Há um ano, o Acre registrava a primeira morte por Covid-19. A vítima foi Antônia Holanda, de 79 anos, moradora de Rio Branco. Três dias após ter dado entrada na Unidade de Pronto Atendimento do Segundo Distrito, na capital acreana, a idosa não resistiu à doença e faleceu após seguidas paradas cardíacas, conforme a matéria do G1.
Até essa segunda-feira (5), o estado registrou, no total, 1.298 mortos pela Covid-19, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre). São 71.330 infectados desde o início da pandemia. Nos cinco primeiros dias de abril já são 36 mortes pela doença. Em todo o mês de abril no ano passado foram 19 óbitos pela doença.
Após um ano da morte da mãe, Ilcimar Holanda não entra mais na casa onde Antônia Holanda morava. Ele conta que passa em frente à residência todos os dias, mas não tem coragem de entrar porque, segundo ele, tudo lembra a mãe.
“Mudou muito, principalmente para mim, que passa de manhã cedo por lá, de noite. Depois disso, nunca mais fui na casa dela, passo na frente, mas não entro. Tudo lá lembra ela. Minha irmã mora lá. Nunca mais entrei lá, era muito apegado, tomava café com ela, às vezes almoçava, jantava. Antes do trabalho eu ia lá, no intervalo do trabalho ia lá, e após o trabalho também”, recordou.
Segundo ele, a dor de perder a mãe que tanto admirava não cicatrizou e ele teve outra grande perda recentemente. Há 20 dias, ele perdeu uma irmã que morava em Porto Velho (RO) também para a Covid-19 e há dez dias o cunhado, que morava em Rio Branco.
“Temos um grupo aqui, mas ninguém comentou ainda, ninguém assimilou ainda. Além da mãe, teve minha irmã, cunhado e a dor vai acumulando. Depois dela [mãe] me internei e fiquei 11 dias n o hospital. Foi um mês depois dela”, lamentou.
Colapso da Saúde
Com o sistema de saúde do Acre em colapso, o governo precisou transferir pacientes para a cidade de Manaus (AM). O estado também chegou a passar pelo susto de uma possível falta de oxigênio nas unidades de saúde. O estado vive, desde o início de 2021, uma situação complicada em relação à Covid-19.
Com os leitos de UTIs lotados, os pacientes esperam em filas para conseguir se internar tanto em unidades de saúde públicas quanto particulares. Nessa segunda (5), o Comitê de Acompanhamento Especial da Covid-19 manteve o Acre na faixa de emergência, representada pela cor vermelha, e segue com as medidas restritivas para tentar conter o avanço da doença.
O mês de março foi o pior em relação a mortes desde quando o estado teve o primeiro caso da doença. Foram, no total, 264 mortes pela Covid-19. Abril iniciou também com o recorde de casos, foram 864 novos casos em apenas 24 horas de infecção pelo novo coronavírus.
O G1 reuniu algumas histórias de repercussão desde que houve o primeiro óbito pela doença.
Vítimas da Covid-19 no AC
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Francisco Rodson dos Santos Souza, 51 anos
O pastor Francisco Rodson dos Santos Souza, de 51 anos, foi internado antes do filho e morreu no dia 3 de março. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into) desde o dia 21 de fevereiro. A esposa Orquídea Souza, de 49, também contraiu a doença, mas conseguiu se recuperar.
No dia em que recebeu alta, após passar uma semana internado por causa da Covid-19, Tallison Bernardo Craveiro de Souza, de 24 anos, soube que o pai, havia perdido a luta para a doença. “O melhor dia da minha vida, foi o pior dia. Fui entender as coisas quando fui dormir, deitei e imaginei que não tenho mais pai. Estou digerindo pouco a pouco, são as pequenas coisas que são mais difíceis.”
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Morcina Maria, 68 anos, e José Barbosa, 71
Um exemplo de respeito, amor, companheirismo, cuidado e união. O casal de aposentados Morcina Maria Barroso da Costa, de 68 anos, e José Barbosa da Costa, de 71, não se desgrudava em nenhum momento ao longo dos 48 anos de casamento. No dia 15 de março, os dois foram diagnosticados com Covid-19 e internados no Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul, interior do Acre.
No dia 25, Morcina não resistiu e morreu vítima da doença. Mais de 24 horas depois, na noite de 26 de março, José Barbosa também faleceu em decorrência da Covid-19. A filha, Janaína Negreiros, disse que os pais não conseguiriam viver longe um do outro. “Era uma coisa sobrenatural o amor, a união e fé deles. Perante todo mundo, inclusive os filhos, eram exemplo de um casal que vivia bem, que se amava, falava da fé e um sempre cuidando do outro.”
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Simonete Paiva, 40 anos
A agente comunitária de saúde Simonete Ribeiro de Paiva, de 40 anos, morreu com Covid-19 após um parto de emergência na noite do dia 20 de janeiro no Into-AC. Simonete estava no sexto mês de gestação do terceiro filho, teve complicações devido à doença e precisou ser submetida a uma cirurgia para a retirada da criança. O bebê sobreviveu.
O marido de Simonete disse que o agricultor Roberto dos Santos Silva, de 40 anos, disse que a agente tinha medo de ser contaminada pela doença e não resistir. “Por causa do histórico dela de DPCO, ela tinha medo. Na última vez que me ligou, pediu para eu cuidar dos meninos e aí pegaram o telefone dela. No outro dia já morreu.”
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Bernardo Teixeira da Costa, um ano
Bernardo Teixeira da Costa, de um ano, morreu no dia 3 de janeiro, no Pronto Socorro de Rio Branco. Abalada, quando falou ao G1, a mãe de Bernardo, Luzia Barbosa, de 23 anos, não lembrava a data de quando o filho tinha começado a sentir os sintomas. Mas, ela contou que o bebê já sofria há pelo menos 10 dias e nesse período teve apenas o diagnóstico de dengue.
“Era meu único filho. Foi planejado, amado, era muito bem cuidado. É uma dor inexplicável. Só vazio, saudade e a fé de superar. Para mim, criança era imune a essa doença. Meu maior sonho era comprar um caderno para meu filho e ir deixar ele na escola, de ver ele estudando, ver crescer, ter uma família, fazer uma faculdade.”
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Jorge Araken Faria da Silva, 84 anos
O desembargador aposentado Jorge Araken Faria da Silva morreu no dia 12 de dezembro de 2020, aos 84 anos. Ele estava internado no Hospital Santa Juliana, em Rio Branco, com Covid-19. Por causa de complicações da doença, o desembargador estava em uma UTI. Em nota, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Acre (TJ-AC), desembargador Francisco Djalma, comunicou o falecimento do colega e decretou luto oficial de três dias.
“Conhecido por seu compromisso e trabalho com legalidade no âmbito jurídico e acadêmico, suas histórias e inteligência, sua garra e luta por conquistas, o desembargador Jorge Araken deixa uma trajetória marcada pelo servir, missão que exerceu com respeito e dignidade, honrando o direito público.”
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Patydan Castro, 34 anos
Após 18 dias lutando pela vida no PS de Rio Branco, a acadêmica de psicologia Patydan Castro, de 34 anos, que perdeu o bebê após um parto induzido por conta da Covid-19, não resistiu às sequelas da doença e morreu na noite do dia 6 de junho de 2020 em uma UTI da unidade.
Na época, o marido de Patydan, o médico Raimundo Castro, lembrou de como ela era e disse que vai deixar saudade. “A Paty é um exemplo de mãe, uma menina de ouro, sonhadora, que estava fazendo curso de psicologia porque gostava. A gente tinha mais de 10 anos de casados, ela se foi com 34 anos, pela vontade de Deus, vai deixar muita saudade.”
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Michel Monteiro Freitas, 46 anos
Policiais militares se reuniram na manhã do dia 31 de maio de 2020, em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do segundo Distrito de Rio Branco, para homenagear o sargento Michel Monteiro Freitas, de 46 anos. O militar morreu no dia 30, na emergência da unidade.
“A gente fez uma oração, conduziu até o cemitério, e lá na frente paramos, fizemos um toque de silêncio e as dez pessoas que podiam entrar, entraram, incluindo familiares, comandante da PM e do Batalhão de Operações Especiais (Bope) porque ele foi um dos fundadores da COE”, contou o comandante da PM, coronel Ulysses Araújo sobre a homenagem.
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Peregrino José de Lima, 53 anos
Aos 53 anos, Guino, como era carinhosamente chamado por toda a família, vendia saúde. Policial rodoviário federal há 26 anos, Peregrino José de Lima é lembrado como um cara alto astral, proativo e humano. Ele começou a sentir os sintomas da Covid-19 no dia 10 de dezembro de 2020 e morreu em 3 de janeiro de 2021, após falência múltipla dos órgãos devido à doença.
A irmã dele, Silzete Lima, conta que o vírus se apresentou agressivo no organismo do irmão. “Reclamava de uma dor lombar, porque ele estava isolado, dormindo em outra cama, mas não sentiu falta de ar em nenhum momento. Do dia 15 [de dezembro] pra cá, a gente não conseguiu que ele melhorasse para tirar ele daqui.”
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Giliard Silva Souza, 39 anos
“Amo vocês, família. Daqui três dias eu estou saindo daqui”. Esta foi a última conversa do advogado Giliard Silva Souza, de 39 anos, que morreu no dia 13 de fevereiro deste ano, no Hospital Santa Juliana, onde estava internado com Covid-19.
Antes de ser internado na UTI do hospital, o advogado falou ao irmão Isaac Silva sobre a expectativa de sair em três dias. Mas, no dia 10, ele teve um aneurisma cerebral, com um coágulo na parte posterior da cabeça, onde não era possível fazer cirurgia, e morreu. “Vai fazer muita falta. Saudades. Esperamos que Deus nos dê o consolo. Fiquei com ele até o fim e disse que estaria com ele até o fim dessa guerra e que iríamos ganhar.”
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Adjorge do Nascimento, 54 anos, e o filho, Cristiano Silva, de 33
O sargento da reserva Adjorge Freitas do Nascimento, de 54 anos, adorava viajar e reunir a família em casa. O companheiro de aventuras era o filho e motorista de ônibus Cristiano Silva do Nascimento, de 33, que sempre fez questão de levar o pai para onde fosse. Em um período de uma semana, os planos de uma próxima viagem juntos foram interrompidos pela Covid-19. Pai e filho morreram no Into, onde estavam internados na capital acreana.
Cristiano Silva não resistiu à doença e morreu no dia 22 de junho de 2020. Já o sargento faleceu no dia 29 do mesmo mês. Pai e filho eram muito unidos, quase inseparáveis, moravam juntos na Comunidade Liberdade, na BR-364.
“Eram muito apegados, unidos. Eles moravam juntos, acabaram pegando. Adjorge não sabia que o filho estava internado. Ele estava internado esperando o resultado do exame, mas passou mal e foi entubado. A gente acha que ele sentiu, os dois eram muito unidos” disse a nora do sargento, Ivaneide Rodrigues do Nascimento.