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A hora era ontem, mas continua sendo agora

Queimadas, secas, temperaturas recordes… fenômenos que castigam paisagens, seres humanos, o planeta. Nas últimas semanas a fumaça voltou a cobrir as cidades brasileiras, resultado das intensas e vastas queimadas pelo país. Agosto foi o mês mais quente da história e também o pior dentro dos últimos 14 anos em número de queimadas. Oficialmente, foram 68.635 ocorrências. E de quem é a culpa? Quem tem se omitido? Perguntas como essa ficam para trás na medida que todos têm um papel a cumprir.

Neste sentido, no dia 29 de agosto último, mais de 50 empresários e economistas do país assinaram uma carta firmando o compromisso de suas empresas ajudarem os Três Poderes do Brasil em busca de soluções para a crise climática. A iniciativa foi chamada de “Pacto Econômico com a Natureza”. No documento os empresários pedem o diálogo aberto, com a finalidade de trabalhar o desenvolvimento econômico sustentável no Brasil sem o esgotamento do meio ambiente.

Vale lembrar que a iniciativa reforça o que ocorreu lá atrás, em 2000, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou o Pacto Global, convidando empresas de todo o mundo a alinharem suas operações a ações que façam a diferença no mundo. Entre as áreas-foco estava o meio ambiente.

Além dos eventos climáticos que vêm acontecendo fortemente no país, a realização da COP em 2025 no Brasil impulsionou a carta. Dentro dela estão trechos como: “Não temos à mão fórmulas prontas, soluções fáceis. Mas, como cidadãos perplexos com o impacto socioeconômico dos eventos extremos e com o despreparo da nossa nação, manifestamos aqui nosso compromisso de buscar as saídas em conjunto com toda a sociedade” e “Não é justo, porém, empurrar todo o ônus para o Poder Público. E não é produtivo gastar tempo apontando culpados, caçando bruxas. Todos os brasileiros temos a responsabilidade de transformar a dor em esperança e de repensar hábitos e processos”. E também: “Entendemos que cabe à iniciativa privada acelerar a adaptação da nossa economia à nova realidade do clima”.

O posicionamento destes empresários e economistas reforça a importância da adesão à agenda ESG – sigla para ambiental, social e governança, em inglês. A iniciativa privada pode ajudar a reduzir as emissões de carbono através da adoção de fontes de energia renováveis, com o crédito de carbono, com o investimento em eficiência energética e com práticas de gestão de resíduos mais eficazes.

Desta forma, mais do que nunca é preciso fortalecer o apelo ao coletivo empresarial pelo caminho do ESG. Nem governos, nem ONGs, nem empresas isoladas, nem indivíduos podem mudar qualquer cenário sozinhos.

E assim como o Pacto Global convidou CEOs de todo o mundo para que trabalhassem com compromissos sustentáveis tangíveis, o Brasil precisa agora aproveitar a disposição destes empresários para a partilha de responsabilidades em todos os âmbitos da esfera governamental e setor privado. Isso implica na atualização de códigos e legislações que amarrem compromissos a serem cumpridos desde o início da cadeia de produção até o retorno de materiais na logística reversa, por exemplo. Economia circular pura, amarrada em legislações para toda a cadeia de valor – é a  resposta mais direta e participativa para o combate aos desafios ambientais.

O setor público, cuja responsabilidade de proteção ao meio ambiental está prevista inclusive na Constituição Federal, começa a dar tímidos passos no ESG. Mas a jornada ainda é longa. Ranking prévio divulgado pelo Centro de Liderança Pública (CLP), no fim de agosto, em parceria com a Gove e a Seall – um primeiro estudo sobre o desempenho dos municípios brasileiros nos critérios ESG e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, mostra que além do Sul e Sudeste, há muito a se caminhar no país nos pilares ESG. Entre 411 municípios brasileiros avaliados, no Norte do Brasil, a melhor colocação é de Palmas, no Tocantins, na posição 96.

O diálogo aberto solicitado pelos empresários em carta é uma mostra de como expectativas, projetos e compromissos precisam de transparência e efetividade para que possam ser construídos, saindo-se da utopia para ações concretas e práticas.

Por Elendrea Cavalcante, Comunicóloga @elendrea.esg

Jornalista, com especialização em ESG e Sustentabilidade Corporativa e também em Comunicação Empresarial e Marketing. Possui mais de 20 anos de atuação no mercado de Comunicação, com ampla experiência em jornais, agências e setor público. Foi subsecretária de Comunicação do município de Manaus, onde também atuou em outros cargos de gestão. As experiências acumuladas no serviço público e no campo corporativo levaram-lhe à paixão pelo ESG, associando-o à Comunicação.

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