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Ainda cremos na bondade humana?

Imagem: Reprodução Internet

“Apesar de tudo, eu ainda creio na bondade humana”. Anne Frank

Recentemente, escrevi um artigo sobre a desumanização da humanidade, me referindo às atrocidades causadas contra a vida e contra os nossos semelhantes, da situação de injustiças e imensa desigualdade que assolam nosso povo. Violência, desrespeito à vida em suas diversas formas de ser, o vazio ético e moral, as divisões políticas e ideológicas. Um caminho que nem sempre sabemos como enfrentar e como chegar as suas possíveis soluções.

No entanto, não é meu objetivo me prender a esta parte negativa das consequências de nossas ações, de nossas escolhas e decisões. Quero me deter no lado positivo, na esperança, nas formas de manifestação de respeito e de amor entre nós. Já escrevi sobre estas temáticas, mas agora, depois do que está acontecendo no Rio Grande do Sul, e de como o país inteiro tem se mobilizado para ajudar, entendo que seja propício falar da solidariedade.

Daqui de onde escrevo, Manaus, há uma sensibilização e mobilização pró Rio Grande do Sul que já arrecadou muita ajuda, financeira, alimentar, de vestuário, brinquedos, artigos de higiene, água potável. E quando se fala de Brasil, os números são consideráveis. Imagino que até você já deva ter colaborado de alguma maneira.

Assistindo a uma entrevista com um sacerdote jesuíta, na TV Aparecida, ele muito emocionado se referia às carretas que chegavam de vários pontos do país com mantimentos. E em uma das suas falas ele mencionava a solidariedade entre as igrejas e as religiões, afirmando que sua paróquia acolhia mais de 100 pessoas, e que todas as religiões, cristãs e não cristãs abriram suas portas, de templos e terreiros para acolher os desabrigados.

Uma das coisas que muito bem nos caracteriza como seres humanos se trata exatamente da prática de cuidado pelo próximo, de curar, de salvar, de ajudar, são parte de construções de vínculos antiquíssimos que nos garantem a nossa própria existência.

Em seu sentido etimológico a palavra solidariedade se origina do latim, e o mais interessante é que vem do conceito “solidus” o que nos faz pensar em sólido, forte, coeso, firme, inteiro, totalidade. São todos termos que remetem ao que é mais essencial em solidariedade, que ela nos esclarece a necessidade social de “permanecer firmes”, unidos.

Ao buscarmos o significado de solidariedade no dicionário Aurélio, temos os seguintes resultados: Sentido moral que vincula o indivíduo à vida, aos interesses e às responsabilidades dum grupo social, duma nação, ou da própria humanidade. Relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento do grupo se sinta na obrigação moral de apoiar o(s) outro(s).

O filósofo e sociólogo Emile Durkheim, ao elaborar alguns conceitos para a ciência social, determinou a ideia de solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. Dois conceitos que expressam o papel que cada indivíduo assume e exerce no corpo social, desde a base familiar (solidariedade mecânica) ao mundo do trabalho (solidariedade orgânica). De maneira que estes papeis são essenciais para o funcionamento e a manutenção dos principais elementos e valores determinantes da vida social.

Podemos também trazer o conceito solidariedade do ponto de vista religioso, quando esta ganha uma conotação mais relacionada ao sentido de bondade, e não apenas pelo fato de se assumir um papel social. Os cristãos dirão que se trata de “fazer o bem ao próximo”, os muçulmanos também trazem esta ideia e prática no conceito de “zacat” (doação), e no universo bíblico judaico existe a “tsedacá”, ou justiça, não como benevolência, mas como dever de fazer o que é correto segundo os preceitos de Deus.

Religiões orientais também carregam estas prática e valores como sendo fundamentais para se chegar à iluminação, um estágio de perfeição da alma. Buda e Confúcio foram mestres cujos ensinamentos orientam para uma vida ética de cuidado e manutenção de todas as formas de vida. Como o budismo que entende que o maior presente que se pode dar é nossa presença absoluta, podendo ser oferecido também ensinamentos de sabedoria e coisas materiais.

Garantidamente a solidariedade parece despontar como uma prática essencial de convivência e também de sobrevivência. Onde percebemos que diante do sofrimento, da escassez, de condições de miséria, de fome e necessidades extremas, torna-se um dever, diante da dor e do sofrimento alheio, manifestar empatia, compreensão, solidariedade.

Nem sempre a vida e os acontecimentos são favoráveis, condições climáticas, injustiças políticas e sociais, as guerras colocam a vida em grave risco, em vulnerabilidade, ameaçando sua dignidade e sua integridade. É neste momento que nos sentimos tocados a de alguma forma ajudar, nos dar as mãos, independente do credo, da etnia, da cor da pele, da religião.

Uma sociedade sem solidariedade não passa de um amontoado de pessoas, sem identidade cultural, sem sentimento patriótico e cidadão, sem rumo, e talvez sem um sentido existencial. Parabéns a todos que souberam dar um de si, do que tem, de seu tempo, de sua atenção. Passamos por situações em que pessoas sofrem, a vida clama por ajuda e por mais corações solidários.

Encerro minha reflexão lembrando das palavras de Anne Frank de que “Apesar de tudo, eu ainda creio na bondade humana”, o que nos ajuda a perceber que mesmo diante de tanta maldade e descaso humano, nem tudo está perdido. Ainda há muito amor, muita alteridade no ser humano, muita esperança no próximo, na força da coletividade, da bondade e da solidariedade.

Por Sérgio Bruno @prof.sergiobruno 

É um livre pensador e professor formado em Ética e Filosofia Política, com mais de 15 anos de experiência na docência e formação de jovens e adultos. Atualmente também é professor em cursos pré-vestibulares na área de Ciências Humanas e suas tecnologias, atuando também como professor de Sociologia, Cultura Religiosa e Teologia. É apaixonado por temas como Cultura e Sociedade, Cidadania, Política, Direitos Humanos e Diálogo Inter-religioso. Adora livros, leitura e literatura e deseja convidar você para compartilhar pensamentos, ideias e reflexões diversas.

 

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