisão, todos evitam aglomerações e a vida vai se ajustando dentro das orientações da OMS.
O jornalista disse que apesar de seguir mais seguro nesta quarentena em Portugal, a maior preocupação é com os demais familiares que estão no Amazonas. “Esta situação nos passa até uma certa segurança, pois a gente vê que a população está atendendo as orientações das autoridades de saúde, ao contrário do que estamos vendo no Brasil pelo noticiário e pelas redes sociais. Por incrível que pareça, apesar da gente estar na Europa, epicentro da doença, nesse momento estamos mais preocupados com a situação no Brasil, até porque nossos familiares e amigos estão aí e, pelo visto, muito mais vulneráveis à ação devastadora da pandemia”, revela.
Em Portugal, segundo Rodrigo Araújo, uma das medidas adotadas pelo governo nessa pandemia foi legalizar todas as pessoas que estão residindo no país, justamente para não haver proibições no acesso à saúde pública. “Nosso acesso ao sistema de saúde português é total pois estamos vivendo aqui de forma legal, com a documentação toda em ordem. Mas até quem está residindo aqui de forma ilegal no momento está tendo acesso livre ao sistema de saúde”, declarou, acrescentando que “todos os esforços são importantes para conter o avanço da pandemia no mundo e cada um tem que fazer a sua parte. Aqui, o sentimento de humanidade e de civilidade é surpreendente. O povo simplesmente impõe a si mesmo as medidas de restrição porque entende que é uma questão de respeito ao próximo e, o que é mais importante, respeito à vida”, finalizou.
Na Alemanha, o país com a taxa de letalidade mais baixa, o governo fechou as fronteiras área e terrestre. O país registrou 123.016 casos confirmados da Covid-19, com uma queda notável no número de novos contágios registrados diariamente e já se prepara para suspender gradualmente as restrições relacionadas à nova pandemia.
A professora, Danielle Besser, que mora no país há 6 anos, conta que a “crise do coronavírus”, como está sendo chamada, mudou a forma como as pessoas vivem e interagem socialmente na Alemanha.
“Todos, tanto estrangeiros quanto nativos, passaram a viver sob novas regras sociais. Essas regras são oficializadas, normalmente no domingo, às 20h, pelo Governo Federal, e os Estados as acatam, implementam e controlam. Alguns Estados, entretanto, são mais rigorosos que outros. A regra geral comum a todos é que todos são obrigados a fazer quarentena em casa. Lavar e higienizar regularmente as mãos”.
Segundo ela, todo o comércio está fechado, as creches estão funcionando, exclusivamente e apenas, para filhos de profissionais da saúde, supermercados, de transportes ou que precise trabalhar para suportar a crise. Alguns Estados, como Bayern e Berlin, por exemplo, implantaram a proibição total de circulação. “Isso significa que sair para passear é estritamente proibido e controlado pela polícia alemã”, conta Danielle.
Danielle Besser contou ainda que as pessoas têm se ajudado, há alguns grupos de estudantes e voluntários que se propõem a ir ao supermercado. Esses grupos podem ser encontrados na internet também. Em casos suspeitos, a informação se dá por telefone onde se recebe instruções para a realização do exame.
“Eu senti alguns dos sintomas. Liguei na central do meu Estado às 8h. Fui atendida na hora. Ao meio-dia fiz o exame no estádio de futebol da minha cidade. O processo é tão organizado que entre estacionar, pegar o formulário, colocar máscara e fazer as devidas higienizações, ser examinada e voltar para o carro, demorou cerca de 15 minutos. As pessoas são marcadas pontualmente e de tal maneira que elas não se aglomerem. Fui informada via e-mail do meu resultado, que saiu em menos de 24 horas. E deu negativo!”, explicou.
Impactos econômicos
A professora Danielle Besser conta, em entrevista ao Dia a Dia On-line , que para amenizar os impactos econômicos da pandemia, o governo alemão está pagando parte do salário daqueles que não podem sair de casa e as empresas não podem demitir até 3 meses após a crise.
“Todas as pessoas entraram num regime extraordinário de recebimento de salário. As pessoas recebem 60% do salário líquido diretamente do governo e a empresa paga ou não a diferença para o funcionário, mas isso é optativo. A empresa não é obrigada a pagar nada. Esse regime é válido até 31.12.2020 ou até segunda ordem. Eu me sinto muito segura com as medidas que o governo local está tomando no sistema de saúde. A Alemanha, segundo a imprensa local, é o país mais estruturado em termos hospitalar e sistema econômico do mundo”, concluiu.