A pesquisadora Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), liderou um estudo publicado na revista Nature o qual mostrou que algumas áreas da floresta amazônica já emitem mais dióxido de carbono do que absorvem. A pesquisa foi publicada pouco mais de um mês antes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU) publicar um relatório apontando que o planeta ficará 1,5º Celsius mais quente até 2040, dez anos antes do previsto.
Em entrevista ao Estadão, Luciana avaliou os resultados do IPCC na última década. A constatação de que a cada ano o nível de absorção de carbono pela Amazônia diminuía fez a pesquisadora ser clinicamente diagnosticada com depressão, em 2016.
“Quando digo que a Amazônia está emitindo mais do que absorvendo, não falo só da floresta, mas de tudo o que está acontecendo lá. Quem está emitindo são desmatamento e queimadas. As emissões dessas duas são três vezes maiores que a absorção que a floresta está fazendo. A Amazônia ainda remove carbono da atmosfera, mas muito menos do que se acreditava”, afirmou.
Durante a pesquisa, Luciana descobriu que áreas mais desmatadas sofreram uma maior mudança na chuva e na temperatura, principalmente na estação seca, entre agosto e outubro.
“(…) você pega Santarém com 37% de desmatamento, até na média anual essa região perdeu 9% de chuva. Só que em agosto, setembro e outubro perdeu 34% de chuva. Um terço de chuva a menos ao longo de 40 anos. E aumentou 1,9ºC a temperatura.”
Para a pesquisadora, é preciso proibir as queimadas e o desmatamento até o ano que vem para a Amazônia remover mais carbono do que emitir. Outra sugestão são projetos de reflorestamento em áreas como a parte leste da Amazônia, que tem, em média, 30% de área desmatada.
*Com informações de Estadão